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Você já teve a impressão de ter olhado para um aquário e falado “que aquário feio!” ou “que aquário bonito!”. Já? Provavelmente sim, pois é natural do ser humano já sair julgando as coisas com um simples olhar. Mas se tem uma coisa que não faremos aqui é julgar sem ao menos argumentar antes. O meu intuito é lançar a reflexão no sentido de “o que fez você definir esse tal aquário como bonito ou feio?”. Seria apenas a estética? Seriam apenas as cores dos peixes naquele aquário? Ou será que seus olhos já são treinados o suficiente para identificar a qualidade da água só de olhar?
É fácil criarmos parâmetros nossos para definir o que é bom ou ruim. E nesse âmbito, fiquei pensando aqui comigo como eu falaria dessa concepção de “bom e ruim” da forma mais neutra possível. Cheguei à conclusão que, tentando observar de ângulos diferentes os vários cenários que temos no aquarismo nacional, eu poderia tentar visualizar cenários ruins mesmo quando tudo é favorável e cenários bons quando tudo é aparentemente desfavorável.
Então bora ver o que saiu dessa minha elucubração aquarística. Bora lá!
Tamanho do aquário
É um quesito importante, sem dúvida. O tamanho de um aquário está sempre relacionado com o intuito dele, ou seja, para o que ele serve. Agora, não dá para definir se um aquário é bom ou ruim pura e simplesmente pelas dimensões que ele apresenta. Por quê? Vou tentar explicar dando um exemplo: imagina que você quer criar beta, ou killifish. Para exemplos assim, certamente podemos escolher aquários de menor tamanho, mas caso você prefira ter peixes como acará-bandeira, acará-disco ou kinguio. Nesses casos, você precisaria optar por aquários de maior tamanho, já que esses peixes são maiores, preferem nadar em cardumes etc.
Partindo de um ponto de vista assim, podemos considerar um aquário ruim, um cubículo de 1 litro para a maioria dos peixes. Também explico por que disse isso: aquários diminutos, em sua maioria, podem ser ditos aquários ruins, especialmente quando se tratar de iniciantes, pois, por serem menores, eles exigem maior atenção e cuidados, que geralmente pessoas que estão começando não possuem; outra, por serem menores, resistem menos às mudanças bruscas de temperatura e condições da água. Por outro lado, de que adianta você comprar um aquário considerado médio-grande – um bom exemplo seria um aquário de 200 litros – e nele colocar apenas peixes considerados “jumbo”, aos montes, esperar que cresçam, compitam entre si, se machuquem e adoeçam. Neste caso, teríamos um exemplo de um aquário grande considerado ruim.
Um aquário bom, em termos genéricos, deve comportar os peixes que você pretende adquirir de forma que eles possam nadar livremente e se sentir protegidos ao mesmo tempo, numa densidade populacional plausível com a espécie e o tamanho do aqua. “Mas que tamanho seria ideal?” Definir aqui um tamanho só para classificá-lo como bom ou ruim não é objetivo deste podcast, justamente pelos motivos pelos quais acabei de falar.
Equipamentos para o aquário
Seguindo a mesma tendência com a qual estamos construindo este assunto, não tenho a menor intenção de desmerecer nenhum equipamento de aquário. Visto isso, não vou tentar comparar um aerador com um canister de última geração. Quero mesmo é deixar claro que diferentes equipamentos têm diferentes funções. “Mas não há equipamentos melhores que outros?” Com certeza sim, mas não é o intuito dessa nossa discussão aqui.
Dessa forma, para definir equipamentos bons e ruins, também precisamos entender como é o nosso aquário, como estamos pensando em construí-lo, o que haverá nele depois de pronto. Imagina que você comprou um belo aquário de 400 litros, colocou todos os peixes amazônicos que estavam na sua mente, todas as plantas, superiluminação e gastou tanto com eles que não sobrou dinheiro para comprar um termostato e um bom filtro, colocando no lugar apenas aeradores e pedras porosas. Qual a chance isso dar certo? Eu diria: nula ou mínima. E num caso assim, ao ver o aquário e imaginar resultado, é bem capaz que eu julgasse como um aquário ruim.
Citando agora outro exemplo, só que no caminho da economicidade, poderíamos aí considerar um aquário com seus 20 ou 30 litros, para receber um trio de killifishes, com um termostato de qualidade mediana, uma luminária improvisada só para manter as plantas verdes, onde o aquarista realiza sifonamentos periódicos com uma mangueira que reutilizou do filtro de água da sua casa. Ele também cuidou do layout, criando esconderijos e locais de sombra com vistas a ambientar os peixes. Ao tentar entender esse contexto, mesmo com materiais de baixo custo ou reutilizados, parece-me um cenário muito mais promissor, e este, na minha opinião, seria um caso em que não seria difícil considerar como um aquário bom.
Povoamento do aquário
Você é daquelas pessoas que acham um aquário bonito por ele estar lotado de peixes? Renovo aqui o cuidado em não ter o propósito de classificar um aquário como bom ou ruim apenas pelo número de peixes que ele possui. Infelizmente, já visitei aquários públicos em que os organizadores deveriam pensar exatamente como se segue: que as pessoas, para acharem um aquário bonito, precisam vê-lo entupido de peixes. E digo “infelizmente” porque foi isso me pareceu, na ocasião, que esse foi o único parâmetro que o responsável conseguiu enxergar, talvez para atrair maior público, em detrimento a qualidade do todo. Me refiro que, em casos assim, há o pecado da falta de cuidado na qualidade da água, comprometido pelo excesso e na própria mistura incompatível dos peixes.
