Nos peixes, em geral, vemos uma enorme variedade de formas, tamanhos, hábitos e cores. São estes resultados da evolução das espécies, contidos nos genes…e para que toda essa diversidade não ficasse confinada no vocábulo “peixe”, vieram os taxonomistas e começaram a organizar, aproximando ou separando os peixes conforme suas características. Sendo assim, só para termos uma ideia, temos hoje níveis ascendentes de organização desde Espécie (que é o que compramos na loja), passando por Gênero (que são tipo os “primos”) e o que nos interessa, a Família (claro que vai mais além, como Ordem, Classe e outros).

Dentro do táxon “Família” possuímos peixes aproximados sim, mas que podem ser bem diferentes quando os olhamos. No texto de hoje vamos falar de uma família um tanto quanto diversa, chamada Cyprinidae. Esta engloba os kinguios e carpas, mas também uns parentes bem mais magrinhos…quem? Labeo bicolor, paulistinha, os barbos e por aí vai. São tantos que também precisarei do próximo artigo para falar mais um pouco sobre a Grande Família dos peixes.

Os peixes da Família Cyprinidae são quase que exclusivamente de água doce, tendo apenas duas espécies que habitam os mares, ambos do gênero Tribolodon. Eu gostaria muito de resumir, em uma ou duas linhas, aspectos que garantissem a identificação ao olhar, porém, para os ciprinídeos não dá; dentre eles temos peixes com e sem barbilhões, bocas adaptadas para sucção e outras não, papais que não querem saber da prole e até mesmo alguns que constroem ninhos e protegem o local. São a maior das famílias de peixes (quase 380 gêneros e mais de 3 mil espécies) e ocorrem em quase todos os continentes, com exceção da Oceania. Porém, contudo, todavia…se olharmos bem, tipo, por dentro mesmo, é capaz que consigamos verificar semelhanças. Uma delas é que os ciprinídeos não possuem dentes na boca, eles usam dentes faringianos para mastigar. Não adiantou nada, não é mesmo?

Mesmo sabendo disso, o que conta mesmo para um aquarista é a diferença…é ela que nos encherá os olhos de beleza. Os ciprinídeos estão aí para fazer as composições aquarísticas dos seus sonhos.

ALGUMAS ESPÉCIES

Tanichthys (Tanichthys albonubes)

Originário da China, este pequeno (4 cm) peixinho é conhecido por sua docilidade e resistência. Deve ser mantido em cardume (não preciso explicar né? Você já deve ter lido o artigo sobre peixes de cardume!). Prefere águas com temperatura entre 18 e 22°C, embora seja muitas vezes mantido em aquário sem aquecimento algum. Além disso gostam de aquários plantados e com pH variando entre 6,0 e 8,0.

Esteve sumido dos registros durante anos, sem aparecer na natureza, tendo alertado os humanos quanto ao risco de desaparecer, devido à pressão antrópica. Quem diria, não? Um peixe tão resistente e que se reproduz com tanta facilidade. Pra você ver que tudo é muito relativo. Graças a Gong Gong (deus da água na mitologia chinesa), ainda é encontrado em certas localidades, mas o risco ainda existe!

Paulistinha (Danio rerio)

A primeira revelação fatídica é que o paulistinha, não é paulista! Espero não ter causado nenhuma comoção com isso, mas era um segredo que precisava ser revelado…Johnny X9! O paulistinha equivale à caneta BIC, que você também achava que era brasileira. Este peixe seria melhor caracterizado se o chamassem de hinduzinho ou indianozinho, pois nosso pequenino (3,8 cm) amigo provém da região nordeste da Índia, onde divide seu habitat com outros conhecidos nossos, como a Colisa chuna ou o Barbo Conchonius (Pethia conchonius), num pH entre 6,0 e 8,0.

É um peixe gregário de água tropical, com temperaturas variando entre 18 e 24ºC. Gosta de aquários com água pouco movimentada e com vegetação que se aproxime da superfície. Reproduz-se o ano inteiro, estimulado por temperatura, alimento…ou melhor, ele é estimulado e ponto; fato este que, em conjunto com a alta demanda no hobby, tornou-o um dos peixes mais cultivados do aquarismo.

