
Praticamente inconfundível, o Acará-Bandeira é sem dúvida um dos ícones do aquarismo, em termos globais – introduzido no hobby em idos de 1911, segundo uma das fontes consultadas. Seu nome deriva de seu aspecto único, o qual exibe duas chamativas nadadeiras, quando visto de lado, que por sua vez parecem a vela (nadadeira dorsal) e o leme (nadadeira anal) de um veleiro, ou mesmo asas, dependendo do observador. Tal aspecto “alado” lhe confere lá fora o nome de angelfish (peixe-anjo). O próprio nome científico – Pterophyllum – denota essa qualidade de asas, pois quando se destrincha o gênero, vemos que o prefixo grego “ptero” significa “asa” ou “pena”, ou até mesmo “nadadeira”, enquanto a outra metade “phyllum” significa “folha”. Independentemente do nome que você optar, o que importa mesmo é notar a referência dada às suas nadadeiras, sua identidade maior.
Dentro desse gênero (Pterophyllum) são conhecidas três espécies – as quais podemos chamar todas de acará-bandeira – Pterophyllum scalare, P. altum e P. leopoldi. São distinguíveis por feições morfológicas como formato da cabeça, manchas, listras e formato do corpo. Não considero a diferenciação fácil, para quem não tem alguma experiência no aquarismo, mas basicamente vemos no P. altum uma acentuada curva na “testa”, que torna a boca mais protuberante, pois bem nesse limite vemos uma bem-marcada depressão; além disso, seu corpo é proporcionalmente mais alto que comprido; por fim, suas faixas negras são ladeadas por finas faixas brancas. P. leopoldi, por sua vez, é mais bem identificado quando contamos suas barras verticais, que somente neste peixe são 8 (nem sempre nítidas) e sua “testa” é reta, não apresentando nenhuma depressão. P. scalare veremos logo a seguir.
Neste artigo, porém, falarei apenas do mais comum e acessível dos acarás-bandeira: P. scalare. Além de popular, ele é considerado um peixe de fácil manutenção, preferindo um pH entre 6 e 8, água mole e temperatura de 24°C a 30°C (amazônico) – é um peixe bem distribuído no bioma amazônico, sendo encontrado na bacia do rio Amazonas, no Peru, Colômbia e Brasil; é também encontrado na Guiana Francesa e na Guiana (fonte: fishbase.org).
No geral, se dão bem com peixes de porte médio e peixes não agressivos. São gregários e gostam de conviver em grupos, o que acentua características naturais de comportamento e competição. Podem chegar a 10-12 cm (tamanho mais comum).
Diferenças e variedades
Para diferenciar este dos demais, posso destacar que sua depressão na cabeça – no limiar entre a “testa” e a boca – é suave e seu corpo é mais proporcional, tendo medidas parecidas tanto na altura como no comprimento.
Sua cor natural é a da primeira foto: prateado com barras verticais negras. No entanto, quando falamos de comércio o céu é o limite em opções, são inúmeras. Eu fujo de tentar definir que variedade eu estou vendo, apenas aceito o que o lojista está apresentando. Na curiosidade, fui atrás de alguma noção do que existe e achei uma publicação (Aquaculture Extension, por LaDon Swann, Purdue University, lllinois-lndiana) com variedades como: Ghost (fantasma), Silver Standard (o original), Gold (ouro), Marble (mármore), Gold Marble, Chocolate, Chocolate Blusher, Chocolate Blushing Pearl, German Blue Blusher, Marble Pearl, Black Standard, Black Lace, Black Blusher, White Blusher, Gold Pearl Scale, Koi. Lembrando que todos têm a opção de serem véu. Isso é uma nota de 1992, imagina o que temos hoje!
Uma espécie com isso tudo de variação? Como pode? Seleção reprodutiva é a resposta e por falar em reprodução…
Reprodução
Um dos principais problemas para quem pretende procriar o acará-bandeira é identificar machos e fêmeas. Ouve-se muito falar que indivíduos machos maduros e bem desenvolvidos, são maiores que as fêmeas e possuem o “calo” na cabeça – aquela protuberância que muitos ciclídeos machos desenvolvem quando estão marcadas as características sexuais secundárias. Especialmente pra quem não tem experiência, isso não é nada convincente. A grande verdade é que certeza mesmo a maioria das pessoas terá apenas após ver o pareamento do casal e a proximidade com o momento da reprodução. Nesse instante, a fêmea acaba revelando na região ventral uma papila genital mais destacada, pois é por onde os ovos passam. Ainda assim, o que mais comumente ocorre dentre as pessoas que decidem reproduzir este peixe é colocar num aquário 8 ou 10 indivíduos, esperando que casais se formem naturalmente com o passar do tempo – após isso se retiram os demais ou se separa o casal formado; aquários de grande porte são capazes de comportar mais de um casal formado.
Falo “grande porte” porque quando se pretende tê-los em aquário e ainda deixá-los se reproduzir são aconselháveis aquários acima de 200 litros, para dar espaço para outros colegas continuarem nadando. “Como assim?” O casal, uma vez constituído, procura uma superfície plana e larga, que podem ser folhas, pedras ou troncos, e começa a limpá-lo, protegendo com vigor o território escolhido. A agressividade do casal reprodutor é exacerbada nesse período.
Na superfície escolhida, que pode até mesmo ser o vidro do aquário, a fêmea passa depositando os óvulos, os quais, por possuírem um muco ao redor, aderem à face selecionada. Logo em seguida vem o macho, fertilizando-os. O casal protege ovos com afinco, permanecendo sempre ao lado “abanando” ou “soprando” para movimentar a água em volta e evitar que funguem – se ocorrerem ovos “doentes” ou não fertilizados, que ficam opacos, eles serão comidos. Ovos eclodem em 2 dias e, cerca de 5 dias depois, os alevinos já podem vir a receber alimento, como náuplios de artêmia, uma vez que já estarão nadando. Estes pequenos seres também estarão sob proteção atenta dos pais, a qual pode ser mantida por até 2 meses – criadores costumam removê-los no primeiro mês.
Dicas para promover a desova? É dito que todos os ciclídeos lateralmente compressos são sensíveis ao nitrito e à amônia que não esteja ionizada (no caso NH3) – aspectos de aquários recém-montados ou muito malcuidados. Além disso, são tidos como aceleradores de reprodução a manutenção da temperatura em torno dos 28ºC, aumento de alimento vivo ministrado, trocas parciais de água e 8 a 12 horas de luz.
Ah…pais novatos podem comer ovos ou filhotes das primeiras tentativas!
No mais, tenho só a elogiar este peixe. Ele é merecedor de toda nossa atenção e carinho. Agradeço a leitura e encontro você no próximo artigo!

Com Bravo de Bravura, e não de Braveza, Johnny Bravo (João Luís), escreve para revistas especializadas e para o blog da Sarlo há um cadim de tempo. Nessa jornada Julioverniana, após 20 Mil Léguas de textos, agora ele também desenvolve os roteiros para os vídeos de chamada do Sarlocast, onde você pode ouvir a sensual voz desse aquaman (tradução: homem de aquários).