Este pode, para alguns, até parecer um tema polêmico, mas no sentido de manter um peixe saudável, com longevidade otimizada, não há o que se dizer além de: compre boas rações!

É super entendível que às vezes o dinheiro falta, sendo a única opção comprar o que houver de mais barato. Porém, “às vezes” não deveria ser “sempre”, nem equivaler a um “tanto faz a ração”. Menos interessante ainda seria substituir rações industrializadas, feitas por empresas responsáveis, por alimentos pobres em nutrientes, como pão. 

Hoje falaremos de rações para peixes ornamentais que existem no mercado. Este artigo, porém, não intenta indicar marcas específicas ou descreditar outras, mas apenas trazer um ponto base do aquarismo responsável, no quesito da saúde: peixe saudável adoece menos e vive mais (dando mais satisfação ao hobbista). Se você conhece pessoas que acham que peixes comendo migalha de pão “é melhor que gastar dinheiro com ração”, então, peço que recomende a elas lerem este texto, ao menos, duas vezes, para ver se alguma delas muda a reflexão sobre o tema. 😊 

 

Nutrição de um peixe

Peixes são organismos vertebrados completinhos: crescem, têm sistema nervoso, sistema digestivo, adoecem, ganham cores, envelhecem, enxergam, ouvem, sentem “cheiros”, ou seja, tal como outros seres precisam de inúmeros elementos químicos e seus compostos, orgânicos e inorgânicos, para alimentarem e construírem seus sistemas e ficarem plenos. E plenitude é um dos objetivos-mestres que um aquarista busca para seus adorados pets, no caso, os peixes ornamentais e demais organismos em seu aquário ou aquaterrário. 

Quando vamos falar de nutrição, precisamos lembrar de todos os artigos que já lemos aqui e pensar na quantidade de peixes distintos que temos: ciclídeos, tetras, bettas, kinguios, cascudos etc. e, nesse mundo de diferenças, pensar sobre as exigências de cada um e avaliar o que podemos e como podemos atender a isso, já que os mantemos sob custódia em nossos aquas. Esse balanço nutricional estaria associado ao fornecimento de energia, proteínas (animal e vegetal), sais minerais, elementos químicos, lipídios (compostos orgânicos insolúveis em água), vitaminas e fibras.

E como o aquarista faria isso? Elaborando perguntas sobre o que ele tem em seu aquário. Por exemplo: o peixe que tenho é carnívoro, herbívoro ou onívoro? R: carnívoro. Então precisamos de mais proteína animal na ração. R: Herbívoro. Então a base deve ser vegetal. Mas a história não se limita a isso. Como adiantado, qualquer organismo vivo precisa ter como absorver e produzir energia, e isso eu já explico a seguir, mas para já começar a entender você deve se lembrar da sua mãe (um poço de sabedoria) pedindo para você comer salada no almoço e frutas frescas.

Se falarmos de vitaminas, precisamos saber que estas são fundamentais por realizarem ou garantirem (catalisadores) que certas reações químicas vitais ocorrem no organismo, economizando energia. 

No caso dos lipídios, que embora sejam muitas vezes atribuídos a gorduras, adianto que são muito mais que isso, eles são os responsáveis por armazenar e fornecer de energia para o corpo, bem como pela síntese de hormônios, constituição das membranas celulares e transporte de vitaminas lipossolúveis. Têm a mesma função dos carboidratos, ou seja, fornecer energia para as atividades metabólicas. Os principais tipos de lipídios incluem os carotenóides, triglicerídeos, esteróides e fosfolipídios – nomes que você já ouviu. Para entender um lipídio, em forma bem resumida, saiba que são compostos orgânicos insolúveis em água.

Sais minerais, por sua vez, são tanto partes estruturantes de órgãos, músculos ou ossos, componentes de hormônios ou enzimas, como eletrólitos presentes nos líquidos corporais, que permitem a transmissão de impulsos nervosos e atuação direta na respiração celular e regulação de fluidos.

“Se eu não souber isso, se não souber avaliar, adquirir e medir cada coisa dessas, não posso ter peixes?” A boa notícia é que as marcas especializadas já fizeram esse papel, estudando ao longo de anos de pesquisas, o que é necessário e quanto precisa de cada item para ter peixes mais saudáveis. Aí estão as rações industrializadas e sua importância. 

Hoje as rações estão classificadas – no caso da água doce – para ciclídeos jumbo ou anões, carnívoros, onívoros, herbívoros, bettas, kinguios, carpas, aquários comunitários, cascudos (peixes de fundo) – se eu esqueci algo peço perdão, mas queria mesmo era dizer que temos ração para tudo que se imagina. 

Como identificamos nutrição nas rações?

