Para entendermos o porquê de um artigo sobre o Altum, poderíamos tentar por meio de grosseiras analogias do tipo: “se eu fosse falar de churrasco, este texto seria sobre picanha” ou “se fosse falar num artigo sobre gemas preciosas, este seria sobre o diamante”. Neste caso aqui, tal qual um destaque do artigo anterior sobre acarás-bandeira, falaremos sobre o Altum, ou cientificamente Pterophyllum altum, uma das três espécies do gênero, a qual, de tão especial dificilmente é chamada pelos hobbistas de acará-bandeira (angelfish), mas tão somente de “Altum”. Entenda-o como um tempero especial usado por um grande chefe de cozinha em seu prato principal.

Já adianto logo uma dica: por ser um peixe mais raro, mais caro e mais sensível eu o recomendaria apenas para aquaristas experientes, que já entendam e dominem as técnicas de limpeza e manutenção e a influência de compostos nitrogenados (ciclo da amônia no aquário), uma vez que esse peixe exige alta qualidade de água. Veremos adiante mais peculiaridades que incrementam essa dificuldade na manutenção do peixe num aquário.

Origem

É um peixe amazônico, mas não brasileiro, proveniente das bacias hidrográficas dos rios Amazonas, no alto Rio Negro e alto Orinoco, nos rios Inírida (Colômbia) e Atabapo (entre Colômbia e Venezuela); são reportados também vindos das planícies de inundação dos rios Casiquiare (Venezuela) e Guainía (Colômbia). Curiosidade: não tão incomum é a denominação que recebe por causa disso: Altum Orinoco ou Peixe-anjo do Orinoco.

Imagem por wirestock no Freepik

 

Características físicas (identificação)

Comparado aos outros congêneres, este peixe aqui parece que é esticado na vertical, sendo considerado nessa medida o maior dentre os três bandeiras: 38-40 cm de “envergadura” – se assim é que posso dizer, já que entre as pontas das “asas” (nadadeira dorsal e anal) ele atinge tais tamanhos. De comprimento, no entanto, seu corpo mede em torno dos 12 cm (máximo reportado na fishbase.org é 18 cm)

Além dessa característica, talvez seus dois outros maiores distintivos para identificação sejam: uma acentuada curva na “testa”, que torna a boca mais protuberante, pois bem nesse limite vemos uma bem-marcada depressão, e a presença de linhas claras correndo na vertical, ladeando as barras escuras.

A cor natural do corpo é prata, mas nas nadadeiras podem ser vistas estriações avermelhadas, quando os peixes estão mais desenvolvidos e aclimatados ao ambiente.

Embora possa haver nuances no aspecto entre peixes juvenis e adultos, esta espécie não possui variedades comerciais como são encontradas com o acará-bandeira comum (P. scalare). Ainda assim, pode haver o chamado “falso altum”, um híbrido resultante da mistura das espécies: P. altum + P. scalare. Infelizmente o nome comercial para este híbrido também pode ser “Orinoco Altum”, como o dado aos verdadeiros (puros).

Convivência com outros peixes

A primeira coisa que seria importante frisar é que, devido a esse peixe ter maiores dimensões na vertical, como disse antes, há necessidade de um aquário alto (estou doido para fazer trocadilhos) e eu ainda acrescentaria: grande (300 litros ou mais). Na fissura de preencher um aquário desse porte, aquaristas podem ser tentados a colocar grande variedade de peixes como acompanhantes.

Embora tenha encontrado várias recomendações em sites para colocar tetras com os Altuns, eu faria ressalvas. Por que? Pois tetra é um termo amplo demais e que considera peixes pacíficos e agressivos, ou diria, “agitados demais” a ponto de perturbar os peixes-anjo ao roubar-lhes a comida ou pior, mordiscar suas nadadeiras afiladas.

Peixes bons mesmo estão entre os amazônicos, como o disco, coridoras, cascudos, rodóstomus e se você conhecer bem os tetras, escolha aqueles que não têm hábitos de mordiscar nadadeiras. costumam ser tímidos demais, sendo que peixes extremamente ativos podem inibi-los, gerar estresse demasiado e daí criar um quadro inapropriado para o Altum.

Ambiente e reprodução

A questão da água, que forma seu ambiente essencial, é um dos percalços que transformam o Altum num peixe pouco apropriado para iniciantes. As características dessa água são: muito transparentes, extremamente mole (nenhuma condutividade e seria o caso de avaliar se sua água aí requereria Osmose Reversa – RO) e ácidas (pH entre 4,5 e 6,0 – uma faixa que estou combinando com as boas referências que consultei, águas assim podem requerer serem acidificadas, com turfa talvez), bem oxigenadas (sem excesso de circulação) e temperatura alta (28 a 32°C). ou seja, trata-se de uma água em que o aquarista deve estar dedicado a cumprir os parâmetros.

Há um consenso para a esmagadora maioria dos hobbistas: é de difícil reprodução. Ainda assim, vamos lá com algumas dicas: para parear um casal é necessário um grupo de 6 ou mais indivíduos, dali eles mesmos se escolhem. Na ocasião da reprodução, são como os bandeiras comuns: ficam territorialistas e agressivos e tal agressividade não é amainada pela timidez. Preferem desovar em raízes e galhos, o que me lembra seu primo, o acará-disco (Symphysodon discus), que também adora as galhadas.

Para identificar os sexos, bem, temos aí um problema. Machos possuem o calo nupcial, comum em muitos ciclídeos, mas é extremamente difícil de ser visualizado. Lembram que falei que um dos distintivos do Altum, pros outros bandeiras, seria a “acentuada curva na “testa”? Então, imagine o quão acostumado deve ser o olho do aquarista para achar um calo nupcial num peixe que já possui um testão.

Conseguiu uma desova? Parabéns, pois não são todos que conseguem. Nesse caso, vi que muitos aquaristas optam por separar a desova, para desenvolvê-la num lugar mais seguro, sem o risco de os pais sofrerem algum estresse e devorarem os ovos. Ainda referente aos cuidados com a desova, encontramos reports de uso de azul de metileno na água (aquário separado para reprodução), para evitar problemas de fungos ou bactérias atacando-os. Após os filhotes estarem livre-natantes, é recomendada a água de Osmose Reversa (RO) por alguns – assumo que não encontrei exatamente o porquê desta última recomendação e, antes de replicá-la, sugiro adentrar mais no tema para estudar e avaliar.

Deixei para falar aqui nesta seção da alimentação por um fator: como vimos, o peixe é de reprodução difícil, sendo que boa parte dos exemplares vêm do ambiente selvagem. Isso implica diretamente numa questão alimentar, onde apresentam muitas vezes dificuldade em pegar alimento industrializado. Sendo assim, o aquarista já deve estar preparado para ministrar alimento vivo (blood worm e artemia). É reportado também que a timidez também os faz rejeitar o alimento ministrado, independente de qual tipo.

E para finalizar, aproveitando que um assunto puxa o outro, lembro que peixes selvagens podem também trazer parasitas e é altamente recomendável aquário de quarentena, antes de inserir no aqua principal. Por curiosidade, achei uma lista de parasitas que acometem o Altum. Clique aqui

Bem, hoje acabamos por aqui. Agradeço demais a leitura! Espero ter trazido algo que agregue a você e ao hobby. Até o próximo!

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