“Papai, para que serve a nadadeira do peixe?” – perguntou o filho.
“Com ela, filho, os peixes podem nadar pelo aquário.” – respondeu o sábio senhor.

Bora melhorar essa resposta e gerar mais profundidade nela? Primeiro, questione-se. Você já pensou em quantos tipos de nadadeiras podem existir num peixe? Ou quais outras funções elas poderiam ter? Grandes, pequenas, formatos inusitados… são todas para o mesmo fim? O fato é que elas podem surpreender aqueles que acham que nadadeira nada mais serve do que pro peixe nadar.

Se você quiser resumir a função das nadadeiras, considerando o que ocorre na maioria dos casos e apostando na simplicidade, pode até mesmo dizer “auxiliar o peixe a nadar” e será uma resposta abrangente, pois a função de uma nadadeira depende de onde está localizada, a forma que possui e das modificações evolutivas.

Por meio de uma nadadeira, um peixe pode: parar, ir pra frente, dar ré, virar ou manter-se no lugar. Além disso, posso antecipar que ela também pode servir para: reprodução (guppies), caça (tubarões que podem atordoar suas presas com a caudal), planar no ar (peixe-voador – família Exocoetidae), defesa (peixe-escorpião ou peixe-leão, que têm veneno), atrativo para uma armadilha (Lophius gastrophysus, que possui um prolongamento que imita uma vara de pesca, para atrair sua presa), arrastar-se no substrato (peixe-sapo), enterrar-se no substrato (o linguado tem uma nadadeira anal tão longa que se parece com a dorsal e o auxilia a se enterrar), sensor tátil (cabrinha) ou como ventosa (rêmora).
Ok, agora que você começou a pensar que nadadeira pode ser mais do que aparenta, vamos explicar um pouco mais a fundo sobre elas e, depois, reduzir o universo para alguns peixes ósseos de aquário.

Definição
Nadadeiras são apêndices dos peixes, responsáveis por inúmeras funções, dentre as quais a mais comum é a locomoção. Embora difiram em formas, funções e números de peixe pra peixe, ainda assim podemos dizer que 7 (sete) é o número que resume as nadadeiras, considerando a maioria dos peixes. Seriam três ímpares (dorsal, anal e caudal) e duas pares (peitorais e pélvicas);


Estrutura
Para que a nadadeira não seja apenas algo parecido com uma bandeira ao vento, nos peixes ósseos ela possui hastes de suporte, chamadas de raios (lepidotríquias, que são escamas modificadas e flexíveis) ou espinhos (actinotríquias, formadas de tecido ósseo), sustentados por ossos de base chamados pterigióforos. Essa “vela” é revestida de tecido epitelial (pele), podendo, assim, ser colorida.

Porém, como veremos no tópico seguinte, onde começo a desconstruir as funções “rotuladas” de uma nadadeira, enquanto algumas não possuem raios ou espinhos, outras têm espinhos mais fortes que o normal, para proteção, os quais, por sua vez, são ligados a glândulas de veneno e recebem o nome de acúleos. Antes disso, no entanto, de forma geral, é possível atribuir para as nadadeiras ímpares (dorsal e anal) a função de dar estabilidade, para as pares (peitorais e pélvicas), as manobras, ao passo que a caudal destaca-se para a propulsão.

Estruturalmente é importante saber que as nadadeiras de um peixe funcionam conjuntamente, num sistema habilmente coordenado. Acredito que, conhecendo uma a uma e observando alguns exemplos, começaremos a ver o quão essenciais são tais apêndices.

Tipos de nadadeiras

ÍMPARES
Adiposa: esta, que sequer citei o nome anteriormente (mas deixei na minha obra de arte), ocorre apenas em 9 das 31 ordens dos Euteleostei (o grupo mais expressivo e “moderno” dos peixes ósseos, ou Infraclasse Teleostei) – as ordens Characiformes (ex: tetras) e Siluriformes (ex: cascudos) são exemplos que ainda a exibem. Trata-se de uma nadadeira molenga, sem raios ou qualquer outra estrutura de suporte, localizada entre as nadadeiras dorsal e caudal, formada apenas de pele e tecido conjuntivo. Muitos acreditam que não tenha função, um vestígio evolutivo, pois a maioria dos peixes não a possui, mas alguns pesquisadores entendem que tal nadadeira pode ser um “pré-sensor” de fluxo d’água para auxiliar na manobrabilidade do nado, antecipando informações para a nadadeira caudal. Lembra que falei que tudo é um sistema coordenado? Então… pelo menos faz sentido.

