
Certamente não é a primeira vez que você se depara com um texto assim na internet, livros ou artigos especializados; mesmo para mim não é a primeira vez que trato do tema, mas ainda é um assunto preocupantemente recorrente e que, muitas vezes, leva a pessoa a desistir do hobby poque “nada dá certo” ou porque “peixe morre fácil”.
O segredo de misturar peixes diferentes é saber que peixe de aquário não é tudo igual e que dentre a infinidade de opções que temos, precisamos estar atentos a certos detalhes que acabam sendo imprescindíveis para o sucesso.
Adianto que tudo bem serem peixes de espécies diferentes, mas alguns detalhes precisamos observar e é nisso que iremos focar a partir de agora. Vamos lá!
Tamanho
Para este quesito, embora possa vir a parecer, não estamos falando de agressividade, que é um outro quesito também muito importante. Aqui podemos abordar dois pontos: 1) o peixe crescer demasiado, a ponto de o aquário ficar pequeno para ele e gerar variados níveis de estresse, que são observáveis desde a mudança de tonalidade de cores até o adoecimento; e 2) quando colocamos um peixe desproporcionalmente maior que outro, pode acontecer de simplesmente aflorar no maior seu instinto de sobrevivência, perseguindo ou predando um menor.
Portanto, considero não equiparáveis uma mistura peixes como pequenos guppies ou foguinhos e grandes kinguios ou carpas (fiz questão de não usar peixes grandes com hábito alimentar que o instigue a comer peixes menores).
Estilo de vida
Qualquer organismo vivo conserva em seus genes e, consequentemente, em seu jeito de ser, aquilo para o qual foi desenvolvido/evoluiu. Segregar e isolar peixes que têm em seu currículo “viver em cardume”, por exemplo, reduz sua capacidade de expressar o melhor de si, podendo incorrer em aumento de estresse, comportamento atípico, consequências na saúde, entre outros. Corydoras, acarás-bandeira, neons, rodóstomos, tetras são peixes que têm essa necessidade, sendo que o ideal é provermos números de indivíduos capazes de promoverem essas sensação de pertencer ao cardume – claro, dentro da capacidade do aquário.
Maus hábitos
Aqui abordamos hábitos cuja maioria dos aquaristas não pretendem ter em seus aquários. Escavar o fundo e enterrar-se no substrato, desplantando as plantinhas são duas das características que muitos não querem. Ciclídeos como o M. chipokae ou o “zebrinha” (T. buttikoferi) são desses que – além de agressivos – não costumam gostar da decoração que você cria; dojôs, estão no outro polo dos destruidores de decorações delicadas, sendo que pra ter plantas, só se plantadas em vasos. Isso os faz peixes ruins? Não, claro que não, apenas que seus hábitos precisam ser levados em conta antes da idealização do aquário, para evitar frustrações.
Mordedor de nadadeira
Quaisquer peixes “véu” podem sofrer numa mistura mal elaborada. Nadadeiras, no geral, quando danificadas, são alvos para fungos e bactérias, quando grandes então, tornam o peixe um atrativo, além de os deixarem menos ágeis. Algumas espécies, como as do gênero Hyphessobrycon (mato-grosso entre eles), que significa “pequeno mordedor”, são carrascos nesses casos. É como você mostrar um algodão doce para uma criança e não deixar que ela coma. Por isso a importância de escolher: ou nadadeiras grandes, ou aqua comunitário pra geral. Peixes que sofrem mais nesse sentido são guppies, kinguios e mesmo os bettas machos – sim, bettas são pacíficos e até bobões na maioria dos casos, sua agressividade é específica com os outros bettas.
Agressividade
O que se observa aqui é o temperamento da espécie. Já falamos do tamanho, cujas diferenças desproporcionais podem compor atitude agressivas, porém, neste tópico, destaco espécies cuja tendência comportamental é ser agressiva, independentemente se falamos de um peixe que come peixes ou é herbívoro. Agressividade muito se vê em espécies de ciclídeo, como mbunas do Malawi ou lamprologines do Tanganyka, ou mesmo barbo sumatrano em cardume, peixe-do-paraíso, ou seja, peixes que “sem mais nem menos” perseguem e machucam seus colegas. É importante ouvir outros aquaristas e lojistas sobre isso, antes de adquirir. A ideia é juntar peixes de agressividade similar, obviamente, respeitando aspectos de espaço, layout e parâmetros requeridos pelas espécies.
Super lotação
Por motivos óbvios, qualquer mistura que exceda o número de suporte de um aquário, é tal qual uma sentença de morte (ou sérios prejuízos) ao sistema do aquário. Certamente, especialmente se falando de aquaristas mais experientes e de volumes maiores, os números podem fugir um pouco, pois trocas parciais de água e otimização e ampliação de filtragem podem atuar no papel de permitir maiores concentrações, mas o aconselhamento sempre vai para a moderação no povoamento. Não adianta nada o aquarista seguir todos os conselhos anteriores e pecar neste tão perigoso quesito. Normalmente, para tentar ajudar as pessoas a saber que quantidade é essa, eu sempre indico: 1) saber o tamanho que o peixe pode chegar quando adulto; 2) calcular o volume real – VR do aquário (calculando só o volume de água que circula no sistema); e 3) considerar o adensamento na “fórmula” de 1 cm de peixe adulto por litro de água (VR).
E aí, você já pensava assim? Consideraria outros quesitos aqui não abordados? Que bom que você leu e o texto fez refletir em algum aspecto. Agradeço sua leitura e aguardo você no próximo…vem já já! Até mais! 😀

Com Bravo de Bravura, e não de Braveza, Johnny Bravo (João Luís), escreve para revistas especializadas e para o blog da Sarlo há um cadim de tempo. Nessa jornada Julioverniana, após 20 Mil Léguas de textos, agora ele também desenvolve os roteiros para os vídeos de chamada do Sarlocast, onde você pode ouvir a sensual voz desse aquaman (tradução: homem de aquários).