As Koi, ou também Nishikigoi, são os peixes-símbolo dos lagos ornamentais japoneses. Quem diria, hein? Tudo indicava que o “queridinho do Japão” seria o peixe cujo nome remete a quem nasce no Japão, o japonês ou kinguio (Carassius auratus), mas quem leva o título é seu familiar (família Cyprinidae): a carpa Koi.

Da mesma forma que o Kinguio significa “peixe dourado”, Koi traz o significado de amor ou afeição e Nishikigoi, algo como “carpa brocada”, adjetivando o peixe como os antigos tecidos entremeados com seda e fios de ouro e prata, com desenhos em relevo. Esses nomes carinhosos e apaixonados já nos adiantam como eles são preciosos.

Agora pensa num peixe que pode passar dos 80 cm. Lá na Fishbase.org tem registro de 1,20 m! Grande, né? Então… nesse aquariozinho aí do quarto não vai dar pra colocar um não. Para manter uns desses, você precisará planejar a montagem de um lago ou um espelho d’água, mas de forma com que se possa observar as cores, pois são justamente elas que trazem a “marca registrada” desses peixes.

A brincadeira de encontrar a Koi perfeita começou em idos de 1800, com fazendeiros japoneses que produziam a carpa para o sashimi do dia a dia, competindo (por pura falta do que fazer) pelos espécimes mais coloridos. Cabe dizer que esse peixe é a mesma carpa marrom-cinzenta que vemos serem pescadas por aí (Cyprinus carpio). O que deve ter ocorrido é que, em num certo momento, ela sofreu alguma mutação em seu aspecto e, por meio de seleção reprodutiva, começou a ganhar esse apelo para a ornamentação, tal como temos com betas, guppies ou kinguios. O passatempo virou coisa séria e o comércio de Kois transcendeu as fronteiras possíveis, sendo encontrada em todos os continentes.
Para você, que gosta de pesquisar mais a fundo sobre os temas, embora a maioria dos registros confirmem o que falei acima, encontra-se também a informação de que as Koi são produto de hibridação entre diferentes espécies e subespécies, dentre elas a Cyprinus rubrofuscus. O que importa mesmo para nós do hobby é que temos hoje peixes muito legais.

MONÓTONO COMO UM LAGO DE CARPAS…
Monótono? Se você pensa assim é porque ainda não bateu direito o olho sobre um desses lagos, nem procurou saber mais sobre. Contemplativo, inspirador ou relaxante, talvez possamos entrar num acordo. Monótono não. Graças àquelas competições ancestrais entre os que desenvolveram as variedades, tornando-as magníficas em aparência, misturando o branco, vermelho, preto, laranja, amarelo, marrom, azul e creme, quebrando qualquer monotonia.

E por falar em variedades de Koi, existem diversas, sendo que, dentre elas, a mais comum é a chamada Kohaku, aquela cuja dominância de cor do corpo é branca com manchas vermelhas. Busquei descobrir, nos sites de associações e grupos de criadores de várias partes do mundo, pelo número exato ou oficial do número de variedades, seria algo entre 13 e 20 dentre aquelas que poderíamos chamar de basilares, no entanto, quando são postas para venda, chegam a mais de 100 tipos – pois, por vezes, para ganhar mais, o mercado mergulha em detalhes que incrementam o valor e nomeiam uma nova variedade. Ainda assim, dentre a infinidade de possibilidades, arrisquei trazer para cá algumas, aquelas em que a maioria das fontes consultadas relata como basilares: Kohaku (já citada), Sanke, Bekko, Ogon, Asagi, Showa, Tancho e Utsuri.

Conforme as marcas, cores e estilos que a carpa tenha, seus nomes também são incrementados. Por exemplo: uma Koi Bekko (caracterizada por ter pontos pretos nas costas), pode ser branca (Shiro Bekko), vermelha (Aka Bekko) ou amarela (Ki Bekko); cada uma com nomes específicos, colocados nos parêntesis, correspondentes a denominações japonesas para as cores da carpa.