Extremamente ativo. É comum encontrar reclamações de aquaristas que misturam o paulistinha com peixes lentos e de nadadeiras longas (véu), uma vez que ele adora beliscá-las.

Rásbora Arlequim (Trigonostigma heteromorpha)

Como eu amo esse peixe! Lembro-me de misturar lâmpadas rosadas e azuis junto às demais para ver as nuances desse peixe reluzirem enquanto nadavam…que maravilha! Sua origem está ligada à Tailândia, Singapura, Malásia, Bornéu e Sumatra, onde habita águas de pH entre 5,0 e 7,0 e temperaturas entre 22 e 26ºC, vegetadas e com a presença de tanino em solução (oriundo da decomposição de folhas e troncos).

Além das magníficas cores, possui tamanho (4 cm) e comportamento mais que adequados para habitar a maioria dos aquários, dando-se bem apistos, tetras e corydoras. Por serem de cardume, adquira sempre 6 ou mais unidades – parte da beleza da espécie está associada ao movimento do conjunto.

Labeo bicolor (Epalzeorhynchos bicolor)

Outra maravilhosa espécie, esta oriunda (e endêmica) da Tailândia. Segundo o site da IUCN (que fala da situação das espécies ameaçadas de extinção), foi declarado extinto na natureza em 1996, por excessiva captura e poluição da água; há, no entanto, registros mais recentes de sua presença na natureza. Espero que se criem projetos de reintrodução de despoluição do habitat para que a espécie volte a povoá-lo!

Em termos aquarísticos, sempre adorei sua cor negra aveludada, que contrasta com o verde da vegetação, seu nado pacífico e seu tamanho (12 cm), porém, é mais exigente quanto à oxigenação da água e pouco tolerante aos acúmulos de matéria orgânica. É daquelas espécies que gosta de ter locais de sombra e sossego. Prefere pH entre 6,0 e 8,0 e temperatura de 20 a 26ºC. Além disso, são comuns os relatos de seu mau-humor quanto aos colegas de aquário, especialmente quando compartilham o mesmo nicho no aquário ou são espécies próximas.

Quais os tipos de aquário para os Ciprinídeos?

Depende, claro. Eu gosto sempre de construir a ideia de aquários temáticos ou biótopos, mas não dá pra ignorar a ampla idealização de aquários comunitários no hobby. “Então os Ciprinídeos são bons para aquário comunitário?” Depende também, claro.

Acredito que, com exceção do labeo bicolor, os demais peixes abordados no artigo são excelentes para tal objetivo. São resistentes, pacíficos e de tamanho pequeno a moderado – ainda veremos no próximo artigo algo mais sobre as espécies dentro da Família – características que lideram os quesitos para se escolher peixes para aquário comunitário. As espécies citadas aqui compõem uma ótima lista para dividir o mesmo espaço com ciclídeos anões, pequenos ciprinídeos e tetras, corydoras e cascudos.

A dica é buscar manter o pH no neutro, visto que boa parte das espécies aqui citadas (e muitas outras que encontramos no hobby) possuem o pH 7,0 dentro do range ideal de manutenção. Possivelmente, conhecendo a dinâmica de comportamento da água, que tende a acidificar ao longo da vida do aquário, você necessitará de dispositivos para medir, acompanhar e mesmo alterar/controlar as variações de pH. Sei que você já sabe, mas não custa lembrar: uma das maneiras mais eficazes de controle de condições da água são as trocas parciais e correto dimensionamento de filtros, bem como a limpeza destes.

Se você gostou da ideia e vai montar um aquário com as espécies citadas neste artigo, não compre nenhum peixe ainda…vamos ver, no próximo texto, algo sobre os adoráveis barbos. Monte o aquário agora, ponha água e ponha para o filtro para funcionar…deixe a água ciclando (se tiver como ter um aquário de quarentena, faça o mesmo procedimento). Quando chegar o artigo prometido o aquário já estará apto a receber os peixes.

Então, até lá…nos vemos no próximo artigo! Obrigado pela leitura!

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