Alguns peixes ornamentais de aquário não são tão conhecidos pelos amantes do hobby, seja por serem de um trato que exija mais conhecimento por parte do hobbysta, seja por não terem facilidade de serem comercializados e poucas lojas conseguirem adquirir para revender. Sabendo que nem todo mundo tem acesso às mesmas lojas país afora, resolvi fazer um podcast que fale de peixes com peculiaridades, que alguns podem até achar esquisitões.

Então, a partir da minha ótica do que seria “pouco conhecido nas lojas de aquário”, resolvi listar alguns peixes começando pelo que seria mais comum ao mais incomum… será que você concorda? Vamos ver o que tem pra hoje…

Iriatherina (Iriatherina werneri)

Tenho certeza de que muitos acharão esse peixe comum, mas como não está tão presente no comércio quanto os populares, resolvi destacar, até mesmo pela exótica forma de nadadeiras alongadas e afiladas, (quase todas: as duas dorsais, anal, caudal e pélvicas) como um dos incomuns.
Além do nome que falei, também é conhecido como um dos “peixes-arco-íris” da família das melanotenias (Melanotaeniidae)…ainda assim, pra mim, só ouvi mesmo “Iriaterina”.

Não é difícil de manter, comem de tudo (ração e alimentos vivos). O pH registrado fica entre 6.0 e 8.0; temperatura tropical: 26 a 30°C. Conforme a Fishbase.org, sua ocorrência se dá na Oceania: mais especificamente no centro-sul da Nova Guiné e norte da Austrália. Seu ambiente natural consiste de áreas pantanosas, canais de drenagem e riachos com vegetação abundante (esta última é uma super dica para quem for manter a espécie, pois os casais utilizam as plantas para reprodução). Tamanho máximo ótimo: o macho, que é maior, chega a uns 4 cm (eles também são os mais coloridos). A única desvantagem que vejo: é atribuído a esse peixe uma vida curta, de até uns 3 anos.

Badis (Badis badis)

Lendo aqui no texto até pareceu uma cacofonia ou um eco, por repeti o nome 3 vezes… mas é isso mesmo: Badis é o nome. E agora que você sabe isso, adivinha o nome da família dele: Badidae! Criatividade em alta para os taxonomistas! (rsrsrs)

Para esse aqui, já começamos com a dica de que não é indicado para iniciante: primeiro porque embora seja um nanico (5 cm) ele tende a ficar agressivo (especialmente com peixes da mesma espécie) e o aquarista deve escolher peixes que nadem em outros estratos do aquário (meia água e superfície); é uma espécie que vive próxima ao fundo e se mostra territorial quando estabelece um cantinho para si. Além disso, existem relatos de problemas quando alimentados com bloodworms e tubifex, sendo que muitos aquaristas excluem esses itens do Menu, além do fato de possuírem uma extrema timidez (que pode parecer até recusa do alimento ministrado).

Bonito? Eu acho…Seu corpo tem um aspecto castanho, com manchas e barras verticais escuras, mais evidentes quando em períodos reprodutivos ou momentos de estresse – a facilidade com que muda suas nuances deu ao Badis um outro codinome: “peixe camaleão”; todavia, sabemos que camaleão tem o intuito de se camuflar ao ambiente e o propósito deste peixe é outro. Especialmente nos machos podemos encontrar a cor azul ou vermelha, distribuída especialmente sobre as nadadeiras, dependendo da variedade do peixe. Alguns exemplares mostram-se realmente coloridos. Tais variedades são determinadas de acordo com a distribuição do peixe, que é bem ampla. O Badis pertence ao sistema do rio Ganges, que engloba a Índia, Bangladesh e Nepal, com relatos de ocorrência também no Butão e Paquistão.

Cosmopolita e versátil, diria, pois o Badis é encontrado tanto em rios e lagoas, como em valas, canaletes e até mesmo em charcos pantanosos; ambientes cujo fundo pode ser lamoso ou arenoso, normalmente com vegetação ao redor e baixo fluxo de água. Muitas vezes o ambiente do Badis é descrito como de água levemente turva e de coloração amarronzada. Nesses locais o pH mais comum está entre 6.0 e 8.0, com água mole e temperaturas de 14ºC a 30ºC. Olha, confesso que como hobbysta eu evitaria esses extremos de temperatura e escolheria uma média, tipo 22º ou 24ºC, procurando não forçar o animal aos limites do corpo.
Outra confissão: quando vejo as imagens do Badis badis, me vem à mente um aspecto de ciclídeo; por vezes me lembra até um Apistogramma. Tal como neste gênero, o peixe escolhe uma toca, a qual defenderá com afinco, e ela será o local onde a fêmea deixará seus ovos adesivos, postos na parede. Até adianto que é o macho quem cuida da desova e da prole, porém, é com os membros da família Osphronemidae (tricogaster, colisa, beta etc.) que ele se aproxima. Traços de um ancestral comum deram ao Badis o comportamento reprodutivo similar, incluindo o “abraço” característico ao redor da fêmea. Além disso, na presença de fêmeas, os machos iniciam um display, onde adquirem um corpo escuro e aumento de cores nas nadadeiras. O vencedor atrai a fêmea para o seu cafofo. As fêmeas, por sua vez, são menores e menos coloridas, não possuindo essa agressividade exacerbada.