Como deu pra perceber, são os padrões de coloração que conferem nome às variedades. Por exemplo, a Tancho, caracteriza-se pelo sólido branco, com um círculo vermelho na cabeça; a Sanke, cujo corpo tem manchas pretas ou vermelhas, sem que haja preto na cabeça; ou a Showa, que tem o corpo preto com manchas brancas ou vermelhas; e por aí vai. As composições secundárias também ganham nomes japoneses, como: Ai – azul; Gin – prata; Kin – dourado; Orenji – laranja; Nezu – cinza etc. A partir de uma mera pesquisa no Google Translator pude ver outros significados nos nomes das Koi: Kohaku = âmbar; Utsuri = reflexo; Shiro = branco; Showa = nas minhas costas; Goshiki: cinco cores; Ogon = ouro (mas o certo seria chamar de metálica, pois fecha tanto na cor dourada como na prateada). Só para não fixar tudo nas cores, vale ressaltar a Hirenaga – a borboleta – que tem esse nome por causa das nadadeiras maiores, dando a impressão de asas.
Nos concursos – e há muitos deles – além da solidez das cores e seus padrões, fatores como o formato do corpo e da cabeça contam muito; eles têm pedigree. O fato é que não dá pra ter monotonia com tantas cores e tipos enfeitando seu lago.

TAMANHO DA CASA
Nesse mundão Koi tampouco há unanimidade entre criadores e mantenedores sobre o tamanho mínimo de lago, mas conseguimos achar valores mínimos que acreditamos não fazer mal a ninguém quando seguidos.

Convém colocá-las em lagos que tenham pelo menos 3 metros de comprimento por 1 ou 2 metros de largura, com 1 metro de profundidade. Num lago dessas dimensões, com filtragem bem dimensionada, seria possível manter em torno de 8 carpas, com tamanhos de cerca de 30 cm.
E não existem apenas lagos de carpas nos jardins e quintais, há que os construa dentro de casa mesmo. Já imaginou um espelho d’água junto a um jardim de inverno? “Aí vai ficar aquele cheiro de peixe! Minha casa não é nenhuma feira livre!” De certo que não e por isso falaremos de um dos primeiros fatores que se precisa ter em mente: filtros e movimentação da água.

ESPELHO, ESPELHO MEU…
Talvez você ainda esteja com a imagem daqueles lagos de pesque-pague, de água verde, mas não é por aí. Para que você compraria as carpas mais lindas, se você não conseguisse vê-las no seu lago? Para que eu falaria sobre peixes que você nunca verá? Ser nacionalista é uma coisa, mas ter a água verde em homenagem à bandeira do Brasil não fica bem para os hobbistas. Nesses lagos ornamentais, buscaremos sempre uma água cristalina, utilizando bons filtros, ligados 24 h por dia, assim como nos nossos aquários, os quais executarão a filtragem física, biológica e química (dica: o uso do carvão ativo permite deixar a água inodora).

A regra de ouro para as Koi é: quanto mais peixe (não em número, mas em peso), melhor dimensionada e mais eficiente deve ser sua filtragem. O tópico exige mais leitura, certamente, mas de antemão já adianto para nunca usar filtragem que não alcance pelo menos 1,5 do volume do lago por hora (isso é coisa pra caramba!). Dá pra ver que não é qualquer bombinha que fará o trabalho certo. Assim, tanto para a circulação da água – porque as carpas precisam de água bem oxigenada – como para fazer os filtros funcionarem, escolha bombas com maior capacidade e de consumo de energia reduzido.

Para fechar o ciclo de filtragem e deixar a água cristalina, espelhada e saudável, o filtro UV é quase indispensável. Ele atua diretamente sobre as algas verdes, sem falar que auxiliam no controle de outros micro-organismos. E claro, as trocas parciais! Não é por que se trata de um espelho d’água, que não seja necessário a troca semanal de 10%, que é altamente recomendável! O interessante é observar os comentários de quem tem lagos de Koi, pois muitos dizem que sua manutenção é infinitamente mais simples que a de piscinas; como você mesmo pode prever, muitos donos de lagos de Koi são ex-donos de piscinas.

