Kinguio, Peixe Dourado (goldfish em inglês) ou Japonês, muitos nomes para um mesmo peixinho, super comum e todos conhecem…conhecem mesmo? Vamos testar…trago hoje uma porção de nomes de variedades do Kinguio para ver se estamos todos na mesma faixa ou se ainda há o que aprender sobre eles…já adianto que sim, tem muita maravilha oculta nesse novo universo do aquarismo.

Como todo peixinho que está há muito no hobby, centenas de aquicultores e aquaristas já tentaram (e conseguiram) aprimorar variações de cores e formas, as quais alguns podem querer chamar de raças…eu prefiro chamar variedades, até porque vamos usar o termo “raça” para outros propósitos.

Essa história não se encaixa em nossos tempos modernos, mas sim advém de tempos muito antigos, nos primórdios do que poder-se-ia chamar aquarismo. Tudo começou a partir de um peixe chamado Carpa Cruciana (Carassius carassius), um importante peixe de cultivo para alimentação, quando ele mostrou uma corzinha diferente do verde acinzentado costumeiro; isso foi durante a Dinastia Jin, na China, nos anos de 265 a 420 (não esqueci nenhum número não, é antigo assim mesmo). Daí vieram seleções de cores para habitarem lagos de jardim, como peixes ornamentais mesmo, entre 618 e 907 (Dinastia Tang), até os de cor amarelo-dourado se tornarem símbolo da família imperial entre 960 e 1279 (Dinastia Song) e serem proibidos de serem criados pelos plebeus. Tipo, tem muita estória pra contar, mas o que importa mesmo é chegarmos aos tempos modernos, onde há uma linha de pesquisa que atribui que essa carpa seja a mesma espécie do Kinguio (Carassius auratus), porém, não consegui confirmar o que predomina hoje em dia e optei pelo seguro. 

O básico

Seu nome científico é Carassius auratus. Sua origem: Ásia Central e China (eu já achei que seria um choque para todos aqui, um peixe chamado japonês só que de origem na China, mas não…o Fishbase também aponta o Japão como país de origem, ou seja, não vou poder fazer trocadilho algum aqui…muito triste isso! A verdade é que foram introduzidos no Japão durante os séculos 17 e 18, isso no que se refere às variedades que hoje temos para o aquarismo). Parâmetros e água: pH 6 a 8, dureza: 5 a 19; temperatura 0 a 41º C (um absurdo espectro com certeza, lembrando que isso não é para ser testado, nem se refere ao que o peixe suporta num só dia…isso fala de extremos das estações climáticas de seus ambientes e “MUITO CUIDADO!”, algumas variedades selecionadas de goldfishes são pouco tolerantes a águas extremamente frias, como os lionheads). Nos registros, a idade máxima é de 41 anos e o tamanho máximo de 48 cm, embora o comum dentre as variedades seja bem menos que isso, como veremos.

Parece não haver nada de novo ou interessante no que disse até agora, pois você já conhece um monte de tipos: telescópio (aquele zoiúdo), cauda de véu, sete cores e sabe que é um peixe pra lá de resistente blá, blá, blá…e você está certo, até aqui, nada de surpreendente. Preferi partir do básico e ir para onde quero: a ideia é me voltar à raiz e trazer para o conhecimento às variedades que enchem os olhos dos entendidos nesse ramo do aquarismo.

 No entanto, é possível que você tenha se deparado com exemplares tão mais caros que a média que imaginou que o lojista estava tirando uma com sua cara. Considerando que você tenha ido a uma loja responsável, se for possível você sondar sobre a origem de tais exemplares caros, verá que descendem de criadores qualificados, que se preocupam em importar matrizes, não misturar com exemplares menos qualificados e que prezam pela perpetuação daquela variedade nos moldes da criação tradicional.

“Santo Deus das águas frias, o que esse cidadão está querendo dizer? Pra que um podcast inteiro pra falar do peixe mais comum que existe?” É aí que está a graça: assim como temos guppies ou carpas Koi, temos também Kinguios de raça. Pode anotar, é isso mesmo! Kinguios de raça que se duvidar têm “pedigree”. 

Eu era daqueles que achava que o peixe japonês era tudo “igual” (claro que não pensava isso, mas não via muita graça no que havia), até ir à 1ª Exposição de Kinguios de Raça de Brasília, um encontro organizado pelo Kingyo Clube de Brasília (KCB), em novembro de 2021 – eles têm Insta, pode procurar. Além de conhecer um monte de gente massa, dedicada ao Hobby, apaixonada pelos peixes, fui apresentado a um mundo muito interessante e colorido. E daí que surgiu a ideia de levar isso a mais pessoas.

Dentre as mais comuns variedades desenvolvidas para o hobby, trouxe 5 das mais top. Não me ative às características técnicas do tipo “se foram criadas para serem admiradas por cima ou lateralmente”, escolhi apenas pelo meu gosto mesmo, incluindo variedades com e sem capuz (também conhecido como Wen). Bora conhecê-las:

LION HEAD

Pode ser que seja uma das mais antigas variedades de Kinguio. Nesta variedade o capuz cobre completamente a cabeça; o corpo é orientado de forma mais retilínea (especialmente se comparado ao encurvado Ranchu e esta característica torna-se a mais marcante para diferenciá-los). Possui nadadeiras curtas e não possui nadadeira dorsal. O tamanho máximo atribuído é de 15 cm.

RANCHU

Um dos xodós das raças de Kinguio. Este tem origem numa série de cruzamentos consecutivos entre espécimes de Lion Head. Há uma referência de um livro japonês de 1748, Kingyo Sodoteguso, que fala dessa variedade e aí temos uma noção de quando falamos que são peixes seculares e não modernos, mas que transcendem pelos tempos. Ela não é rara de se ver em lojas, mas exemplares selecionados e de qualidade superior são. 

