Pode ser que você esteja começando agora no aquarismo e queira saber com que peixes começar ou mesmo que em sua vida aquarística você tenha se deparado com pessoas que falam “esse peixe é fácil de manter” e nunca tenha parado pra pensar no porquê. Eis que vem o Johnny, que nunca para de perguntar “por que?” e decide esmiuçar isso num podcast.

Dessa vez eu tentei entender o que significaria classificar um peixe como “fácil de cuidar”, peguei alguns exemplos e expandi conceitos para criar uma espécie de classificação…boa ver se o troço funciona.

O QUE TORNA UM PEIXE “FÁCIL PARA SE CUIDAR”?
Forçando a barra, um peixe ideal deveria: 1) resistir a tudo, 2) exigir poucos cuidados e 3) se comportar tal como sonhamos. Falando assim nem pareço um hobbista…ainda bem que é só pra desenvolver a ideia, porque sei que as coisas não funcionam assim. Partindo dessa indecência, olhamos mais de perto e retiramos os pontos de análise: dieta, doenças, condições e parâmetros de água, sociabilidade e comportamento da espécie, tamanho do indivíduo…basta? Acho que pra começar, sim. Para que um peixe seja considerado fácil de cuidar deverá pontuar positivamente na maioria desses tópicos que vamos discutir agora:

Comportamento. Vou começar por este, pois a maioria dos aquaristas não lida com uma só espécie no aquário, mas sim aquas comunitários, onde há várias espécies misturadas.

Pense comigo: e o que há de pior em peixes brigando ou destruindo o layout? O desgosto de ver as coisas saindo mal é imenso, mas temos como prever ou contornar isso. Assim, poderíamos dividir este quesito em 3 classes: peixe sociável; peixe comportado; e peixe em período reprodutivo.

Peixe sociável é aquele que sempre sabe conviver com outros, seja em cardume, seja em pares ou solitário. Peixe comportado seria aquele que sabe se portar no local onde está, ou seja, não escava o substrato e não come as plantas. Agora, temos uma situação que muda (significativamente) o comportamento dos peixes: reprodução.

Imagine um peixe que durante a época reprodutiva forma casal e se torna agressivo e territorialista. Sai de bem-comportado ou sociável para agressivo e desordeiro; escava o terreno, desplanta todos os vegetais, persegue e machuca outros companheiros de aquário etc. Neste momento de reprodução especificamente ele pode se tornar indesejável quando a meta do hobbista for ter apenas uma “televisão” natural para desestressar. Assim, acredito que também valha a pena investigar se o peixe tem hábitos “condenáveis” quando em época reprodutiva.

Alimentação. Dieta não restrita é o ideal; o famoso “esse come de tudo” (ou tecnicamente: onívoro). Este quesito não tem subdivisões que merecessem atenção, bastaria se pensar que um peixe que seja estritamente herbívoro requer mais cuidados especiais do que um que possa comer itens variados na dieta; do outro extremo, que um peixe piscívoro necessitaria comer peixes e teria a nutrição debilitada no caso de receber ração pobre em proteína. Para pontuar aqui (como “fácil de cuidar”), o peixe deveria aceitar facilmente vários itens alimentares.

Por outro lado, esta conversa aqui não se volta para descuidar da alimentação ou dar, por exemplo, rações de baixa qualidade. Ainda nos mantemos no hobby e isso implica e dar o máximo de atenção aos nossos amigos aquáticos.

Água. Aqui também vou subdividir para facilitar a visualização: 1) Parâmetros e 2) Qualidade. Para os Parâmetros me refiro à temperatura, ao pH, à dureza ou até salinidade; para Qualidade seria coisas sobre a condição da água ou existência de compostos nitrogenados (amônia, nitrito, etc.).
Para pontuar aqui, o peixe precisaria se encaixar em grandes intervalos de parâmetros ou algum nível de condição de água. Para aqueles que já conhecem um pouco do aquarismo, o certo é falarmos apenas dos parâmetros, já que entrar na segunda subdivisão, seria falar de água malcuidada. Assim, simplificando, quando um peixe possui bons intervalos de temperatura ou de pH, ou não requer água salobra (por exemplo), já está bem classificado!

