O Guppy, também chamado por muitos de Lebiste ou até barrigudinho, é conhecido mundialmente por suas cores gritantes e encantadoras nas caudas (especialmente) dos machos. Ele é membro da família Poeciliidae, parente de gente famosa, como o Plati, o Espada e a Molinésia.

Talvez você se pergunte, “por que tantos nomes?”, “por que Guppy?”, “por que Lebiste?” ou “por que barrigudinho?”. Bem, sem tentar matar você de tédio para ter de explicar minuciosamente, adianto que os dois primeiros nomes comuns têm relação com as disputas da nomenclatura científica. Primeiramente foi chamado Poecilia reticulata (em 1859), nada a ver com os nomes comuns, sendo que dois anos depois foi mudado para Lebistes poecilioides (em 1913 teve outra tentativa: Lebistes reticulatus – só que essa aqui peguei da Wikipedia e não pude confirmar no FishBase; vale o conselho que gosto de dar: “pesquise mais a fundo quando quiser ter certeza de algo”). O pobre do peixinho, em 1866 foi renomeado para Girardinus guppii em homenagem ao camarada que enviou exemplares à coleção científica, que tinha Guppy no último nome. E barrigudinho, você deve estar morrendo de curiosidade né? Pois então, não faço a menor ideia, mas deve ser por causa da maneira como as pessoas veem o peixe nos rios e lagos, um corpo de cotonete com aquele barrigão – certamente associado às fêmeas prenhes. Mas esse nome eu me recuso a chamar, porque eu acho que desqualifica o guppy. “E o que aconteceu com o nome científico?” Não advinha? Mantiveram o primeiro nome científico, pessoal indeciso, né? Rsrs. A denominação válida é Poecilia reticulata.

ORIGEM, DISTRIBUIÇÃO…PROBLEMÃO!

Os mais empolgados imaginariam que o Guppy viria do Rio de Janeiro, de alguma escola de samba, mas sentimos desapontá-los: sua origem é amazônica (não Parintins!). Agora, olha o problema que temos quanto à sua origem, dependendo da fonte que consultarmos. Se for FishBase, veremos países como Brasil, Venezuela, Barbados, Trinidad e Guianas. Se for pegar pela IUCN (que lida com a lista de espécie ameaças e nos mostra também espécies invasoras), o Guppy não ocorre no Brasil naturalmente, lá é dito que foi introduzido aqui. Isso de acordo com o que consta na Wikipedia, onde diz que “o peixe foi introduzido no Brasil para combater a dengue e a malária”. De qualquer forma, a ideia aqui não é certificar nenhuma informação, mas tão somente mostrar a variedade de informação encontrada na internet.

Também encontrei referência ao Lebiste como “potencial peste”, pela facilidade em se fixar em diversos tipos de ambiente e ser resistente a fatores ambientais, além da memorável capacidade reprodutiva (com possibilidade de impacto ao se hibridizar com Poecilídeos nativos). Inúmeros países reportam impactos ecológicos adversos devido à presença desse “inocente” peixinho, que possui populações estabelecidas, em continentes como África, Ásia e até no Australiano. Contei pelo menos 70 países que possuem esse peixe introduzido. Por isso, minha dica ambiental seria: caso não queira ou não possa mais ter seus peixinhos, doe-os para uma loja especializada ou amigo que possa mantê-lo num aquário – muitas das espécies de aquário possuem algum potencial invasor. “Mas eu vi esse peixe no laguinho ali perto de casa!” – diria um hobbista. Pode ser mesmo que ele não esteja errado, pois esse peixinho pode ter sido lá introduzido tanto pelo aquarismo (operação “libertar peixinho”, que não é correto e é proibido), quanto pelo seu uso como “controle de mosquito” (instituições de saúde); mas pode ser alguma outra espécie e o cara se confundiu ao dizer que viu.

APETITE INSACIÁVEL

Não é difícil entender o porquê desse peixinho ser tão exitoso em colonizar ambientes. Sua fome abrange uma gama ampla de tipos de comida: tubifex, larvas de mosquito, artêmia, dáfnias, infusórios, microvermes e enquitreias. E no aquário aceita praticamente qualquer alimento industrializado.

Mas, certamente esse não seria seu único trunfo, além de comer bem, seu apetite insaciável se expande também a arte da procriação. Mesmo sendo os machos bem menores que as fêmeas, eles não se sentem intimidados e são incansáveis conquistadores, o que obriga o aquarista a ter 4 ou 5 fêmeas para cada macho. São tão fecundos que peixes entre 2 e 3 meses já estão aptos a proliferar, e as fêmeas podem ter filhotes a cada 4 semanas. O número de filhotes varia de poucas unidades a várias dezenas, dependendo do tamanho da fêmea, sua linhagem, alimentação e qualidade da água. Talvez essa velocidade e precocidade se deva ao fato de não serem peixes tão longevos, vivendo entre 1 e 1,5 ano (a expectativa no aquário chega a uns 3 anos).

