Seguindo na temática do artigo anterior, que falava da retirada de nutrientes do aquário por plantas aquáticas, resolvi desenvolver um pouquinho mais do tema e chegar nesta temática aqui, pois da mesma forma que vemos aqueles aquaterrários (que também já foi tema de artigo meu aqui no blog), com plantas que ornamentam a parte aérea do “aquário”, há quem tenha optado por ornamentar seus aquários com algo, digamos assim, mais útil ou mesmo comestível; não somente isso diria, vemos também os que gostam das folhagens como ornamentação ou até mesmo o prolongamento das raízes para dentro do aqua (tanto que por vezes usam apenas tubérculos – batata, beterraba etc. – já crescidos mergulhados na água do aquário para esse fim e não o processo de hidroponia).

Achei interessante, mas não domino nenhuma técnica, ainda assim dá para adiantar que a retirada de nutrientes pela hidroponia, vinculada a um aquário, não se trata de um milagre. Assim como veremos mais adiante, a retirada de nutrientes segue muitas regras do aquarismo, como o ciclo do nitrogênio que sempre nos deparamos.

Equalizando os conhecimentos

Segundo encontrado na Wikipedia, a “hidroponia é a técnica de cultivar plantas sem solo, onde as raízes recebem uma solução nutritiva balanceada que contém água e todos os nutrientes essenciais ao desenvolvimento da planta”.

Certamente, ao pesquisar sobre o tema, você se deparará com as tais “soluções hidropônicas” (o fornecimento de nutrientes). Na própria Wiki vemos o que contêm, em termos de especificação de nutrientes e suas concentrações para uso. Sem adentrar muito no mérito, observei que se baseiam em compostos de fáceis diluição em água e absorção pelas plantas, como sulfatos, fosfatos e nitratos (de ferro, potássio, magnésio ou cálcio…mas também de outros metais, em menores concentrações como cobre, zinco, manganês).

Hidroponia + Aquário

Voltando aqui para nossa temática, que resultaria numa associação com os peixes de aquário, nos aproximamos de uma outra denominação: Aquaponia. Não estou inventando nada, isso já existe há tempos e é possível até mesmo encontrar trabalhos da EMBRAPA sobre o tema, na busca de soluções inovadoras para produção de alimentos saudáveis com baixo consumo de água e sem gerar efluentes que contaminem rios.

Aquaponia nada mais é que um consórcio da criação de peixes e vegetais e preconiza um reuso completo da água do sistema, evitando seu desperdício e poluição do meio ambiente. A ração dos peixes é a entrada de nutrientes no sistema, pois é por meio da excreta deles que os nutrientes se tornam passíveis de absorção pelas plantas. É neste ponto que retomamos a importância do ciclo do nitrogênio, onde as bactérias nitrificantes continuam sendo as responsáveis pela conversão da amônia (NH3) em nitrito (NO2) e este em nitrato (NO3), ou seja, transformando substâncias tóxicas produzidas pelos peixes em nutrientes assimiláveis pelas plantas. Observamos assim, que as plantas, por si só, não conseguiriam filtrar da água os compostos tóxicos, o que nos leva a pensar que mesmo num sistema aquapônico é necessário primarmos por manter filtros eficientes.

Cabe ainda ressaltar que o pH é um dos pontos críticos e que requer atenção, pois considerando que estamos com três tipos de organismos em voga (peixes, plantas e bactérias) é imprescindível atender as necessidades de cada um deles. “As bactérias nitrificantes são predominantemente aeróbicas e têm o pH ótimo no intervalo entre 7,0 e 8,0. Por outro lado, a maioria das plantas cultivadas em hidroponia cresce melhor em pH entre 5,5 e 6,5. Já para a maioria das espécies peixes de água doce de interesse econômico e que podem ser utilizados num sistema aquapônico, o pH ideal encontra-se entre 7,0 e 9,0. Com isso, recomenda-se que o pH da água seja mantido entre 6,5 e 7,0 para atender satisfatoriamente a todos os componentes biológicos presentes num sistema aquapônico. Vale ressaltar que após a colonização do filtro biológico pelas bactérias e o estabelecimento do equilíbrio de um sistema aquapônico é normal observar contínua tendência de redução dos valores de pH.

Essa observação é importante pois indica o bom funcionamento do filtro biológico. Por outro lado, faz-se necessária a contínua correção do pH para atender às necessidades dos três componentes biológicos envolvidos. Dentre as opções de substâncias tamponantes que podem ser utilizadas para a correção e estabilização do pH em aquaponia, aquelas à base de potássio (K) e cálcio (Ca) são as mais indicadas uma vez que se trata de nutrientes normalmente presentes em sistemas de aquaponia em quantidades inferiores às exigidas por muitos vegetais. Portanto, adições periódicas de substâncias como hidróxido de potássio, bicarbonato de potássio, hidróxido de cálcio e calcário dolomítico num sistema de aquaponia pode ser uma constante, não apenas para o tamponamento e ajuste do pH da água como também para a suplementação de nutrientes importantes ao adequado desenvolvimento das plantas.” – adaptado da publicação “Produção Integrada de Peixes e Vegetais em Aquaponia – Embrapa Tabueleiros Costeiros – Aracaju, SE – 2015.”

O grifo que deixei no texto destacado da publicação aponta para peixes de corte, normalmente tilápias e carpas, dentre outros. São peixes maiores que os ornamentais de aquário, que gerariam mais nutrientes para o sistema, seriam mantidos num número maior (que exige mais oxigênio) e teriam maior robustez. Assim, vejo que para peixes de aquário mais sensíveis, já é um contraponto e não deve ser seguido como num método típico de aquaponia.

Adaptando para o aquário ornamental

Enquanto, na aquaponia, há um fluxo contínuo de nutrientes entre diferentes organismos vivos, onde mal se mexe e apenas se repõe água, no aquário precisaríamos considerar e manter o que vimos aprendendo sobre aquarismo. Vejamos algumas coisas que elenquei aqui (vermelho para não, verde para sim):

O que observar? Aquário Aquaponia
24h de funcionamento de bombas
Filtragem física e biológica
Adição extra de nutrientes além da ração
Adensamento de peixes
Trocas parciais de água
Observação e ajuste de pH
Iluminação para crescimento das plantas

E onde ficariam as plantas da hidroponia num aquário? Há quem use as canaletas de PVC (típicas de hidroponia), penduradas na parte traseira ou lateral, para acomodá-las – é por onde corre água contínua, impulsionada pelas bombas submersas – ou suportes similares àquelas criadeiras de peixe acrílicas. Para alguns exemplos que vi, não para consumo, mas só pela vontade de ver tubérculos criando folhas e lançando raízes para dentro do aquário, recomendaria apenas cuidado com o emaranhamento de raízes com rotores de bombas.

Dentre as culturas mais simples para começar, observei que cenouras, nabos, rabanetes e beterrabas são mais usados. Um detalhe dessa história é que os produtos da aquaponia têm data para acabar. Por exemplo, o ciclo da beterraba leva uns 90 dias, ou seja, sua ornamentação estaria vinculada a esses prazos; não saberia informar sobre quanto vivem essas plantas, caso você opte por deixar lá ad eternum.

É isso! Este é mais um artigo que chega ao fim, mostrando o quão imenso é o mundo do aquarismo, sem perder a responsabilidade do cuidado com nossos amigos de escamas e outros seres que tutoramos. Agradeço muito a leitura e aguardo você no próximo artigo, até lá!

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