
Corydoras são os adoráveis peixinhos “limpadores de fundo” (já já falarei do porquê das aspas). É um daqueles peixinhos que tem seu nome comum igual ao nome científico, pois o gênero é justamente Corydoras (com esse “s” aí mesmo que parece estar no plural).
Pra quem não sabe são parentes dos cascudos, pois tanto elas como eles pertencem à Ordem Siluriformes: os peixes-gato. As “Corys”, por sua vez, são da família Callichthyidae (leia-se “calictíde”) e, mais especificamente, a subfamília Corydoradinae (tipo a facção das Corydoras, com os gêneros Aspidoras e Corydoras, Scleromystax e Brochis, este último só achei em citações antigas, sequer consta do Fishbase.org – que é minha fonte preferida de consulta, por ser de amplo acesso e de qualidade). Na busca recente que fiz constam cerca de 170 espécies sob o gênero Corydoras, sendo que na família estão ali registradas 215 espécies em 8 gêneros.
Você está lembrando como é uma Cory? Não? Então olha aqui minha arte que mostra como elas são no formato e anatomia externa:
Os peixes da família Callichthyidae estão distribuídos pela América do Sul e parte da América Central – 100% em água doce. Curiosidade: todas as espécies, obrigatoriamente e em quaisquer condições de água, respiram ar da superfície!!! Quem já teve ou tem deve ter ficado curioso quando viu uma delas correndo como uma bala para a superfície, dando uma boqueada e descendo novamente, largando bolhas. Está documentado que graças a retenção de bolhas de ar no intestino, algumas espécies podem atravessar curtas distâncias pela terra! Sensacional, não é mesmo?!
Em termos de reprodução, são citadas duas estratégias básicas para a família. Numa delas, presente na subfamília Callichthyinae (ex: gênero Dianema), são construídos ninhos flutuantes, que misturam espuma e material vegetal. No outro estilo (Corydoradinae), os peixes desovam no substrato, possuindo ovos adesivos.
Como são as Corys nos aquários?
Embora existam mais de duas centenas de espécies, a grande maioria só dentro do gênero Corydoras, há coisas que podemos atribuir à categoria:
- São tidas sempre como espécies pacíficas, ótimas colegas para quaisquer peixes que não sejam agressivos demais;
- Adoram nadar em cardumes: para aquário, sugere-se manter a partir de 4 indivíduos;
- São peixes de fundo em sua maioria, mas não são biodigestoras de lixo e sim onívoras, o que as tornam “boas de boca”. Na natureza alimentam-se de vermes, larvas de insetos, microcrustáceos e tudo aquilo que encontrarem pelo caminho; em aquários onde haja desova de peixes (inclusive a própria), podem ser elas as devoradoras. Dessa forma, cuide das Corys tão bem quanto você cuida dos peixes que nadam na meia água ou na superfície e adquira ração de fundo, como bits ou mesmo tablets.
- Seu jeito comedido para nadar permite que mesmo plantas mais sensíveis cresçam, sem desenraizá-las, assim como são hábeis o suficiente para se embrenhar na vegetação densa à procura de ração que tenha caído por ali;
- Devido ao que consta nos itens 3 e 4 é que digo que não são peixes limpadores, ajudam sim a encontrar ração perdida, não permitindo que apodreça e gere problemas para o aquário, mas sujam igual a qualquer outro peixe.
Por terem este hábito de fuçar o fundo do aquário em busca de comida, o substrato ideal é areia fina, como a de filtro de piscina, por exemplo. Como precisam de lugares para se esconder, plantas e troncos são bem-vindos.
A reprodução desses peixes em aquário é possível e aqui vão algumas dicas:
- Pode demorar alguns anos até uma Cory se tornar madura para reprodução;
- Alimento vivo estimula a reprodução;
- Aquaristas recomendam dois machos para cada fêmea;
- O filtro usado deve ser de espuma, movido por bomba submersa de baixa vazão;
- Trocas de água, entre 50 e 70%, ligeiramente mais fria que a do aquário (tipo simulação da época das chuvas), estimulam as fêmeas ovadas a iniciar o processo de postura dos ovos;
- Algumas espécies requererão água de osmose reversa ou acidificada por meio do contato com turfa para alcançar o ideal para reprodução. Dentre as Corys, diz-se fácil a identificação dos sexos, uma vez que as fêmeas se tornam maiores e mais roliças que os machos… na minha opinião (quando não é óbvio, como o caso de uma fêmea adulta prestes a desovar) é necessário um olho treinado.
Algumas espécies
Corydoras sterbai
Esta magnífica Cory ocorre tanto na Bolívia quanto no Brasil, em pequenos rios e mesmo em áreas inundadas que formam lagoas. Atinge cerca de 6,5cm, curte águas com temperatura entre 24 e 28ºC, o que pode exigir do aquarista a aquisição de um aquecedor. De longe, e para os mais desavisados, pode parecer a Juli, devido ao padrão pontilhado, porém, além do tamanho maior a C. sterbai tem um tom mais castanho e nadadeiras peitoral e pélvicas alaranjadas.
É uma espécie bem apropriada para aquário biótopo, do tipo Amazônico, no qual você pode ornar com folhas mortas, troncos e raízes, deixando aquele aspecto de “chá” para a água (pH entre 6,0 e 7,5) – isto não significa deixar a água deteriorar, as folhas devem ser trocadas periodicamente. No geral, as Corydoras prezam pela água limpa!
Corydoras panda
Chegam a 5cm e possuem um aspecto peculiar, cujo corpo é predominantemente branco, com manchas negras nos olhos, na nadadeira dorsal e no pedúnculo caudal (por isso o nome “panda”).
Encontrada na parte superior da bacia do rio Amazonas, no Peru, frequenta tanto os rios de águas cristalinas quanto os de água negra (pH entre 6,0 e 7,5), com a diferença (em relação à C. sterbai) de estar sempre em águas correntes – em certas épocas do ano, com as chuvas, alguns locais onde é encontrada chega a 20ºC ou menos na água, para aquário, o ideal é em torno de 22 a 25ºC. Observando isso, para esta espécie, convém ter uma bomba submersa melhorzinha tocando o filtro, para que promova maior moção na água.