Uma característica interessante desse peixe é a viviparidade, que significa que os peixinhos são desenvolvidos completamente no interior da fêmea e quando saem já estão formadinhos, prontos para começar a vida, tanto que já levam uma mochilinha de comida na frente (o saco vitelínico); este é o máximo de “cuidado parental” que podemos associar à espécie (tecnicamente não há cuidado parental).

O método de fertilização é interno, incomum se considerarmos o número de espécies de peixes existentes, e é factível devido a uma modificação existente na nadadeira anal, chamada de gonopódio, que serve para conduzir um saco com esperma para dentro do aparelho reprodutor da fêmea. Interessante também é saber que a fêmea pode guardar o esperma para mais tarde, ocasionando o “fenômeno” da fecundação tardia, sendo que mesmo sem um macho presente podem ocorrer ainda algumas ninhadas.

COMO MANTER E CRIAR

O Guppy é encontrado em praticamente todas as lojas do ramo, todavia, não é recomendado para qualquer aquário… eu explico, pode deixar. A dica é não misturar com quaisquer peixes, pois, peixes muito ativos e aqueles que gostam de mordiscar caudas, podem causar sérios danos aos Guppies, uma vez que a nadadeira mordida pode ser porta aberta para infecções, fungos etc. Se for misturar, o que não é recomendável, por favor, veja quais peixes podem ser misturados, lendo sobre os parâmetros, dieta e também comportamento – evite os nervosinhos. Na dúvida não misture, especialmente se você tiver investido na compra de alguma variedade de maior custo.

Uma das vantagens da espécie é que ela pode ser mantida em aquários pequenos e com filtragem simples. O pH deve girar entre 7,0 e 8,0 e a água é quentinha (18 a 28 °C, o que nos mostra imediatamente o quão importante é o aquecimento). “Mas peraê, ele não invadiu dezenas de países e vive em águas duvidosas, como é que o Johnny tem a coragem de falam de pH e temperatura?” Lembro que não somos um país invadido, nem laboratórios de teste, mas sim hobbistas que prezam pela manutenção exemplar de seres vivos, dos quais somos tutores.

Como vimos, se você tiver machos e fêmeas, você terá filhotes. “Ótimo e daí?” Primeiro, deixá-los procriar a torto e a direito lhe deixará com peixes fracos. Segundo, com o tempo, o seu aquário estará repleto de Guppies e o espaço será insuficiente. Se você gostar tanto deles a ponto de querer a procriação, poderá pensar na montagem de uma bateria com vários aquários. Nesse caso, quando iniciamos uma criação, precisamos ler mais, nos especializar e ter cuidados como trocar os filtros comuns pelos de espuma, para não sugar filhotes, e primar pela qualidade de água, instalando novas modalidades de filtros, como os UV – especialmente se atentarmos para o fato das longas nadadeiras, que podem ser afetadas por inúmeras doenças, caso a qualidade da água esteja baixa. Além de saber como destinar os infindáveis filhotes que advirão.

VARIEDADES

Você não estará só se optar por virar um criador, pois a criação de Guppies no Brasil adquiriu status profissional, se considerarmos a organização que os criadores têm hoje em dia. Quer deixar um desses caras loucos? Diga que você comprou Guppies de diferentes “raças” e as colocou juntinhas num aquário. Você verá o sorridente criador, engolir o sorriso, ficar com os olhos vermelhos, a pele começa a ficar verde, músculos a crescer… Muitos criadores apreciam a pureza conquistada com minuciosas seleções e misturá-las é quase uma ofensa.

Os criadores profissionalizados desenvolveram e desenvolvem variedades, muitas vezes advindas de espécimes selvagens, sendo que esses procedimentos consistem em separar certos padrões de cor e tamanhos de nadadeiras (long fins, ou nadadeiras longas, definidos como Ribbon ou Swallow), podendo demorar anos até se fixar o padrão almejado, transformando-o numa variedade.

Você pode encontrar nos grupos de criadores, dicas de cruzamento, mostrando quais as espécies mais indicadas para cruzar, o que vai sair daí etc. E pra você ter uma pequena noção do que esse universo lhe reserva, a partir de algumas cores básicas, como Blue, White, Bronze, Gray e Gold, junte com os padrões Snakeskin, Diamond, Galaxy, Dragon, Leopardo, Tiger, Halfmoon, Moscow e German, e comece a imaginar a quantidade de belezas com as quais você se deparará. Os preços também variam tanto quanto o número de variedades.

Por esses motivos que falamos aqui, como a vastidão de linhagens e sua preservação, bem como o cuidado com suas atraentes caudas, é que eu, pessoalmente, consideraria peixes assim, dentro da classificação de aquário de espécies determinadas, pois para quem está no ramo dos Guppies, mantê-los apenas entre similares, respeitando as linhagens, significa “qualidade”, e deixá-los nos “aquas” comunitários com aquela apetitosa cauda à mostra, é maldade.

Este podcast é apenas uma pincelada no colorido mundo Guppy, mas tenho a certeza de que você nunca mais verá um Guppy da mesma maneira. Se você procura por mais cores para sua vida, certamente os Guppies terão algumas a oferecer! Obrigado pela audiência!

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