Voltamos à exploração da família Poeciliidae (dos guppies, platis e espadinhas), agora para falar das molinésias (ou Molly, em inglês). Elas também pertencem ao mesmo gênero do guppy (Poecilia) e isso pode confundir algumas mentes que leem isso. “Então, o que diferiria uma molinésia de um guppy?”, você pode estar se perguntando. Há muitas diferenças! Algumas são tão óbvias que se torna inútil falar aqui, pois as mollies costumam ser – especialmente nas versões comerciais – muito diferentes de quaisquer outros poecilídeos. Olhe algumas, dentre as mais comuns e veja como não dá pra confundir:

Não dá pra confundir, não é mesmo? Entretanto, como vimos para guppies, espadinhas e platis, o termo “molinésia” envolve mais de uma espécie. Segundo registro em Pimenta. P.C. at alli (2024), são cerca de 15 espécies, identificadas dentro subgênero Mollienesia, o que as diferiria dos demais relacionados ao gênero Poecilia. As mais conhecidas possivelmente são a Molly Preta (Poecilia sphenops), a P. latipinna e a P. velifera. Ainda assim, não me atreverei a querer identificar espécies, por serem algumas definidas apenas nos detalhes, mas colocarei figuras indicativas, já considerando variedades comerciais, uma vez que as selvagens por vezes são distintas demais do que conhecemos e há misturas na fabricação das variedades.

Assim, as espécies abaixo foram feitas a partir de IA para: 1) uma Poecilia velifera, Molinésia Velífera ou Sailfin (nadadeira de vela), cujo distintivo é a imensa nadadeira dorsal (= vela) e 2) a P. latipinna, que também pode apresentar grande “vela” e também pode ser chamada de Sailfin, assim como padrões de cor parecidos (ainda assim, puxarei na referência seguinte uma variedade de P. latipinna, que em nada se parece com a velífera para vermos as diferenças) e 3) a tradicional molly negra (P. sphenops).

Para diferenciar machos e fêmeas, o melhor desígnio é o gonopódio do macho (nadadeira anal modificada – que eu fiz o meu melhor nas artes para tentar mostrar), mas podemos encontrar dorsais maiores em alguns exemplos e, no geral, fêmeas são maiores que machos.

O que tem de especial nas molinésias?

Fora o fato de serem lindas e pacíficas? Bem, há algumas curiosidades sobre elas. A maioria das molinésias é considerada eurialina, ou seja, possuem tolerância a diferentes graus de salinidade, devido a uma adaptação fisiológica notável que lhes permite regular a osmorregulação (= entrada e saída de elementos químicos dos fluídos corpóreos). Existem casos de mollies vivendo em água salgada costeira ou hipersalina (salinidades maiores que a água do mar).

Exemplificando isso, conto que a espécie Poecilia vandepolli, nativa das ilhas de Aruba, Bonaire e Curaçao, localizadas no mar do Caribe, perto da América do Sul, habita águas doces, salobras, salgadas e hipersalinas. Os indivíduos “variam significativamente em tamanho e cor, dependendo principalmente da salinidade do seu ambiente. Os exemplares de água salgada crescem mais rápido e tornam-se mais robustos e coloridos, mas a espécie é atraída pelos habitats de água doce, que desaparecem a cada estação seca e precisam ser recolonizados quando as chuvas retornam” – ressalva se faz no ambiente hipersalino, onde o crescimento é lento. No quesito alimentação, acredita-se que a herbivoria tenha surgido no processo evolutivo de colonização dos espaços marinhos e salobros; reporta-se canibalismo sobre alevinos e indivíduos diminutos, quando se identifica escassez de alimento (fonte Wikipedia). Aproveito a oportunidade para dizer que para alimentar uma molly não precisa pensar nisso aí, basta procurar rações balanceadas e, por vezes, oferecer suplementos vegetais.

Abaixo estão as espécies de molinésias mencionadas e uma descrição geral de seus habitats, incluindo salinidade:

Molinésia Descrição do Habitat
Molinésia Latipina


(Poecilia latipinna)

Encontrada em habitats de água doce, salobra e marinha costeira. É uma espécie altamente eurialina, ocorrendo desde condições de água doce até hipersalinas (95 ppt). pH de 7.0 a 8.6; Temp. de 20 a 28°C.
Molinésia Velífera


(Poecilia velifera)

Semelhante à P. latipinna, habita águas costeiras que variam de salobras a salinas, embora também possa ser encontrada em água doce. pH de 7.0 a 8.5; Temp. de 25 a 28°C.
Molinésia comum


(Poecilia sphenops)

Ocorre em uma variedade de habitats em seu ambiente nativo, principalmente em riachos de
água doce, mas com tolerância a condições ligeiramente salobras e, ocasionalmente, próxima ao mar. pH de 7.5 a 8.2; Temp. de 25 a 28°C.

Nesta discussão de salinidade em aquas de molinésias, há muitos que consideram desnecessário. Para decidir sobre isso, além de ler bastante, pense em coisas do tipo: como são peixes que não são coletados do ambiente natural, e sim criados, será que o criador usava água salobra? Há uma grande probabilidade de que não. Uma vantagem do sal que posso dizer é que alguns parasitas não suportam qualquer salinidade; uma desvantagem é que diversas plantas também não aguentam. De toda forma, no geral, elas gostam é de água mais dura e alcalina, onde eu sugeriria pH em 8.0 e temperatura em 25-28ºC.
“Se eu quiser, basta tacar sal no aquário, então?” Não. Quanto ao sal no aquário, lembro que devem ser sais próprios, nada de sal de cozinha na água, ok?

E só para terminar, trazendo mais uma curiosidade, ainda no que tange características adaptativas das mollies, o artigo de Tobler et al. (2008), menciona nascentes no Estado de Tabasco, no México, que contêm altas concentrações de sulfeto de hidrogênio (H₂S) – um gás incolor, tóxico, corrosivo e inflamável, com um delicioso fedor de ovo podre, que é tóxico para a maioria dos peixes. Porém, a molly Poecilia sulphuraria é uma das únicas duas espécies que habita tal ecossistema (ela e outro poecilídeo: Gambusia eurystoma), sendo que áreas adjacentes a essa, sem a atuação do H2S, possuem comunidades de peixes bem mais variadas, mostrando que tal tolerância é o que determina as estruturas populacionais mencionadas. Observe o nome da molinésia. Saiba que o elemento enxofre tem a sigla S na tabela periódica, vindo de do latim “sulphur”, daí o nome do peixe.

E eu sigo incansável em descobrir mais e mais sobre os peixes ornamentais, por mais simples que pareçam, pois sempre tem uma historinha curiosa pra contar. Mollies são simples, simplesmente lindas, e merecem todo nosso carinho. Espero que este artigo tenha trazido algo para acrescentar no seu hobby.

Obrigado pela leitura e até o próximo, que sai já já! 😊

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