Na humilde residência – na “Badis Caverna” (outro trocadilho infame) – a fêmea depositará entre 30 e 100 ovos, sendo, após terminar a postura, literalmente expulsa da toca pelo macho, que a partir daí se encarregará de cuidar dos ovos e dos filhotinhos. Mas não se engane, a tutela vai até um certo tempo: ovos eclodem em 2 ou 3 dias, consomem o saco vitelínico entre 6 e 8 dias e ainda podem permanecer por mais 7 na segurança da toca. Após isso, de filhos podem se transformar em fast food. Eles, no entanto, sairão de casa instintivamente, à procura de alimento e abrigo. Para otimizar o número de filhotes que vingam, o ambiente não deve possuir outros peixes. Se o layout que você desenvolveu considerou isso também, musgos e plantas que cresçam em moitas podem fornecer a proteção necessária.

Para saciar a fome dos pequenos, que se mantêm praticamente parados em seus esconderijos (também por instinto), microvermes são ministrados nos instantes iniciais, até quando começarem a ousar o nado; nesse instante é que podemos dar náuplios de artêmia.

Peixe-folha (Monocirrhus polyacanthus)

O outro membro do nosso elenco é um amigo amazônico, único do gênero, o qual está distribuído numa extensa zona que abarca os seguintes países: Peru, Brasil, Bolívia, Colômbia e Venezuela.
É um peixe similar a uma folha morta. Está presente em corpos d’água de baixa movimentação (ou nenhuma), onde se acumulam folhas caídas das árvores. Ambiente assim, denota imediatamente um quesito para se manter um peixe-folha num aquário: amplamente vegetado, água ácida – o pH deve ficar em torno dos 5 e 6 – e a água deve ser mole, tal como a black water, com temperaturas entre os 22 e 25ºC.

Tímido e passivo, gosta de ficar parado e escondido em meio à vegetação. Por que? A capacidade de ajustar a coloração para se misturar ao ambiente não é a única coisa que impressiona neste peixe, ele também é um exímio mímico. O que ele faz é imitar o deslocamento de uma folha na água. Ele mantém a cauda pra cima, parecendo o talo de uma folha, usando suas nadadeiras peitorais transparentes para um leve deslocamento. O peixe-folha amazônico não é grande, chega a cerca de 8cm, mas é um predador ativo e não é aconselhável para ser mantido em aquários onde existam peixes que caibam em sua boca. Desavisado, o peixe-alvo, ao passar perto da “folha morta”, sequer tem tempo de perceber o que ocorre, ele projeta sua boca pra frente, de surpresa, succionando a vítima numa velocidade tão absurda que é até difícil de ver. Peixes de considerável tamanho podem ser pegos por ele. Contraindicado para iniciantes por causa desse hábito, que é o reflexo do único tipo de alimento que aceita: alimento vivo (de pequenos vermes, quando nenéns, a piscívoros, quando adultos).

Importante destacar que mesmo pertencendo a um ambiente com folhas e água marrom, este peixe é sensível à deterioração da qualidade água. Quem o mantém num aquário fala da quantidade de vezes em que deve ser feita a troca de água (troca parcial): 2 ou 3 vezes por semana, de 20 ou 30 % do volume. Isso denota a necessidade de se ter preparada água ácida para a reposição.

Peixe-Elefante (Gnathoemus petersii)

Esse eu nunca tive, mas queria ter. É um peixe elétrico vindo da África que possui um corpo super diferente: a cabeça possui uma protuberância que se assemelha a uma tromba de elefante. Seu nome, etimologicamente falando, significa, a grosso modo: mandíbula/boca longa. Sua distribuição é ampla por aquele continente, sendo que encontrei os seguintes países como locais de ocorrência: Camarões, Congo e República Democrática do Congo, Mali, Níger, Nigéria, Chade, Benim, República Centro-Africana e Zâmbia. Ou seja, uma parcela considerável dos países de uma faixa meridional da África, rumo à costa norte-noroeste; achei estranho por não terem sido citados países menores da região abarcada, como Costa do Marfim, Burkina Faso, Gana e Togo – talvez uma questão geográfica que não percebi…talvez tenham esquecido…talvez não tenham dados…talvez eu devesse me ater ao texto.