“Mas é tão sério assim?”. Super. Planejar um aquário para que ele tenha sucesso no futuro implica em pensar “quais e quantos peixes pretendo colocar?”, “esse aquário que tenho suporta isso tudo?” e “qual o tipo de aquário que quero?”.
Por que, você se pergunta? Se o nosso ideal de projeto foi construir um aquário plantado e, aos 45 do segundo tempo, decidimos atulhá-lo com todos os tipos de peixe que encontramos na loja, acabamos de sabotar nosso próprio projeto, e, pior, comprometer a vida dos peixes. E fazer isso poderia transformá-lo num aquário ruim.
O mesmo se dá para outros exemplos. Se quero um aquário que me traga tranquilidade para ser admirado após um intenso dia de trabalho, por que raios eu escolheria um aquário com peixes agressivos? Se deseja um aquário habitado apenas por guppies, por que eu escolheria como companheiros de aquário pequenos mato-grossos ou rosáceos, que naturalmente possuem o hábito de mordiscar nadadeiras? E ainda posso me referir ao porquê de adquirirmos apenas um neon, ou um peixe-borboleta, ou um rodóstomo, quando esses são peixes de cardume: peixes de cardume dão o seu melhor quando em cardume e não sozinhos. Corromper sua natureza compromete sua integridade.
Detalhes assim fazem diferença, e mais cedo ou mais tarde até os menos perceptivos aquaristas são capazes de observar isso. Para este tópico então, acredito que classificar o aquário como bom ou ruim estaria mais para o fato de respeitar questões como o comportamento do peixe, sua sociabilidade, se é de cardume ou não e, sempre que for possível planejar, evitar o superpovoamento.
Qualidade da água do aquário
Acho que chegar num ponto de discussão como este, sobre qualidade da água, já dá pra perceber que a definição de aquário bom ou ruim vai depender exclusivamente do que faremos ou deixaremos de fazer sobre manter uma qualidade de água condizente com as exigências dos peixes.
Obviamente falar de sujeira no aquário é o mínimo, pois um aquário sem manutenção, sem cuidados mínimos, é ofensivo se formos falar de um hobby onde pessoas apaixonadas cuidam dos objetos de sua paixão. Então, o que mais há para falar sobre qualidade da água? Se alguém me perguntasse isso, eu devolveria com outras perguntas do tipo: que peixes você pretende manter? Sim, porque a partir do peixe escolhido é que definimos questões como o pH, a dureza e outras características da água.
Existem pessoas que olham uma água cristalina e a elogiam, tomando isso como garantia de boa qualidade da água. Agora pergunto, na sua opinião, o puro e simples fato da água ser cristalina indica que ela é saudável? Se você respondeu sim, eu lhe pergunto “Como você mediu a amônia?”. Sim, pois existem curiosidades e perigos ocultos na absoluta transparência da água. Concordo contigo se dissermos que uma água turva é feia de se observar, mas há um abismo de diferença entre feio/bonito e a qualidade da água. Pensando assim, acho que um aquário ruim é quem adota arrogância e o desleixo para falar da qualidade da água, e diria que aquário bom seria o daquele que adota disciplina e carinho com o aquário e seus seres.
Acho que observando todos esses pontos que foram debatidos aqui, vemos que a sequência e os tópicos abordados são basicamente os mesmos de quando estamos planejando um aquário.
E eu digo mais, se você está achando que ter um aquário bonito é diretamente proporcional a ter dinheiro, também digo que não é. Acho que ter um aquário bom está mais relacionado a bom gosto e cuidado que poder aquisitivo. Posso exemplificar: imagina uma pessoa abonada que compra o melhor canister, o maior aquário, a melhor luminária e coloca os peixes mais caros que encontra. Sem o menor carinho, paciência e preparo, monta seu aquário e coloca tudo lá dentro de uma vez. Picos de amônia e doenças, em primeira mão, já denotam um cenário catastrófico – isso para mim é um aquário não só ruim, mas péssimo.
Por outro lado, uma pessoa com menos dinheiro compra um aquário usado de 60 litros, um FBM com algumas mídias filtrantes e uma bomba de circulação de baixa potência, cuida do substrato para garantir a fertilização de algumas plantas, luminária caseira mesmo, CO2 feito com açúcar, fermento e garrafa pet. Ela monta esse aquário e deixa-o maturando pelo tempo necessário, para colocar apenas alguns tetras e limpa-vidros. Da mesma forma, de antemão, já dá pra considerar esse aquário como um sucesso pois, no mínimo, tem planejamento e atenção do hobbista.
E você, tem ideias diferentes do que seriam aquários bons ou ruins? Concorda com o que eu disse? Independentemente das respostas, agradeço sua atenção e espero que minhas palavras tenham, ao menos, trazido novos questionamentos; pois é de questionamentos verdadeiros que se abrem os bons caminhos.
Vamo que vamo e espero encontrar você no próximo podcast. Não demora. Até lá!
Com Bravo de Bravura, e não de Braveza, Johnny Bravo (João Luís), escreve para revistas especializadas e para o blog da Sarlo há um cadim de tempo. Nessa jornada Julioverniana, após 20 Mil Léguas de textos, agora ele também desenvolve os roteiros para os vídeos de chamada do Sarlocast, onde você pode ouvir a sensual voz desse aquaman (tradução: homem de aquários).