Corydoras adolfoi
Para olhos menos acostumados, ela é muito parecida com a Corydoras adolfoi, olha só…o que você acha? Compare manchas do dorso, pedúnculo caudal e nadadeira dorsal.
Corydoras julii
Uma das mais simpáticas e conhecidas Corys é a Juli, também encontrada sob o nome “leopardo”, por causa das inúmeras pintas. Sua ocorrência natural vai desde a porção inferior da bacia do rio Amazonas até rios costeiros do nordeste brasileiro. Não são grandes, chegando a 5cm, gostam do pH entre 6,0 e 8,0 e temperatura entre 23 e 25ºC.
Há quem diga que a espécie mais comum no mercado, vendida como C. julii, é na realidade a C. trilineatus, algo que não posso confirmar por não ter os dados comerciais.
Coridora albina
Quando falamos de um peixe albino não falamos de uma espécie, pois o albinismo é o resultado de um conjunto de características advindos de uma falha genética, inviabilizando a produção de pigmentos naturais do corpo.
Corydoras hastatus.

Corydoras hastatus
Esta é uma das nanicas, com cerca de 2 cm de tamanho, com um hábito bem inusitado, se comparado à gangue das Corys: na maioria do tempo não nadam grudadas no fundo! 😊 São das bacias amazônica e do rio Paraguai, existindo em água de pH entre 6,0 e 7,6 e temperatura de 20 a 30°C. Mantenha-as em cardumes maiores!
Bem, este foi um vislumbre da subfamília Corydoradinae. Se você gosta de peixes simpáticos, úteis e belos, e nunca teve uma Cory, está aí a chance de adquirir um pequeno cardume delas e esperar pelo show que elas, certamente, apresentarão. Cores, tamanhos e hábitos diferentes foram vistos aqui só com esta despretensiosa pincelada que dei no mundo das Corys…há muito ainda a ser visto! O mundo aquarístico é vasto!
Espero que tenham gostado de mais este artigo! Agradeço a leitura!

Com Bravo de Bravura, e não de Braveza, Johnny Bravo (João Luís), escreve para revistas especializadas e para o blog da Sarlo há um cadim de tempo. Nessa jornada Julioverniana, após 20 Mil Léguas de textos, agora ele também desenvolve os roteiros para os vídeos de chamada do Sarlocast, onde você pode ouvir a sensual voz desse aquaman (tradução: homem de aquários).