Quem lida com aquários de muitas rochas, como os de Ciclídeos Africanos – CAs, já deve ter se deparado com a sigla UGJ (do inglês Under Gravel Jet – nada mais que o literal jato sob o substrato). Isso porque o número alto de grandes objetos no aquário funciona da mesma forma que uma cordilheira, atuando na alteração do fluxo e sentido das massas de ar e umidade. O que quero dizer com isso é que em um aquário é bem provável que, devido às rochas, a circulação de água fique prejudicada, criando bolsões de água “parada”, que costumamos chamar de “zonas mortas”. E é aqui que nossa observação deve recair, pois o problema de haver essas zonas mortas é que ali há acúmulos de sujeira e, consequentemente, de aumento de bactérias e outros organismos indesejáveis.

Se fossem uma ou duas dessas zonas, e fossem estas visíveis, tudo bem, pois com um sifãozinho quinzenal resolveríamos qualquer problema advindo dessa situação. Todavia, ao termos uma realidade de amontoados de rochas, naturalmente criamos tanto mais zonas mortas (em números), como a inacessibilidade para eficiente limpeza.

Aos que já tiveram, ou leram sobre, CAs do lago Malawi, certamente já viram a temível doença chamada “Malawi Bloat”, que ataca o sistema digestivo de peixes (não somente desse lago), especialmente dos herbívoros, e os impede de continuar se alimentando até a morte. Bactérias e protozoários, que se beneficiam de locais de baixa oxigenação, infestam os peixes que adquirem o Bloat, gerando um quadro bem preocupante. Dessa forma, podemos prever que as zonas mortas – lugares com baixo teor de oxigênio, associado à excessiva quantidade de comida e substrato (sujeira) para micro-vida nociva, causadoras de muitas doenças em aquário, seja um excelente local para que esses seres se desenvolvam em abundância e nós precisamos combatê-las antes que causem mal ou precisemos usar medicamentos.

Funcionamento do UGJ

O UGJ é uma solução para eliminar ou reduzir essas ameaças de zonas mortas e consiste num sistema de canos (de pvc) ligados, correndo abaixo do substrato, onde um constante fluxo d’água é impulsionado por bombas submersas. Em determinados pontos desse sistema, existem pontos de saída dessa água em movimento…e são estes pontos de escape aqui que fazem a mágica acontecer. Estrategicamente colocadas nos sistema de canos, essas saídas possuem afunilamentos para aumentar a pressão da água que sai e promover circulação em pontos que seriam criadas zonas mortas.

Observando isso, podemos perceber de antemão que essa história de acabar com as zonas mortas é também um apoio ao sistema de filtragem, pois põe em circulação toda sujeira, que mais cedo ou mais tarde é capturada pelas mídias filtrantes.

Planejando um UGJ

É importante, antes de mais nada, o aquarista criar o layout de decoração do aquário – se ele já tiver as rochas a serem usadas, melhor ainda. Isso porque, uma vez que ele souber onde ficarão tais rochas, poderá escolher em seu desenho do sistema de canos, onde colocará as saídas. Deve-se pensar que os jatos de água, saídos do UGJ, deverão incidir contra as rochas ou mesmo estar alocados dentro das formações mais volumosas de obstáculos (rochas).

A escolha e o desenho de canos que ficará, literalmente, debaixo do substrato também será influenciada por esse layout do hardscape. Se ainda não ficou registrado, é importante eu destacar que a montagem do UGJ deve ser feita junto com a montagem do aquário – fazer isso com um aquário já em funcionamento é muito problemática, por impor grande estresse aos peixes, suspensão excessiva de material particulado, entre outros. A gente imagina o desenho que os canos percorrerão (o que ajuda a saber o número de joelhos e “T”), adentrando ou contornando as futuras formações rochosas, e a quantidade e direção de saídas (jatos).

A bitola dos canos vai depender da potência da(s) bomba(s), pois tem de haver capacidade de fazer a água circular em todo sistema e sustentar a pressão das saídas. Eu tive um aqua de mbunas do Malawi de 350 litros, onde usava uma Sarlo 2000, que encaixava perfeitamente no cano de meia polegada. Aqui vai uma observação importante: toda bomba submersa – especialmente as mais fortes – precisam ter algum anteparo para não sugar peixes, no meu caso eu usava um Filtro Biológico Modular – FBM completinho.

Para a criação do jato há quem esquente a ponta do cano e a prense com um alicate e há quem faça furos para as direções que quer (lembrando de tampar em cima). Não há regras exatas, mas diminuir a boca de saída para aumentar pressão é necessário.

Este é um projeto simples e de baixo custo, mas muito útil para aquário com problemas de fluxo de água. É um tipo de DIY que recomendo por não ser encontrado nas lojas.
Agradeço a você pela leitura, esperando ter trazido algo que acrescente nesse caminho do aquarismo. Nos encontramos no próximo artigo, até lá!

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