Tamanho de Peixe. Convenhamos, do que adianta ter tudo perfeito no seu aquário de 60 cm, se os seus peixes estão previstos para alcançar 40cm cada um? E com isso, em breve, você teria que comprar outro aquário ou se desfazer dos peixes. A meu ver, parece ilógico e contraproducente, gastar dinheiro a toa no aquarismo moderno não faz sentido. Pensando nisso, imaginei que peixes ditos “ornamentais de aquário” deveriam ter um tamanho compatível com a média dos aquários populares: eu chutaria um tamanho de até 12cm (tam. máx.) para pontuar aqui.

Dimorfismo sexual. Pode parecer piada falar de casos em que seja mais fácil manter um espécime macho ou fêmea, em relação ao sexo oposto da mesma espécie. Aparentemente considerar isso é completamente irrelevante, porém, em casos específicos pode surtir algum sentido. Pense nos machos selecionados de Betas e de Guppies de raça com suas monumentais nadadeiras. Quando os apêndices são exagerados demais, alguns cuidados extras se fazem necessários, em especial, escolher a companhia para habitar o mesmo aquário e, claro, a qualidade da água. Isso pode significar que são mais difíceis de manter. Para pontuar aqui positivamente aqui, a espécie de peixe deveria ter machos (geralmente os que carregam as características chamativas) e fêmeas que não destoam demais na diferenciação entre os sexos, a ponto de criar desvantagens para um deles.

O QUE NÃO DEVE SER CONSIDERADO?
Expectativa de Vida. Longevidade é um termo relativo para estas considerações. Muitos peixes têm vida de apenas poucos anos, assim, não é porque um peixe viveu 3 e outro 8 anos no seu aquário que o primeiro seja “difícil” de manter. A questão aqui pode ser tão somente o fato do primeiro peixe (por exemplo, um paulistinha) ter vivido plenamente sua expectativa de vida, enquanto o segundo (por exemplo, um acará-bandeira) também…são peixes diferentes, com expectativas fisiológicas de vida diferentes.

Origem. Se um peixe é africano, sul-americano, asiáticos, de rio, ou de lago, não são os fatores determinantes para dizer se o peixe é mais fácil ou mais difícil de se manter. Isso certamente ajuda para saber com que peixes podemos misturar e entender certas características, mas isoladamente não torna um peixe mais fácil ou difícil de se cuidar.

Para tentar visualizar melhor, nas espécies que resolvi destacar, perceba como tentei acentuar as características que falei anteriormente.

Zebrinha ou Paulistinha (Danio rerio)

Fonte: https://www.aquasnack.co.uk

O Paulistinha, ou Zebrinha, é asiático (Paquistão, Índia, Bangladesh, Mianmar e Nepal). Segundo a Fishbase os parâmetros de água são os seguintes: pH: 6.0 – 8.0; dH: 5 – 19; temperatura: 18°C – 24°C. Observe como os intervalos são variados, pH de ligeiramente ácido a alcalino, dureza e temperatura que contemplas diferentes condições. Detalhes assim também chamaram a atenção de cientistas no mundo todo, sendo que o animal é usado em pesquisas genéticas e de análise de poluentes. E isso tudo pra um peixinho que fica entre os 4-5 cm e chega a 3-5 anos de vida.
Habitam rios, riachos, canais ou lagos, onde se alimentam de vermes, crustáceos e larvas de inseto; já no aquário aceitam quaisquer rações ministradas para aquas comunitários.

Vivem em pequenos cardumes. Embora seja daqueles peixes que não param quietos nos aquários, tem um comportamento sociável e pacífico. Ainda assim não é aconselhável misturá-lo com peixes cujas nadadeiras sejam muito compridas, pois podem criar o hábito de mordiscá-las.
Para mim, analisando pelos critérios que expliquei seria um dos mais pontuados, ou seja, classificado como fácil de cuidar.