Anal: tal qual todas as nadadeiras aqui apresentadas, a nadadeira anal igualmente possui especificidades dignas de registro. Já foi adiantado que nos linguados (aqueles peixes achatados que ficam só com os olhos de fora da areia), a longa anal executa a tarefa de enterrar o peixe na areia. Por falar em comprimento, ela também é extensa nos peixes-elétricos (como o ituí-cavalo, Apteronotus albifrons), conferindo toda a estabilidade, já que o peixinho não possui dorsal. O que vem agora, embora vejamos algo similar quando falarmos das nadadeiras pélvicas (par), diz respeito à transformação de uma nadadeira num órgão copulatório. Quem tem ou já teve guppies, mollies, espadas ou platis, certamente já ouviu falar do gonopódio, usado para transpor do espermatóforo para a fêmea e realizar fecundação interna; destaque que esta aqui se trata de uma nadadeira ímpar.

Dorsal: na maioria das vezes, há apenas uma, mas também podem ser duas, contíguas ou nitidamente separadas. Esta é uma das que mais apresenta variações que culminam em adaptações evolutivas e, consequentemente, em funções variadas, bem diferentes do basicão, que seria proporcionar estabilidade durante a natação. Certamente alguém já lhe ensinou sobre o dimorfismo sexual de algumas espécies de Apistogramma a partir do prolongamento do 2º ou 3º raio da dorsal do macho, não? Para alguns peixes, como baiacus (família Tetraodontidae) e cavalos-marinhos (família Syngnathidae), suas dorsais são usadas na propulsão, apoiando ou substituindo a caudal nesta função. A “vara de pesca” do já citado peixe-pescador (Lophius gastrophysus), é uma modificação nos primeiros raios de sua primeira dorsal, e tem a importante função de atrair presas desavisadas. Podemos ainda citar as rêmoras, que transformaram a sua primeira dorsal numa forte ventosa, garantindo-lhe economia de energia nas viagens que faz de carona e permitindo que se beneficie de restos alimentares deixados para trás por seus transportes (peixes grandes como tubarões ou meros e até mesmo baleias). Ainda assim, mesmo com uma nadadeira tão importante, há quem não a possua; isso ocorre em diversas espécies de raias, entre outros.

Caudal: a única nadadeira ligada à coluna vertebral do peixe, sendo que as demais ficam conectadas a músculos. Considerando essa “coisa mais interna”, podemos classificá-la em quatro categorias: Protocerca (mais primitiva, onde há pouca diferenciação com as nadadeiras dorsal e anal, alongando-se até o fim do corpo), Heterocerca (a parte de cima e a debaixo – lobos – são diferentes e a coluna vertebral adentra o lóbulo superior), Homocerca (lobos iguais) e a Dificerca (parecida com a protocerca, porém é possível ver diferenciação das nadadeiras envolvidas). No quesito “aspecto” também existem classificações, sendo que poderíamos qualificar uma cauda, basicamente, como: a) com ponta ou pontuda; b) arredondada; c) truncada; d) emarginada; e) em furca ou furcada; e f) forma de lua ou lunada. E sim, até mesmo esta nadadeira é ausente em certos peixes, como os cavalos-marinhos.
Eu sei, esta nadadeira vai precisar de desenho também, no entanto, fiz apenas daquilo que vemos quando olhamos o peixe no aquário (a anatomia externa):

Legenda: Anatomia externa de uma cauda de peixe: a) com ponta ou pontuda; b) arredondada; c) truncada; d) emarginada; e) em furca ou furcada; e f) forma de lua ou lunada.

PARES
Pélvica: sempre localizada na parte de baixo do peixe, antecedendo a nadadeira anal, esta nadadeira ainda pode ser classificada em quatro posições: abdominal (bem próxima da anal), subabdominal (praticamente no centro do ventre), torácica (mais próxima à cabeça, na linha ou proximidades da nadadeira peitoral) e jugular (logo abaixo da “garganta”). Tal nadadeira pode ser útil para conseguirmos definir os sexos de alguns peixes (como o prolongamento consideravelmente maior em machos, ex: Neolamprologus brevis). Em termos de modificações evolutivas, vemos algumas maravilhas: 1) é constatado em alguns gobis a função de sucção (ventosa) devido ao desenho da nadadeira, que permite a fixação em pedras; 2) a impressionante especialização do clásper em tubarões, que viabiliza a fecundação interna de fêmeas com tal estrutura; 3) a transformação do apêndice num sensor tátil para ajudar a encontrar comida; ou ainda 4) a rigidez de tal apêndice que permite aos peixes-morcego caminhar pelo substrato.

