Como podemos imaginar, de certo, não estarei aqui falando sobre lagos para usos múltiplos, como “saltos” ornamentais ou pesque-pague, mas tão somente para “peixes” ornamentais. Eles servem para aqueles indivíduos que pretendem expandir suas mentes e projetos para além dos minúsculos cubículos de vidro que chamamos de aquários. Para tais lagos, não há formas ou tamanhos, espécies de peixes ou regras rígidas para alguém que queira montar um. O próprio conceito de lago pode ser aqui expandido para qualquer tanque volumoso, escavado ou de alvenaria, que forme uma lâmina d’água por onde admiramos nossos peixes ornamentais.

Não se trata de um projeto qualquer feito por qualquer pessoa, pois exige amplo planejamento que considera dimensionamento de filtragem, população, localização, construção… tudo o que um aquário poderia considerar, no entanto, aumentado em tamanho e desafios.

Os mais comuns lagos ornamentais, que possuem peixes, envolvem as famosas carpas Koi, as quais podemos ver de longe, com suas cores vibrantes e corpos volumosos. Todavia, nem todas as concepções envolveriam esses peixes, pois podemos ter ciclídeos africanos, peixes amazônicos, peixes asiáticos e por aí vai.
Bora ver um pouquinho do que você precisaria considerar para ter um lago.

Projeto de Construção
Um lago requer diversas etapas de elaboração que podem incluir escavação e modelagem, impermeabilização, uso de alvenaria ou lona (mantas de PVC próprias para lagos), revestimento com pedras, instalação de iluminação e de sistema de filtragem da água. Dá para perceber que se pensa um bocado antes de se pôr as mãos pra trabalhar.
Se formos falar de proporções (tamanho e profundidade) caímos numa questão que, embora relativa, assim como é a escolha da população, pode repercutir significativamente no sucesso do projeto. Sim, porque dependendo da região do país (se houver verões ou invernos rigorosos), é bom você ter em mente cuidados com a temperatura e oxigênio na água, fatores que delimitarão as espécies e os números de animais.

Se a construção se dá no exterior da casa, a escolha do local convém ser observada. Construir perto de árvores pode causar certos problemas, como o crescimento de raízes, que danificam a estrutura, ou a queda excessiva de folhas que, além de prejudicar o visual, incrementa a quantidade de material que será decomposto. Assim como importa escolher um local em que o sol atinja apenas parte do tempo, pois isso facilita a manutenção quanto ao quesito algas, bem como em relação ao controle de oxigênio dissolvido.

A altura da borda faz também toda a diferença, visto que a lixiviação do solo, com a chegada das chuvas, pode levar para dentro do corpo d’água sedimentos, poluentes, material vegetal e todo tipo de elementos malquistos.
Não é à toa que contratar um projeto pronto com quem entenda do assunto é algo que lhe trará certo conforto e economia.

O que posso colocar no meu lago?
Se o clima da sua região permitir, pode inserir praticamente qualquer tipo de peixe. Pense apenas em criar ambiente propícios para eles usando pedras, plantas e layouts que os ajudem a se sentirem bem. Sugestões? Ok, vamos lá.
Os ciclídeos do lago africano Malawi são comparáveis em cor aos peixes marinhos. Amarelos, azuis, vermelhos, laranjas. Cores é que não faltam nesses peixes. Um lago poderia muito bem conter zonas rochosas, para os mbunas (Pseudotropheus spp. Maylandia spp. etc.), e arenosas, para os haps (Aulonocara spp., Sciaenochromis spp. etc.), contendo plantas de folhas grossas que cresçam em pedras e troncos. Para diminuir o problema que a decomposição dos vegetais e também dos resíduos orgânicos das excretas dos peixes que acarreta na diminuição do pH, rochas calcárias, além da adição de sal para ciclídeos, podem compor algo que é, ao mesmo tempo, útil e característico dos lagos africanos.

