
Parece simples responder à pergunta do título, mas fiz questão de produzir textos anteriores para frisar as diferenças entre as espécies de bandeiras e mostrar que há diferenças significativas. Por isso acredito ser pertinente também tentar dar dicas de como montar aquários mais amigáveis para cada um deles. De quais espécies estou falando? Das duas que tratei nos dois artigos anteriores a este: Pterophyllum scalare e P. altum.
Em termos de similaridades eu diria que ambos bandeiras deveriam ser adquiridos em grupos de 6 ou 8 indivíduos e terem espaços grandes de nado, algo como aquas de 300+ litros. Como principais diferenças, e exigências, as quais acho importantes (por favor, não deixe de ler os outros artigos sobre os bandeiras), eu elencaria o seguinte:
Comum (Pterophyllum scalare) | Altum (Pterophyllum altum) |
pH entre 6,0 e 8,0 | pH entre 4,5 e 6,0 |
Temperatura de 24°C a 30°C | Temperatura alta de 28 a 32°C. |
Sensível quanto a qualidade de água: compostos nitrogenados, deve ser bem oxigenada (sem excesso de circulação), extremamente mole, bem transparente | |
Muito tímido | |
Pode apresentar problemas para pegar ração |
Para melhor entender o quadro é importante observar a sensibilidade do Altum, que torna as peculiaridades de sua manutenção mais definitivas, digamos assim, no sentido de não poderem/deverem ser relativizadas.
Tendo por base detalhes como esses, seria interessante destinarmos um tempo para definir o layout e os detalhes do aquário. Vamos ver o que tem pra hoje…
Plantas e decoração natural
Claro que é você quem escolhe o que entra no aquário, mas, como estou aqui para sugerir, eu partiria de uma ideia de “rio Amazônico” para a ambientação, pois ambos são desse bioma e tentar reproduzir algo similar já ajuda tanto o hobbista quanto o peixe – aquaristas mais experientes saberão que os bandeiras comuns, possuem parâmetros parecidos com outros peixes não amazônicos, não são tão sensíveis e exigentes como os altuns, o que os habilita a ficar em aquários mais generalistas.
Por “decoração natural” entendemos o uso de rochas, troncos, raízes, cascalho, areia e plantas naturais (não artificiais). Entre rochas, cascalho e areia, prefira os que não causam modificações na água, como rochas calcárias, por exemplo (se houver cascudos ou peixes que se escondam, crie cavernas no layout); para troncos e raízes, a recomendação fica para tipos de madeira mais densas, tipo aroeira, de preferência “tratados” ou que já tenham estado submersos (e estejam devidamente limpos) – pense numa composição chamada galhada, caso decida ter altuns (serve para Discos também), além de ambientar o peixe, ajuda a acidificar a água; por fim, para plantas naturais, sugerirei as de origem amazônica. Das mais belas e famosas, posso citar 1) o gênero cosmopolita Nymphaea, que tem aquelas belas plantas com folhas flutuantes e caule submerso, fixos no substrato (suas floradas, lançadas para fora da linha d’água, são lindas); encontrei citação sobre a Nymphaea amazonum no livro do querido amigo Rony Suzuki (Guia de Plantas Aquáticas) e fiquei mais confiante em citar aqui como pertencente ao bioma amazônico; 2) gênero Echinodorus, que possui dezenas de espécies usadas no hobby, das mais cobiçadas às mais comuns, e é donde vem uma das mais famosas, que encontramos para comprar sob o nome “amazonense” (E. bleheri); 3) Pistia stratiotes , uma planta flutuante conhecida como alface d’água (que devem estar em aquário com pouco fluxo de água); 4) dos muitos musgos existentes no aquarismo, considerando a mesma fonte citada antes, só vou citar o gênero Vesicularia, como referência da américa do Sul, para não sair muito da zona de segurança. E por fim, como outros gêneros que devem ser considerados em sua escolha, cito: Eleocharis, Hydrocotyle, Ludwigia e Sagittaria.
Espécies compatíveis e incompatíveis
Evidentemente eu não podia pular este ponto, pois é uma das considerações mais importantes a serem feitas para todos os tipos de aquários, não seria diferente para os bandeiras e, especialmente, para o Altum.
Precisamos considerar que nem todas as espécies são passíveis de serem colocadas juntas num mesmo aquário, sejam por terem parâmetros de água muitos diferentes, sejam por diferenças significativas de tamanho ou por comportamentos, cujos polos opostos incompatibilizam a convivência.
Dessa forma pensei em fazer uma tabela ilustrativa – não exaustiva – do que eu consideraria passível de mistura com cada uma das espécies de bandeira.
Para entendermos a tabela sugerida, teremos a primeira coluna destinada aos peixes propostos/passíveis de serem colocados juntamente com os acarás-bandeira, em ordem alfabética, sendo a segunda coluna para o comum (P. scalare) e a terceira para o Altum (P. altum). As cores são verde para ok, pode misturar, e vermelho, não deve; laranja ficou para uma espécie de “não sei”.
Peixe | Comum | Altum |
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Apistogramma agassizii | ||
Apistogramma cacatuoides | ||
Borboleta (Carnegiella strigata) | ||
Cascudo-Tigre (Peckoltia vittata) | ||
Colisa Lalia (Trichogaster lalius) | ||
Convict (Amatitlania nigrofasciata) | ||
Corydoras julii | ||
Corydoras sterbai | ||
Disco (Symphysodon spp.) | ||
Iriaterina (Iriatherina werneri) | ||
Lápis (Nannostomus eques) | ||
Mato Grosso (Hyphessobrycon eques) | ||
Neon (Paracheirodon axelrodi) | ||
Panaque (Panaque nigrolineatus) | ||
Peixe Arco-íris (Melanotaenia parkinsoni) | ||
Rasbora Arlequim (Trigonostigma espei) | ||
Rodóstomo (Hemigrammus rhodostomus) | ||
Tetra Diamante (Moenkhausia pittieri) | ||
Tetra Imperador (Nematobrycon palmeri) | ||
Tetra Pinguim (Thayeria boehlkei) | ||
Tricogaster (Trichogaster trichopterus) | ||
Tricogaster Leri (Trichopodus leerii) | ||
Zebrinha (Heterotilapia buettikoferi) |
Caso você seja do tipo curioso e for pesquisar o porquê de algumas células estarem vermelhas na tabela, verá que alguns não são recomendados por fatores diversos como agressividade (sempre agressivo ou com possibilidade de ser) parâmetros de água (especialmente o pH). Provavelmente você perceberá que fica mais fácil reunir peixes de habitas similares – fica a dica! Lembro apenas que tomei os bandeiras como peixes principais e pensei num aqua idealizado ao redor deles.
No mais, é isso aí. Agradeço sua leitura e aguardo você no próximo artigo! Até lá!

Com Bravo de Bravura, e não de Braveza, Johnny Bravo (João Luís), escreve para revistas especializadas e para o blog da Sarlo há um cadim de tempo. Nessa jornada Julioverniana, após 20 Mil Léguas de textos, agora ele também desenvolve os roteiros para os vídeos de chamada do Sarlocast, onde você pode ouvir a sensual voz desse aquaman (tradução: homem de aquários).