
A temática de nomenclatura é sempre relevante de ser abordada, pois nos dias de hoje há muita variedade de peixes e é bom termos ciência plena do que estamos analisando ou comprando numa loja. Você já se pegou pensando na quantidade de sinonímias que há no mundo dos peixes? Ou quando achamos que o cidadão está falando de um peixe, mas ele está, na verdade, falando de outro absolutamente diferente? Então, é por estas questões que criei o texto de hoje.
O Problema com Nomes Populares
Quando a gente quer identificar um peixe, ter conhecimento apenas de seu nome popular é um problemão, pois os nomes populares (também chamados de vernaculares) podem variar muito de uma região para outra, e um mesmo nome pode se referir a espécies totalmente diferentes. Isso causa confusão e impede a comunicação precisa entre os interessados, de hobbistas a cientistas, até porque não se pode dizer que um nome popular está errado – no máximo, podemos nos referir a tal como “regionalizado”.
- A solução encontrada foi criar os “Nomes Científicos” – créditos a Carl Linnaeus, no século XVIII – que se baseiam num sistema de nomenclatura binomial, sempre em latim e em itálico, que consiste em duas partes:
Gênero, que é escrito com a primeira letra maiúscula. Ex: Poecilia. - Espécie (epíteto específico), que é escrita em minúsculas. Ex: reticulata.
- Pode ser que você encontre no lugar da espécie “sp.” ou “spp.”, que estariam dizendo que não teve como confirmar a identificação. A primeira fala de uma só espécie e a segunda de várias. Então se você vir Poecilia spp. Quer dizer que alguém está falando de várias espécies não identificadas, dentro do gênero Poecilia.
A ideia central do sistema oferece várias vantagens:
- Universalidade: cada espécie tem um nome científico único e reconhecido mundialmente, independentemente do idioma do país.
- Precisão: o nome científico elimina a ambiguidade, ou seja, um Pterophyllum scalare é sempre o mesmo peixe, não importa onde você esteja ou que nome ele receba naquela cidade, criador ou loja.
- Informação sobre Parentesco: a primeira parte do nome (o gênero) agrupa espécies que são evolutivamente próximas.
Quando a gente adentra os estudos dos nomes científicos, vemos que eles são criados a partir de características fisionômicas, de ambiente ou em homenagem a certos autores e personalidades. Assim, temos muita informação adicionada ao nome científico.
Exemplificando a problemática
Hoje em dia há uma infinidade de nomes populares, sejam eles de origem regional ou comercial, os quais por vezes trazem a tentativa de distinguir um peixe diante dos seus semelhantes, mas nem sempre dá certo e é preciso prestar atenção para ver o que se quer dizer com aquele nome.
Por exemplo, se você vir numa etiqueta de venda de peixe ornamental o nome “neon”, o que lhe vem à mente? Nesta abordagem aqui dependerá muito de que aquarismo você pertence (marinho ou doce), do seu conhecimento e experiência no hobby, entre outros. Por que digo isso? Olha só o tanto de neons que podemos ter:
- Tetra-neon (Paracheirodon innesi)
- Neon Cardinal (Paracheirodon axelrodi)
- Neon Verde (Paracheirodon simulans)
- Neon negro (Hyphessobrycon herbertaxelrodi)
- Fire Neon (USA) ou tetra glowlight (Hemigrammus erythrozonus)
- Neon goby (Elacatinus oceanops) – marinho
- Neon Cardinal (peixe de água doce)
- Neon Goby (peixe marinho)
Como observamos são muitos, tanto que dá para notar que todos são “nomes compostos” e ainda assim podem confundir. Lembro que no meu início eu tinha dificuldade de entender a diferença das aparências do neon cardinal do tetra neon…olha só:
E quando o nome vem confundir a gente? Sim, às vezes vem até com informação errada. Por exemplo o Convict, Prisioneiro, Acará do Congo ou Ciclídeo Zebra – sim, todos esses nomes pertencem ao Amatitlania nigrofasciata – é um peixe da América Central, mas uma de suas nomenclaturas populares diz que ele vem do Congo (país africano) – foi a brincadeira da imagem inicial, em que usei as bandeiras da Costa Rica e da República Democrática do Congo para vesti-los. Há também o caso do “Zebrinha” (Tilapia bittikoferi), cujo nome no diminutivo pode levar o aquarista a comprar como um bom peixe para um aqua comunitário, todavia, é um peixe muito agressivo e de grande porte – sem falar do fato de que zebra pode ser um cascudo (Hypancistrus zebra), o convict que falamos, um ciclídeo de Malawi (Maylandia zebra), o paulistinha (Danio rerio) e sei lá mais quantos.
E quando se fala Angelfish (traduzido: peixe-anjo)? Pelo nome popular podemos estar falando de acarás-bandeira Pterophyllum spp. ou peixes marinhos da família Pomacantidae.
- os angelfish Acará-bandeira (Pterophyllum scalare)
- Paru (Pomachantus paru – família Pomacantidae).
Bagunça um pouco, né? E não para aí, encontramos nomes ainda mais abrangentes como:
- “Tetra” – centenas de pequenos caracídeos, das Américas e da África também, como: Neon Negro (Hyphessobrycon herbertaxelrodi), Mato-Grosso (Hyphessobrycon eques), rosáceo, tetra imperador (Nematobrycon palmeri), Niger tetra (Arnoldichthys spilopterus) e por aí vai
- “Acará” – a única coisa que parece em comum é que todos são Ciclídeos, mas olha só a quantidade de possibilidades: Acará do Congo (Amatitlania nigrofasciata), Acará-Bandeira (Pterophyllum spp.), Acará-Disco (Symphysodon spp.), Acará festivo (Mesonauta festivus), Acará diadema (Aequidens diadema), Acará (Geophagus spp.) etc.
Enfim, a ideia era mostrar a importância de se ter alguma sistemática, mundialmente reconhecida, que nos permita individualizarmos os peixes quando precisamos pesquisar e descobrir informações sobre uma determinada espécie, sem erro.
Embora os nomes populares sempre estejam conosco, e continuarão, sem necessidade alguma de que sejam malvistos, é importante lembrar que para firmarmos o conhecimento técnico, precisaremos também conhecer os nomes científicos. Procure as fontes informação confiável, como este blog, e use-as para se aprofundar no aquarismo, não se deixe levar apenas pelas vitrines e conversas de balcão de loja.
E vamo que vamo, obrigado pela leitura! Nos vemos no próximo artigo, o qual já já estará aí! Até lá!

Com Bravo de Bravura, e não de Braveza, Johnny Bravo (João Luís), escreve para revistas especializadas e para o blog da Sarlo há um cadim de tempo. Nessa jornada Julioverniana, após 20 Mil Léguas de textos, agora ele também desenvolve os roteiros para os vídeos de chamada do Sarlocast, onde você pode ouvir a sensual voz desse aquaman (tradução: homem de aquários).