Dentro deste tópico, podemos explorar uma porção de coisas, como o porquê de certos peixes ficarem agressivos de repente, ou conhecer peixes naturalmente agressivos, e mesmo como evitar e diluir a agressividade dentro de um aquário.
A preocupação com agressividade não é um fator menos importante, pois ela refletirá na qualidade de vida dos habitantes do aquário, sendo assim, vale a pena gastar um tempinho para tentar entender isso.
Dessa forma, comecemos então por tentar entender o que é agressividade. Para efeitos gerais, a agressividade em peixes seria um comportamento hostil, normalmente atrelado à truculência ou violência física contra outros peixes. Assim como nos humanos, é uma forma de direcionamento da energia para algum aspecto de auto beneficiamento, para firmar a posição no ambiente.
Antes de mais nada, é preciso entender que um peixe não se torna mau por ser agressivo. Provavelmente esse é o caminho que a espécie precisou para sobreviver, evolutivamente falando. A garantia de manter um território para si – por ser mais oxigenado, mais protegido, com maior disponibilidade de comida ou com maior chance de encontrar parceiros – é atrelada ao investimento de energia e tal energia ao dirigida “comportamento hostil”. Observando isso, podemos já perceber que agressividade pode também ser temporária, quando surgida para atender um certo evento, como o período reprodutivo.
Visto isso, vamos adentrar mais praticamente no “submundo” da agressividade e ver como lidamos com ela em aquários.
AGRESSIVIDADE GENERALIZADA
Dentro da multitude de agressividade, podemos separar em alguns tipos, digamos assim, onde algumas são direcionadas a alvos específicos, outras são temporais e há aquelas que são generalizadas. É nesta qualificação “generalizada” que escolhemos nossos peixes “sempre agressivos” para este tópico. Para tal, podemos também antever que certos grupos taxonômicos, como a família Cichlidae, possuem já uma predisposição para este tema que tratamos aqui, tanto que vou citá-los em cada um dos tópicos deste artigo.
Para criarmos uma generalização, cabe ainda considerar que é comum que a truculência esteja associada a indivíduos de maior porte. Em algum ponto da sua vida, o ser percebe que sua mera presença impõe certas vantagens, como impor medo nos competidores ou naqueles que apenas coexistem no mesmo espaço. Quando o espécime começa a usar isso de forma mais deliberada, ou seja, investindo contra os outros ao redor, podemos considerá-lo agressivo. Neste parâmetro podemos facilmente comparar agressividade entre grandes exemplares de distintas espécies, por exemplo, um Jack Dempsey (Rocio octofasciata) e um Kinguio (Carassius auratus). Quem os conhece sabe que não há comparação, mesmo se tiverem o mesmo tamanho (kinguios de todas as variedades são super pacíficos).
No entanto, muitos peixes não precisam necessariamente de tamanho para demonstrar a agressividade,
Então, como definimos agressividade generalizada? Respondo: melhor você conhecer os nomes deles. Vejamos algumas delas:
Espécies naturalmente agressivas
“Zebrinha” (Heterotilapia buttikoferi): nome que nunca entendi o porquê, pois a não ser nos primeiros meses de vida ele tem alguma qualidade que possa ser colocada no diminutivo. Ciclídeo africano dos rios costeiros da Guiné Bissau e oeste da Libéria, que cresce muito e fica muito bravo; “zebrão das quebradas” deveria ser o nome comercial dado e que teria alguma relação com o peixe. Acho o nome de venda, inclusive, injusto para o consumidor que o compra desprevenido.
Jaguar (Parachromis managuensis): o que este peixe tem de magnífico tem de predador, sendo que se mantido com peixes menores, é bem possível que estes não tenham chance e sejam comidos. É um ciclídeo centro-americano.
Estes aí reúnem os pré requisitos da agressividade: pertencem à família Cichlidae, ficam grandes e seu vigor natural é refletido numa perigosa agressividade contra outros peixes. “Então é ruim demais ter peixes que crescem muito e são agressivos? Não há ´ornamentabilidade´ neles?” Veja bem, se você souber como contornar, diluir ou evitar os conflitos extremos, é possível ser feliz. Vide o aquário conhecido como “Ciclídeos-Jumbo de Ciclídeos Centro Americanos” ou um aquário de “Haps do Malawi”, ambos são exemplos em que, se bem executado, é renomadamente belíssimo de se ver. E para tal, o aquarista deve conhecer os limites e adequações necessários.
Tamanho não é documento!
Na contraponto do tópico acima, também temos os nanicos invocados. Ambos são ciclídeos do Malawi.
Chipokae (Melanochromis chipokae): está ali no limite do tamanhos dos “anões”, que seria algo em torno dos 12cm. Gosto deste peixe, pois adoro mbunas do Malawi, mas nunca o recomendei para alguém. Agressivíssimo, talvez o mais batedor dos Melanochromis. Os Aquaristas devem já possuir experiência e bastante espaço para mantê-lo.
Demasoni POMBO (Pseudotropheus demasoni POMBO): xodozinho dos amantes dos mbunas do Malawi. Embora não se compare em agressividade com o de cima, é bom sempre ter um olho aberto com este pequenino aqui.
Crime de formação de quadrilha
Existem peixes que incrementam a agressividade ao se sentirem imbatíveis.
