
Ao olhar para a água do nosso aquário, nos dá impressão de que ela é tão simples e transparente quanto parece, não é mesmo? Mas existem diversos fatores que diferenciam as águas e que não estão ao alcance dos olhos, como presença de minerais ou nutrientes, ou como o valor de pH, nosso tema de hoje.
A ideia deste artigo é falar dos porquês da importância de se medir tal parâmetro. Pessoal está sempre dizendo que precisa medir pH, mas por quê? No que influencia o bendito pH nos peixes de aquário? Vou tentar lhe responder a seguir, bora lá!
O pH
A sigla pH representa o percentual hidrogeniônico, ou mais facilmente “a quantidade de íons de hidrogênio na forma livre (H+)”, que influencia no grau de acidez, neutralidade ou basicidade (alcalinidade também está ok, porque é sinônimo para meios aquosos) de uma solução, no nosso caso, na água do aquário.
A escala do pH da água pode variar de 0 a 14, onde quanto mais H+ presente na água, maior sua acidez e menor o valor do pH. Fiz uma arte para ilustrar o que digo:
Nesta escala, os valores inferiores a 7 indicam a acidez e superiores a 7 a alcalinidade; por convenção seria o pH 7 o significado de neutralidade, em termos de faixa, podemos assumir para o aquarismo que entre 6,5 e 7,5 temos ainda uma água neutra.
É disso que se fala quando vemos na descrição do peixe, por exemplo, acará-bandeira, faixa de pH entre 6,0 e 8,0. Esta é a faixa que ele vive suave, sem estresses causados por pH diferente de sua tolerância.
“Ah, mas ter um pH 6 ou 8 dá quase na mesma, pois a diferença é pequena, apenas 2!”
Não é bem assim. Para entender as grandezas entre os números do pH é importante saber que ele é medido numa escala logarítmica na base 10 e não direta como expressa no entre aspas acima. A distância a que me refiro é multiplicativa por 10. Isso que significa que, com a variação de 1 ponto no pH, a concentração é 10 vezes (10x) superior ou inferior (acidez ou alcalinidade, dependendo do valor que falamos). Ou seja, a água do aquário com pH 5 é 10x mais ácida que uma de pH 6 e 100x mais ácida que uma solução de pH 7 (1.000x mais ácida que uma solução de pH8 e 10.000x mais ácida que uma solução com pH 9).
A dica é manter o pH do aquário dentro da faixa ideal do peixe, e não em seus extremos ou além deles, muito menos deixar que oscile em grandes faixas – tamponar o pH é super super super importante! Nesse quesito, porém, não serve qualquer acidificante ou alcalinizante de bolso, existem algumas alternativas.
Uma das mais comuns substâncias para aumentar o pH é o bicarbonato de sódio, no entanto, ele também aumenta a dureza de carbonatada (KH), algo impróprio para peixes de água mole (apistos, neons etc.). No caso de baixar o pH, há quem use CO2 – muito comum nos aquários plantados.
Aqui estou apenas exemplificando formas de controle, mas deve-se estudar caso a caso para ver a melhor alternativa. A melhor fórmula de todas é manter um aquário limpo e saudável, com ornamentação inerte, para não influenciar no pH.
O PROBLEMA
Em suma, condições adversas de pH podem causar distúrbios fisiológicos dos mais diferentes tipos e intensidades, de pequenos desarranjos à morte – não só em peixes, mas em diversos seres vivos, como plantas (e algas), invertebrados (crustáceos, corais etc.) e bactérias.
“No que o pH está ligado? Que problemas pode causar?”