Se a ideia é ter plantas de mangue saindo pelas bordas, que tal peixes arqueiros para seu povoamento? Quem sabe você não os vê praticando pontaria nos insetos que pousarem nas folhas das plantas emersas? Como layout, é interessante ter uma região com algo tipo uma praia arenosa ou mesmo lamosa (aqui vai precisar de dicas de alguém que entenda mesmo do peixe para poder indicar melhor como usar lama, pois eu não saberia) para ter um saltador-do-lodo e vê-lo passear ao ar livre de vez em quando. Ou mesmo o quatro-olhos (Anableps sp.) para ter um cardume flutuando na superfície com os olhos para fora. Seria legal, não? Nesse tipo de lago, com água salobra, também existe sal próprio para a água e ele será necessário. Acredito que manter bombas fortes apontando para a superfície deem aquele aspecto de ondulação que os mares têm nas praias.

Agora, se você gosta de plantas aquáticas que formem moitas densas, há diversas espécies de tetras que também adoram isso e podem colorir seu lago em incontáveis pontos de cor. Flores brotando à superfície? Ninfeias (Nymphaea spp., Nymphoides spp. etc.) possuem diversas formas e cores, concedendo sombreamento aos peixes abaixo.
Infinitas são as ideias e possibilidades, porém deveríamos considerar, nesses tempos de dengue e outras doenças transmitidas por mosquitos, que o tema exclusivo de biótopos não seja o ideal. Menciono isso porque nem todas as espécies se interessam por larvas de mosquito, assim não esqueçamos de colocar nos lagos peixes capazes de controlá-las. As sugestões envolvem peixes comuns, como poecilídeos (guppies, espadas, platis etc.), caracídeos (mato-grosso, rosáceo e tetras em geral – um lago de tetras nem precisaria se preocupar com mosquitos) e os bettas, campeões nessa tarefa, onde as fêmeas são as mais vorazes. Para ter certeza, consulte a loja responsável pelo projeto – se o povoamento estiver incluso – sobre quais espécies combinam para a mistura, sem que haja agressões entre as espécies (exemplo genérico: mato-grosso possivelmente mordiscaria a cauda dos kinguios).

Problemas de predação
Animais domésticos, como o bichano aí do lado, ou os canoros pássaros da manhã, como bem-te-vis ou martins-pescadores, podem influir na população de peixes de um lago ornamental. Para as crias de peixes, insetos como as libélulas (Odonata), ou melhor, suas fazes larvais, podem representar perigo. Existem técnicas, normalmente dominadas pelas lojas especializadas que fazem os projetos, que auxiliam no bem-estar do lago sem deixá-lo feio.
Adianto que a construção de refúgios será sempre bem-vinda, seja ela por meio de tocas em rochas, uso de aguapés, moitas de plantas, largas folhas de ninfeias, pois, além de abrigar contra o sol, promovem a sensação de segurança aos peixes (e protegem mesmo).

Cuidados com a água
Os lagos malcuidados ou abandonados tendem a eutrofizar, ou seja, acumular nutrientes e fomentar o crescimento de algas. Excesso de sol, filtragem insuficiente, peixes em excesso, ração ruim, entre outros, trarão os efeitos indesejáveis a qualquer um, como explosão de algas, transparência e odores.

Quando falamos em sinônimos para qualidade da água em ambientes tão grandes como os lagos, precisamos inserir um novo conceito que nos permita atingir os objetivos: potência. Pequenas bombas, na dimensão de um lago, serão insuficientes para movimentar os filtros desse ambiente, então você precisará se informar sobre as bombas mais adequadas para isso. Talvez tão indispensável para um lago como uma boa bomba seria o filtro UV, que auxiliaria na transparência da água com o controle de algas.

Se existe espaço livre no seu quintal, por que não pensar num pedacinho de paraíso ali? Ele pode se tornar um local para reunir em volta os amigos e a família (alerta: crianças pequenas perto de lagos precisam SEMPRE estar sob a supervisão de adultos!), permitindo que você desenvolva suas histórias de pescador que estavam guardadas sem ouvintes. Ou apenas um local de meditação para você deixar seus problemas correrem com o fluxo de água, passando pelos filtros e sendo purificados, retornando como pensamentos claros e limpos, capazes de prover a vida saudável e pulsante a que todos nós estamos destinados a ter. Pense bem, pense claro, pense em despender seu tempo da melhor forma possível.

Agradeço a audiência e os aguardo no próximo podcast! Até lá!

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