Peitoral: em posição lateral no corpo, seja mais acima ou abaixo, é a principal ferramenta de manobra, com movimentos dos mais variados possíveis: ondulatórios, para cima e para baixo, para frente ou para trás. Atuam coordenadas e se desenvolveram considerando princípios hidrodinâmicos, de acordo as necessidades do peixe. Sua excentricidade pode atingir níveis impressionantes, tal como visto no peixe-voador, cuja função da peitoral é lhe permitir planar no ar, quando em fuga de predadores, ou nas cabrinhas, que “planam na água”, próximas ao substrato. No peixe-morcego, citado acima, essa nadadeira confere apoio para o andar dele sobre o fundo, cooperando com a nadadeira pélvica que também promove a locomoção (“caminhada”).

Naturais ou “Criadas”? As nadadeiras mais procuradas no hobby
Não sei se existe isso de “nadadeiras mais procuradas”, mas imagino que as que saiam do comum (comum seria do tipo homocerca?) atraiam mais os olhos dos aquaristas: peixes-véu, nadadeiras filamentosas, caudas em forma de lira, meia-lua ou ponta de lança, dorsais vela etc. Tanto é verdade que muitos criadores desenvolveram, por seleção reprodutiva, peixes com características muito acentuadas.

Você deve ter uma ou mais preferências, não? Eu não hehehehehe, pois acho que tudo que naturalmente sai do padrão, por si só, já me fascina. Enquanto você pensa quais seriam suas nadadeiras preferidas, olha aqui as que separei, sejam elas naturais ou adquiridas via seleção reprodutiva:
Iriatherina (Iriatherina werneri): vindo lá dos lados da Austrália, prefere água com pH em torno do neutro e temperatura tropical, esse peixinho possui impressionantes prolongamentos das nadadeiras dorsal, anal e caudal. Sou muito fã deste peixe!

Guppy (Poecilia reticulata): líder dos queridinhos do público, este peixe de águas quentes não possui caudais tão grandes e coloridas na natureza, mas as incontáveis gerações de seleções reprodutivas produziram cores e padrões únicos.

Betta (Betta splendens): um dos mais conhecidos e incompreendidos peixes de aquário, muitas vezes mantido em diminutos potes que o fazem perder parte de seu majestoso design. Ele merece um aquário e iluminação dignos de um rei, para mostrar suas magníficas nadadeiras (todas).

Molly Velífera (Poecilia velifera): dona de uma suntuosa vela dorsal, esta molly é inconfundível. Quando está se exibindo abre sua dorsal ao máximo, dando um espetáculo de beleza e singularidade.

 

Cuidando de nadadeiras
É bom deixar bem claro que nadadeiras muitos grandes são uma grande responsabilidade ao aquarista, especialmente quando os peixes que você possui são raros ou delicados demais. “Por quê?” Dá para elencar, pelo menos, duas observações de base: 1) excelentes alvos para mordiscadores; 2) uma área muito maior para ser colonizada por agentes patogênicos (especialmente bactérias e fungos).
Visto isso, além de selecionar bem os companheiros de aquário, preze pela qualidade da água, deixando-a cristalina para que você veja as cores em sua plenitude e livre de agentes patogênicos. Por falar em cores, precisamos ter em mente o quão importante é a questão alimentar, responsável por manter o peixe saudável e fazer com que ele exiba o máximo da coloração. Prover uma boa ração ou mesmo incrementá-la com suplementos ou estimuladores de apetite podem refletir como boas medidas para alcançar o máximo das cores de um peixe.

Para tanto, e para começar, é imprescindível a aquisição de um bom filtro – acho que ninguém tem dúvidas sobre isso, assim como seria prudente deixar as trocas parciais bem regradas, evitando acúmulo de compostos nitrogenados. Nada disso é novidade, não é mesmo? Tudo que acentuei aqui foi considerando que “mais nadadeiras refletiriam em mais cuidados”.

Eis que me estendi demais. Se nada você sabia sobre nadadeiras, agora sabe que nadar nada mais é que uma das funções desse apêndice. No aquarismo é assim, sempre há a opção de um novo olhar sobre algo que parece tão morno.

Espero que o podcast tenha sido de alguma utilidade. Obrigado por ouvir e até o próximo!

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