- Possui efeito direto sobre o metabolismo;
- Possui efeito direto sobre o pH sanguíneo;
- Altera concentrações iônicas no sangue (íons como Na+, K+, Ca2+, Cl– e Mg2+);
- Altera composição eletrolítica e o balanço ácido-base dos fluídos corporais intra e extracelulares;
- Pode afetar o funcionamento branquial, o que prejudica o equilíbrio osmótico e a respiração;
- Altas concentrações do íon H+ causam a diminuição da afinidade da hemoglobina pelo oxigênio;
- Valores extremos de pH prejudicam o crescimento e a reprodução dos peixes;
- A exposição a extremos de água alcalina, provoca redução na excreção da amônia, aumentando a concentração no sangue (menor concentração de H+ que reagiria com a amônia NH3, para transformá-lo em NH4+);
- Metais tóxicos, como zinco e cobre ficam ainda mais tóxicos em pH alcalino;
- Os extremos de pH ativam nos peixes mecanismos para manter um ambiente interno estável e constante, apesar das mudanças no ambiente externo (homeostase), o que faz liberar metabólitos, como o cortisol e a glicose plasmática e o gasto energético para manter a estabilidade prejudica o desenvolvimento;
- Existem plantas mais e menos sensíveis ao pH, mas todas são influenciadas por ele;Influencia a filtragem biológica dos filtros, ou seja, onde a amônia, o nitrito e o nitrato são transformados em formas mais aceitáveis.
Como você pode observar, alguns destes tópicos estão até relacionados a um mesmo problema, mas preferi deixar explícitos os problemas e possíveis desordens para refletirmos.
Como sinais visíveis (e já preocupantes) de que há problemas com o pH, é sabido que diante de pH baixo, os peixes podem apresentar maior frequência respiratória, fazendo-os bloquear a superfície; no pH alto demais há formação de óxido de cálcio que provoca corrosão do epitélio branquial e das nadadeiras. Em ambos os extremos há morte de peixes.
COMO DEVE SER
Variação de pH não é um mal necessariamente, na natureza há uma variação natural do pH devido ao ciclo “dia-noite” – por isso falamos sempre numa faixa e não num pH exato. Durante o dia, com a fotossíntese utilizando o CO2 dissolvido e liberando O2, o efeito é aumentar o pH; de noite, com a pausa da fotossíntese cessa, há consumo de oxigênio e liberação de gás carbônico, diminuindo o pH.
Além disso, é preciso reforçar que não existe um pH ideal para aquário, assim de forma ampla, isso deve ser definido de acordo com os peixes que você mantém e, a partir deles, perseguir a manutenção da faixa adequada. Assim, se você tem como peixe central o acará-bandeira (pH entre 6,0 e 8,0), os demais colegas devem também pertencer a tal faixa ideal de pH; se for algum ciclídeo africano do lago Tangayika, o aquarista deve saber que o pH é em torno de 8,5; assim como temos Apistogramas de pH extremamente ácido. Observando isso, podemos concluir que é errado dizer que um pH neutro vale para todos os peixes e é o melhor para aquário comunitário, pois isso sempre dependerá de que peixes estamos falando. Insistir em misturas muito diferentes pode prejudicar, inclusive, os peixes que estão ok com o pH do aquário. “Por que?” E se o peixe que estiver desfavorecido enfraquecer a ponto de adoecer? Doente ele pode contaminar e prejudicar todo aquário!
Sendo assim, ficam 2 principais dicas orientadoras: 1) não deixar o pH flutuar bruscamente e entre extremos e 2) escolher peixes pertencentes à mesma faixa ideal de pH.
Quem diria que falar de pH poderia ser tão amplo, não é mesmo? Espero ter convencido você – caso ainda não soubesse – que o teste de pH é um item essencial para todo aquarista, pois o pH é essencial pro peixe.
E assim me despeço, agradecendo pela leitura! Vejo você no próximo artigo, que sai num piscar de olhos! Até lá!

Com Bravo de Bravura, e não de Braveza, Johnny Bravo (João Luís), escreve para revistas especializadas e para o blog da Sarlo há um cadim de tempo. Nessa jornada Julioverniana, após 20 Mil Léguas de textos, agora ele também desenvolve os roteiros para os vídeos de chamada do Sarlocast, onde você pode ouvir a sensual voz desse aquaman (tradução: homem de aquários).