Tanictis (Tanichthys albonubes)

Fonte: https://www.aquasnack.co.uk

Por falar em pesquisas científicas e bem pontuado peixe de aquário, temos o Tanictis, utilizado muito em experimentos de qualidade da água. Segue de perto o Zebrinha na questão de parâmetros de água: pH: 6.0 – 8.0; dH: 5 – 19; temperatura: 18°C – 22°C e também no tamanho: 4 cm.
Também asiático (China e Vietnã), é encontrado em córregos limpos e de fluxo lento, nadando em cardumes entre vegetação (encontrei notas de que se encontra extinto no ambiente natural…triste). Quanto ao seu lado “Rambo”, destaca-se o fato de serem especialmente resistentes a temperaturas baixas (há registros de terem suportado águas de até 5ºC). Alimenta-se de zooplâncton e detritos.

Mato-grosso (Hyphessobrycon eques)

Fonte: https://www.aquasnack.co.uk

E pra não falar só dos estrangeiros como sendo os melhores em termos de “mais fácil de cuidar”, trago o nosso Mato-Grosso, peixinho de cardume que chega a uns 3 cm em média, vindo de bacias brasileiras. Preferem águas calmas (os parâmetros de água são: pH: 5.0 – 7.6; dH: 10 – 25; temperatura: 20°C – 30°C), com bastante vegetação, onde comem vermes, crustáceos, insetos e plantas, no caso, como uma parcela bem em segundo plano.

Espécie gregária e pacífica, mas que pode mordiscar peixes de nadadeiras longas ou natação lenta. Este comportamento fica mais acentuado quando são mantidos em pouco espaço ou em pequeno grupo (6+).

Peixe Espada (Xiphophorus hellerii)

Fonte: https://www.aquasnack.co.uk

Mais um sul-americano que trago, por ser muito comum nos aquários e lojas. Este vem da América do Norte e Central (México a Honduras). Maior que os exemplos que trouxe até agora, pois seu tamanho adulto é reportado para 16 cm, todavia, como também é dito que a média é 10 cm, achei-o um peixe de boa pontuação. Vive uns 3 anos, é pacífico e onívoro. Os parâmetros de água são: pH: 7.0 – 8.0; dH: 9 – 30; temperatura: 22°C – 28°C.

Observe que ele pertence a uma água mais quentinha que os outros exemplos, mas cabe reportar que este peixinho aqui é um grande conquistador de ambientes, vencendo muitas adversidades locais. Essa característica o deixa registrado em alguns países como causador de impactos ambientais e confere a ele uma boa pontuação no sentido “fácil de cuidar”.

De exemplos ainda poderia trazer dezenas, mas nem o seu tempo, nem sua paciência e concentração são infinitos, não é mesmo? Aí temos que objetivar!

Aviso aos navegantes!
Aos mais perspicazes, que leem bastante, fazem questionamentos e acompanham os podcasts, é capaz que algo já tenha saltado aos olhos. Talvez seja possível associarmos os peixes “mais fáceis de cuidar” àqueles que possuam maior habilidade de resistir às adversidades do ambiente natural e que hoje estejam entre as espécies consideradas invasoras ou com potencial de invasão.

Já estamos carecas de saber que não pode soltar peixinhos na natureza sem a devida autorização das autoridades ambientais, mas é bom alertar que alguns podem ser mais danosos que outros.

Assim, a ideia do podcast é apenas mostrar que existem peixes que podem ser mais indicados para iniciantes, por terem maior robustez. Não tento, porém, dizer que eles estão aí para experimentos de resistência, são seres vivos e devem ser tratados com o mesmo respeito que os peixes mais sensíveis e caros. A ideia do hobby se mantém e é prover o melhor para nossos companheiros.

Com isso, caros ouvintes, chego ao fim de mais esse podcast…espero ter trazido algum conteúdo interessante e desejo revê-los no próximo…até lá e obrigado pela audiência!

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