PRA VIDA TODA…
Pouca coisa no mundo de hoje é para a vida toda, não é mesmo? Não no lago de Koi. Esse esmero todo não é à toa. Considere o fato de que a Koi será um peixe que ficará ao seu lado por toda sua vida, pois eles podem viver por até 50-70 anos. São tão dóceis que, depois de se acostumarem com você, há relatos que eles reconhecem seus passos, seu chamado e vêm à margem comer na sua mão. E comer é o que fazem de melhor.
Numa água propriamente filtrada, com administração correta de boa ração, uma “carpinha” de 15 cm dobra seu tamanho em 1 ano, ou mesmo antes; em 5 ou 10 anos já terão atingido seu tamanho máximo – em média 80 cm, mas com registros de peixes bem maiores. O que elas comem pra crescer assim?

DIETA – PONTO CRUCIAL
São peixes onívoros, comendo o que estiver disponível, desde insetos, vermes, restos (plantas e animais) e mesmo filhotinhos de peixe. Mas não é porque elas comem de tudo que daremos qualquer coisa a elas. Como todo ser vivo, as Koi têm exigências nutricionais e, quando falamos em proteínas, precisamos saber que ela diminui na dieta com o aumento da idade – quando filhotes é em torno de 50%, passando pela casa dos 30% até 25% quando as carpas estão adultas. Isso tem a ver com a mudança de hábito alimentar do peixe ao longo da vida. Acentua-se que a overdose de proteína deixa o peixe fisiologicamente estressado, com possível sobrecarga no fígado e baixa resistência imunológica. Um peixe assim provavelmente não atingirá a vida longa prometida.

Para saber qual é a ração ideal, além da informação nutricional, aspectos como o tamanho e a flutuabilidade dos grãos também contam, sendo esta última bem interessante de se pensar sobre. Quando vamos dar comida, precisamos saber a quantidade do alimento que deve ser dada, a qual é calculada com base no peso dos indivíduos no lago – algo entre 2 e 5 % do peso dos peixes por dia (o ato de alimentar pode ser feito duas vezes por dia, mas há quem faça mais vezes, embora a quantidade total diária seja a mesma). Se os grãos flutuam, fica fácil minimizar o desperdício, já que você pode visualizar o consumo. O excesso de ração influirá na qualidade da água, no que diz respeito à quantidade de fósforo e nitrogênio, além de prejudicar o desenvolvimento da Koi. Do contrário, alimento abaixo da quantidade requerida, implica em menos nutrientes, deixando o peixe suscetível às doenças.

Observe e consulte quem entende do assunto, pois seria interessante você cuidar de detalhes da ração como os corantes e gorduras. Para o primeiro, aconselha-se àquelas que usam insumos naturais como vitaminas C e E ou os carotenoides. Quanto ao segundo, o excesso na dieta tem impacto negativo tal qual tem para nós humanos: o armazenamento de gorduras no corpo acontece em torno dos órgãos, comprometendo-os tal como na diminuição da fertilidade.

Well… o assunto é tão grande quanto o peixe tratado aqui e nossos podcasts nunca têm a pretensão de esgotar o tema, mas apenas fomentar mais curiosidade e interesse. Como vimos neste, as Koi não são tão exigentes quanto são especiais, mas gostam de ser bem tratadas, mostrando ao cuidador o quanto gostam, exibindo cores e saúde. Não monte, porém, um lago sem antes consultar alguém que entenda do assunto, pois nada mais desanimador do que ver o lago esvaziando por causa de infiltração da água no solo ou um lago de águas verdes que serve mais para os sapos e cianofíceas que para as carpas. Invista em profissionais qualificados e veja seu sorriso crescer tanto quanto as carpas! Boa sorte com as suas Koi! Obrigado pela audiência e até a próxima!

 

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