Sumatrano (Puntigrus tetrazona): limpando (temporariamente) a ficha dos ciclídeos, trago este peixe, que muitos até discordarão. Seu assédio é tão, digamos, incisivo, que pode vir a ultrapassar o nível de importunação e gerar alguns dados aos coabitantes: nadadeiras em maior grau, mas também de mordiscadelas sobre escamas. Também é verdadeiro ouvir que este peixe diminui a agressividade quando colocado em maior número. Por que? Seria interessante observarmos o espaço dado aos peixes, viu? Lugares demasiadamente pequenos estressam peixes de diversas formas.
Daffodil (Neolamprologus pulcher): um dos que mais gosto dentro os ciclídeos do lago Tanganyika. Eu sempre recomendo colocar esses peixes por último num aqua misto, para que a confiança deles chegue quando o aqua já estiver mais tranquilo e os peixes já conhecerem seus territórios. Estes aqui se organizam em graus de parentesco e todos protegem o territórios, focando com mais ênfase peixes do mesmo gênero (Neolamprologus); há quem identifique requintes de crueldade nessa gangue, diria, cardume.
AGRESSIVIDADE DIRECIONADA
Aqui o intuito é explicar que muitas vezes a agressividade se destina a um alvo específico e não à comunidade inteira do aquário.
O pugilista solitário
Betta (Betta splendens): o mais injustiçado de todos os “agressivos”, pois o coitado só se volta contra machos competidores e fêmeas não aptas a reproduzir. Se num aquário comunitário tem grandes chances de vir a sofrer, pois suas longas nadadeiras são atrativos para bactérias, fundo e peixes beliscadores. É bom mantê-lo em aquas separados, mas por favor não os coloque em diminutos espaços.
Agora é com elas!
“Fêmea de Apisto” (imagem de Apistogramma nijsseni): E quem disse que agressividade se limita aos machos? Nos ciclídeos muitos protegem a desova e as proles em conjunto, mas algumas vezes ELAS sobem nos tamancos e exacerbam inesperadamente uma gigantesca. Não vale para todas as espécies de apisto, mas como em alguns casos é possível que fêmeas matem machos, trouxe a preocupação para que o aquarista que quer reproduzir esses peixes veja certinho que espécie ele tem e o que pode esperar.
“Fêmea de Kribensis” (Pelvicachromis pulcher): não se trata de uma potencial matadora de machos, mas trouxe o exemplo da fêmea mais colorida que o macho, raro nas espécies de forma geral, sendo que este é um diagnóstico de alerta para os peixes, quando ganham cores repentinamente: pode significar que a reprodução se aproxima e, com ela, a exacerbação da agressividade dos reprodutores. Olha que coisa linda!
“Credo, mas deve ser horrível ter ciclídeos! É a violência encarnada com nadadeiras!” Eu não deveria responder a isso porque sou bem suspeito, mas vamos lá: tem nada de horrível. Tal família é, na minha opinião, a mais atraente de todas as de água doce. Essa ferocidade aqui reportada é, em quase todos os casos, contornável, seja pelo dimensionamento do aquário, layout de decoração, aumento de densidade, escolha das espécies, sexagem e por aí vai. As espécies da família demonstram muita personalidade e trejeitos capazes de conquistar qualquer aquarista.
Como diluir agressividade?
Primeiro de tudo. Cuide do seu peixe como um pet querido, que merece respeito e dedicação: alimente-o bem, dê espaço, cuide da saúde dele, não o exponha a estresses demais, observe os parâmetros de água. Parece clichê, mas é o princípio para evitar todos os tipos de problema, como surgimento de agressividade no aquário.
Mas não é o caso? Você é um aquarista exemplar e já conhece a peça que você adquiriu, mas precisa criar um ambiente para minimizar danos e mesmo criar uma possível convivência? Vamos a dicas gerais então:
- Aumente o número de peixes: maior densidade evita que alguns poucos sejam demasiadamente focados (claro com melhor aeração e filtragem);
- Reúna peixes de mesmo tamanho;
- Escolha peixes de agressividade similar;
- Evite incluir fêmeas (na maioria dos casos, os mais chamativos e ornamentais espécimes são os machos, colocar fêmeas incita-os a competir por elas e por territórios);
- Faça um layout (arranjo de ornamentos) condizente com os peixes e a ideia do aqua;
- Grandes volumes favorecem a diminuição de agressividade; e
- Evite peixes de mesmo padrão de cor (ex: todos azuis com barras escuras verticais, além de monótono acirra disputas intraespecíficas, mesmo que não sejam).
Como vimos a agressividade tem muitas facetas e formas de lidar, mas não dá pra ser ignorada apenas. De forma geral, peixes agressivos não são malquistos no aquarismo, basta que observemos detalhes que tudo dará certo.
Espero que o texto de hoje – longe de ser todo conteúdo existente – possa ter trazido alguma informação ou curiosidade para instigá-lo a seguir a fundo no aquarismo. Agradeço a leitura, aguardando você no próximo…já já chega, é no mês que vem! 😊
Com Bravo de Bravura, e não de Braveza, Johnny Bravo (João Luís), escreve para revistas especializadas e para o blog da Sarlo há um cadim de tempo. Nessa jornada Julioverniana, após 20 Mil Léguas de textos, agora ele também desenvolve os roteiros para os vídeos de chamada do Sarlocast, onde você pode ouvir a sensual voz desse aquaman (tradução: homem de aquários).