“Fácil! Pego o rótulo e leio!” Olha, pode até ser, mas nem todos os potes trazem a informação completa e muitas vezes tem uns nomezinhos ali que, Deus me livre, é necessário ir atrás para entender exatamente. Juro, eu já passei por isso: ler e boiar como ração para carpas. Mas aqui eu tento explicar alguns dos nomes mais difíceis.

Além das farinhas, óleos e proteínas discriminadas nos rótulos, no aprofundamento mais técnico, ou mesmo nas descrições mais extensas nos sites dos produtos, encontramos coisas do tipo (do mais comum aos nossos ouvidos aos mais estranhos):

  • Betacaroteno: é um pigmento natural (carotenoide) e uma das fontes de obtenção (indireta) da vitamina A. É uma das fontes de corante nas rações, fornecendo a pigmentação “quente” (laranjas).
  • Spirulina: é um tipo de cianobactéria, muitas vezes referido como alga azul-verde, bastante utilizada como suplemento alimentar (mesmo em humanos), contendo proteínas, vitaminas, aminoácidos, minerais e ácidos graxos, entre outros. É a base de muitas rações para peixes herbívoros.
  • Prebióticos: componentes alimentares fibrosos não-digeríveis que servem para a proliferação de bactérias benéficas no intestino.
  • Imunoestimulantes: substâncias que estimulam ou restauram a habilidade de um sistema de imunização a combater infecções.
  • Extrato etéreo: menos etéreo que o nome é o significado. É basicamente uma forma de determinar o percentual de gordura ou lipídios no alimento, tem uma relação com a energia disponível. Como já vimos, lipídios são importantíssimos na dieta!
  • Sorbitol: é um uma espécie de adoçante pouco calórico encontrado em muitos produtos alimentícios, servindo também para umedecer e texturizar a comida.

É comum também vermos a discriminação de elementos essenciais na dieta, como fósforo, cálcio, ferro e outros que ouvimos menos, mas que também são importantes, como manganês, zinco ou iodo.  

Há que se acrescentar que muitas rações possuem colorantes, os quais muitas vezes estão ali para incrementar a colocação dos peixes, e não só da ração em si. 

Além da nutrição, como deve ser uma boa ração?

Embora eu esteja aqui itemizando qualidades, preciso lembrar que saber como ministrar a ração aos peixes também conta: duas ou mais vezes ao dia, em quantidades suficientes para serem comidas em alguns minutos. Também importa saber: 1) o tipo de alimento que aquele peixe precisa; 2) onde os peixes se alimentam: superfície, meia água ou fundo; e 3) se preferem grãos ou flocos, por exemplo. 

Relembrado isso, vamos lá ver como deve ser essa ração (além do mais importante: itens nutricionais balanceados):

  1. Ingredientes de qualidade. 
  2. Palatável (gostinho bom). 
  3. Alta digestibilidade (permite melhor absorção dos nutrientes e resulta em menor quantidade de resíduos na água).
  4. Flutuação ou submersão (adequada ao tipo de peixes mantidos, deve boiar ou afundar rápida ou lentamente).
  5. Forma e dimensão do produto (bits, pellets, flocos, pastilha ou crisps [sinonímia para bits], os quais devem ter a dimensão e a textura adequadas para o seu propósito: tipo de peixe)

Dicas para adquirir

Você pode estar se perguntando como acertar na hora de comprar uma ração. Assim, vou tentar ajudar:

  1. Marcas conhecidas: não vale a pena arriscar, as boas marcas estão nas lojas especializadas, mas já adianto que não precisa ser uma marca importada.
  2. Própria para o tipo de peixe: lembre como falei antes sobre os paladares de diferentes espécies, compre uma (ou mais de uma) que possa atender todos os organismos do aquário.
  3. Quantidade apropriada: Compre embalagens de tamanho compatível com a demanda do seu aquário. Embalagens abertas vão alterando a integridade do alimento, como a textura, umidade e mesmo sabor. Daí vale a pena ter quantidades que não demore uma vida para acabar.

 

Considerando o que coloquei aqui, quando vamos avaliar o custo-benefício de uma ração, é bem fácil entender que os parâmetros estão bem além do valor + quantidade do pote. Não vale a pena ter uma ração que apenas “encha o bucho” dos seus peixes (e demais seres), ela deve também respeitar seu esforço em manter o aquário salubre, sem prejudicar a qualidade da água e deixando seu peixe mais saudável, para que possa atingir todo seu potencial.

Não é exagero dizer que uma boa ração é tão importante (ou mais) que um bom filtro ou um termostato de confiança. Claro que são considerações distintas demais para se comparar, mas o objetivo é informar que ração não é item supérfluo no aquário, mas sim um dos itens vitais para o sucesso.

Com esta observação, vou encerrando mais um artigo na esperança de ter trazido alguma reflexão positiva para o exercício do aquarismo responsável. Agradeço a leitura e aguardo você no próximo! Até lá! 😊

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