Estimulado pela temática do último artigo, que falava da anatomia do peixe ósseo, que me foi movido por uma questão sobre se os peixes sentiriam dor ou não, trouxe mais este assunto aqui, que acho interessante falar. Admiramos os peixes e somos atraídos por suas cores, mas eles as enxergam? O que você acha?

A grande maioria dos vertebrados enxerga cor, mas muitos com algumas diferenças. Por exemplo, os gatos, por terem apenas dois tipos de células fotorreceptoras (nós possuímos três), enxergam uma combinação limitada de tons. E como seria isso nos nossos peixes? E o que veremos a seguir…bora lá!

A luz e a visão nos peixes

Não só nos peixes, mas também em outros vertebrados a visão começa com os fotorreceptores (que neste contexto biológico são células especializadas): 1) os bastonetes, para atuar em condições de pouca luz e 2) os cones, para trabalhar a luz intensa. Tais células, por sua vez, contêm pigmentos visuais, compostos por uma proteína chamada opsina e um cromóforo (ou cromatócito, derivado da vitamina A – viu como essa vitamina faz bem pra vista?). A combinação da opsina com o cromóforo estabelece o comprimento de onda da luz que o pigmento absorve.

Muito nomezinho né? Vamos começar a decifrar. Primeiro vamos ver como é a luz. Luz, de modo bem rudimentar para se definir, seria o que estimula os pigmentos num olho a poder levar ao cérebro uma interpretação, isso seria o que classificamos como luz visível. Essa luz visível (ilustrada na imagem abaixo) está numa pequena parte do chamado espectro eletromagnético (a maneira de medir e qualificar), onde estão inclusas também as ondas que não conseguimos ver, como ultravioleta (ondas muito curtas) e infravermelho (ondas muito longas) – e outras como ondas de rádio (muito mais longas) e o raio-X (muito mais curtas).

Agora, entendendo um pouco sobre a estrutura do olho e da luz, vamos precisar apenas de aprofundar um “cadim mais” no funcionamento do sistema visual dos peixes. Sem adentrar muito em mais nomes, é importante saber que há cinco classes ancestrais de opsinas nos vertebrados (numeradas a seguir), sendo quatro de cone (comprimentos de onda curtos – números de 1 a 4) e uma de bastonete (comprimentos de onda longos – número 5), dando sensibilidade para 1) ultravioleta, 2) violeta-azul, 3) vermelho, amarelo e verde, 4) verde e 5) azul e verde, mas esta aqui é para conferir a visão na luminosidade baixa e na visão periférica. E daí? E nos peixes? É agora que eu explico, juro.

Dos 5 tipos aí, as espécies de peixes não possuem todos eles atuantes de uma só vez, mas sim uma combinação, sendo que a maioria tem 3 sensibilidades espectrais (tricromática). Como curiosidade, frente às mutações e outros processos, há no genoma de algumas espécies muitos tipos diferentes e em maiores quantidades, tal qual um repertório bem mais vasto, mas que na funcionalidade prática do dia a dia, acaba se limitando à média dos demais (2 a 4); não se sabe exatamente o porquê, mas provavelmente é para que estejam prontos a responder à complexidade dos desafios do ambiente que vivem.

Então funciona assim: essa luz que vimos na imagem anterior entra no olho do peixe – cuja anatomia não vou expandir para não ficar tão denso o texto – atinge as células especializadas, que criam uma reação eletroquímica para comunicar ao cérebro a informação e obter a “resposta” adequada do peixe.

Par entender o que “resposta” ao estímulo significa, discrimino aqui alguns exemplos, dentre os mais significativos: identificar o alimento, fugir do predador, encontrar o parceiro, escolher o ambiente, mostrar agressividade ou submissão, escolher bem as cores para camuflar e por aí vai.

Então, a leitura até aqui já responde tecnicamente à pergunta inicial, cuja resposta é “sim, peixes enxergam cores”, mas não como nós. A tal combinação mencionada tende a corresponder ao ambiente de luz a que o peixe está inserido (onde evoluiu) e em relação a sua fase de vida.

Não é à toa que aquaristas experientes recomendam uma boa iluminação no aquário. Boa iluminação serve tanto para crescer plantas saudáveis e ver os peixes que temos, como para que o seu amigo aquático possa também valer-se dessa maravilha da evolução, que é a visão colorida. Pense nisso!

Agradeço a leitura, desejando que o artigo tenha trazido algo de útil para o hobby. Vejo você no próximo, até lá!

Carrinho

Topo