Se torna um peixe grande: 35cm. Possui agressividade entre exemplares da mesma espécie. Sobre sua condição elétrica, é interessante saber que os eletroreceptores estão concentrados na cabeça (boa parte deles também está na parte dorsal e ventral, porém, ausentes nos flancos laterais e pedúnculo caudal – mesmo estando aqui o órgão elétrico). Esta característica está associada à forma com a qual busca o alimento: rastreando a comida como se fosse um detector de metais. A concentração de receptores na cabeça ajuda a detectar seu prato predileto, que fica escondido sob o solo: vermes.

Como advém de regiões sombreadas por abundante vegetação da margem, águas mais escuras e de fluxo lento, onde o substrato é lamoso, é bom atentar para que o fundo do aquário seja, necessariamente, de algum substrato mole, para que ele possa chafurdar sua “tromba” ali, atrás do alimento. Seus hábitos são noturnos, horário em que prefere procurar a comida – é reportado mundo a fora que estes peixes pegam comida industrial, embora, prefiram a viva ou in natura (como vermes e larvas descongelados).
O aquário do “trombudo” aqui precisará de um aquecedor, pois o Nariz de Elefante requer água tropical, entre 22 e 28ºC, e que o pH gire em torno de 6.0 e 8.0.

Peixe-Corda Africano (Erpetoichthys calabaricus)

Este amigo aqui é africano, pertencente à Ordem Polypteriformes e família Polypteridae, e seu nome, etimologicamente falando, significa “coisa rastejante” ou “peixe que rasteja”. É o maior dos espaguetes ornamentais, pois alcança tamanhos superiores à 40cm (embora haja citações que falem em 90cm). O aspecto de seu corpo realmente lembra o de uma corda; suas escamas têm realce no corpo castanho-amarelado, parecendo as fibras torcidas de uma corda e mal dá pra ver os espinhos dorsais, localizados na parte posterior do corpo.

Trata-se de um peixe de estuário, ou seja, cuja água do ambiente varia entre o doce e salobra, existente em rios distribuídos pela costa oeste do continente africano; é originário da região que contém os países: Camarões, Nigéria, Angola, Benin, Guiné Equatorial, Gabão e Congo.

É uma espécie carnívora, de hábitos noturnos, que embora faça de seu cardápio vermes, insetos e crustáceos, por ser maior, é aconselhável que os companheiros de aquário tenham porte incompatível com o tamanho da boca do peixe-corda africano. Alguns aquaristas relatam a dificuldade tanto de encontrá-lo em lojas como de ministrar alimento, visto que é comum o peixe não querer comida industrializada – nesses casos temos mesmo que partir pra alimentos congelados, tipo bloodworms.

É um peixe que habita uma região logo acima da linha do Equador, assim, recomendam-se temperaturas tropicais no aquário, algo entre 22 e 28°C. A variação de pH fica entre os 6 e 8. Para ambientar o peixe no seu aquário, não economize nos adereços que propiciem sombra e tocas, troncos retorcidos serão seus maiores aliados nesta configuração. Importante também é observar o tamanho do aquário, o porte mínimo deveria ser algo em torno dos 300 litros, considerando o comprimento do peixe-corda africano.

Curiosidade: possui adaptações para situações ambientais adversas e, no ambiente natural, pode ser visto saindo da água, migrando para algum outro corpo d’água próximo. Sabe-se que enquanto tiver seu corpo molhado pode sobreviver fora da água, pois é capaz de puxar ar da superfície! Outra coisa interessante é que sua bexiga natatória é dividida em duas partes, sendo que a seção maior auxilia o peixe na respiração. Analisando esse comportamento, vem mais um alerta: podem se mostrar inquietos e querer saltar para fora do aquário. Mantenha a tampa bem encaixada!

Esses foram os peixes que destaquei entre os pouco comuns. E aí, você conhecia todos? Acha que são mesmo incomuns?
Claro que ainda poderia citar mais peixes assim, mas o tempo já se vai e a ideia é trazer assuntos para gerar mais vontade de pesquisar, questionar e adentrar o universo aquarístico. Agradeço imensamente a sua audiência, espero ter trazido algum conteúdo válido e espero ver você no próximo podcast! Até lá! Fui!

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