O Ranchu é identificado por ter uma curvatura muito acentuada da espinha dorsal, ter nadadeiras curtas e não possuir nadadeira dorsal – a curva do pedúnculo caudal dobra acentuadamente no final. Esse estilo de peixe é conhecido como egg shape ou formato de ovo, onde até ¾ do peixe são “barriga”. Chegam entre 15 e 20 cm de comprimento. 

ORANDA

Esse é lindo, vai! Dos cinco que eu trouxe, seria este uma das minhas duas escolhas (confesso que mesmo possuindo tradição, os primeiros não me seduziram, pois ainda os acho “estranhos”). O Oranda tem o capuz bem pronunciado, cobrindo a cabeça e o opérculo (às vezes recai sobre os olhos e o aquarista deve intervir). Possui todas as nadadeiras, incluindo a dorsal, as quais podem ser de tamanho comum ou véu (nem vou entrar mais a fundo nas variedades de Oranda, até porque não sei explicar a esse ponto, mas já adianto que existem…). Chega a 20 ou 30 cm.

RYUKIN

Esta raça é mais “alta”, com uma curva acentuada que começa logo após a cabeça, a qual se destaca sob um formato pontiagudo ou triangular. Não tem capuz e suas nadadeiras podem ser longas ou curtas; a caudal pode ser tanto tripla, quanto quádrupla (quatro lóbulos).  Alcança até 21 cm. 

DEMEKIN

Telescópio! Pra mim já falou tudo, porque é um dos “modelos” que mais me atrai – não falo daqueles “olho-de-bolha”, dos quais não tenho apreço nenhum – especialmente nas cores selecionadas que os criadores top de linha produzem, com laranjas e pretos aveludados…lindos! Esta seria minha segunda escolha. Também pode chegar aos 20 cm. 

Informações gerais sobre os Kinguios de raça

Diferente do que vemos dos dados científicos, os peixes de aquário têm diferentes números. A média da longevidade fica entre os 15 e 20 anos e, embora não sejam exigidos aquecedores e termostatos, alguns criadores mencionam que o ideal para os manter é uma faixa de temperatura de 15 a 28 °C (li textos em que foi mencionado a sensibilidade do Lionhead às extremidades de temperatura baixa…mas não é unânime esse testemunho). 

Agora, o que mais importa são as variações de pH (que deve ser sempre tendendo para o alcalino = acima de 7) e da qualidade de água. Eu até entendo, porque especialmente os encapuzados podem se dar mal por causa da grande “juba”, que parece ser mais suscetível a ataques de bactérias e também fungos, tal qual são nadadeiras longas. 

O volume de água disponível num aquário também se torna essencial. Nesse estudo, me deparei com 2 “fórmulas”: 1) 75 litros por peixe (sempre que se calcula, é considerado o tamanho máximo do peixe) ou 2) 50 litros livre + 30 litros por peixe. Seria algo assim (considerando 20 cm o tam. máx): comprei 3 Oranda e 4 Demekin…na 1ª fórmula o aquário deveria ter de 525 litros e na 2ª uns 260 litros. Chocante a diferença, confesso, e como a 2ª me foi dita por pessoas que criam e lidam responsavelmente com seus peixes, acho a fórmula plausível de ser seguida. A única coisa que as fórmulas concordam é que aquas abaixo dos 80 litros não são bons para Kinguios. 

“ah, então vou comprar só um e ponho num aqua pequeno”…não é bem assim, os goldfishes são sociáveis e o ideal é manter alguns exemplares no mesmo aquário. Por outro lado, por serem lentos, e muitas vez com longas nadadeiras, não convém os misturar com peixes agitados ou mordiscadores…na verdade, os hobbystas frisam para não se misturar com outras espécies e ponto! Só faço uma parte aqui: no caso de habitarem lagos externos, adianto que não são peixes com relevante potencial de predação de larvas de mosquitos, alguns guppies podem ser adicionados ao lago para tal.

Comida? Eles podem se alimentar sobre um amplo espectro alimentar, contudo, interessa ao aquarista fornecer alimento que afunde, evitando que ele tenha que vir a superfície se alimentar. Existem rações próprias para eles. 

E por falar em ração que vai para o fundo, como já adiantado, a qualidade da água é primordial. Projete um sistema que gire de 4 a 5 vezes o volume de água por hora. Os fluxos de água devem ser verticais, não horizontais, especialmente quando você possuir raças que não possuam todas as nadadeiras – o gasto energético para esses peixes se manterem estabilizados no nado é maior e, assim, deve-se evitar, por exemplo, bombas submersas (para esse aquas, elas não são desejáveis). Entenda, no entanto, que a movimentação da superfície é importante, para que haja otimização na troca gasosa e, assim, oxigenação da água.

Então, o que achou? Kinguio continua tudo igual? Animou de ter uns rechonchudos desses aí num aquário próprio pra eles? Eu confesso que tinha uma ideia antes e outra depois de ir ao encontro de hobbystas de Kinguio aqui em Brasília. Não era só porque a galerinha era massa não, mas sim pela quantidade de peculiaridades e maravilhas que consegui sondar a partir dali…as cores, as formas, o nado, os sistemas de criação, os tipos de tanques ornamentais – tanto aquários tradicionais como do tipo “bowl” e o próprio estudo das linhagens…achei fascinante todo o contexto e mudei minha mente para eles.

No mais, acho que é bom ir terminando por aqui, agradecendo uma vez mais sua audiência. Espero ter trazido algo interessante para agregar conteúdo ao seu conhecimento dentro do hobby e também espero encontrar você aqui no próximo…abraços e até lá! 

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