Layout do aquário

Saudações aos aquaristas deste Brasilzão! Estamos de volta neste Sarlocast para falar um pouquinho mais sobre nosso universo aquarístio. Para você que ainda não me conhece, me chamo João Luís, também conhecido como Johnny Bravo, e sou autor de alguns textos sobre o tema do aquarismo, tanto em fóruns como em revistas especializadas.
Hoje nosso papo será sobre LAYOUT.

Quando um aquarista está pensando em layout de aquário é porque já está sabendo, por exemplo, qual o melhor filtro pra sua necessidade, qual a função de cada uma das mídias filtrantes, comportamento dos peixes etc. Ele já está criando uma outra nuance, visando adequar o aquário às exigências dos peixes e também às do próprio aquarista, ou seja, um misto da pegada ornamental (decorativa) e funcional. Ou não. não é mesmo? Às vezes ele quer apenas dar um “tapa no visual” e pra ele basta a ruína de um castelo. Antes de seguirmos adiante, se você estranho o termo layout entenda-o apenas como a disposição daquilo que você põe lá dentro do aquário, desde o substrato até os artigos de decoração, ou seja, nada mais é do que o jeito que você arruma a casa… no caso, o aquário.
Adianto que este podcast não é contra escafandristas, barcos de porcelana naufragados ou conchas que soltam bolhas – até porque o aquário é de quem comprou e o mantém. A ideia é dar uma forcinha para quem pretende criar um ambiente mais favorável em vários aspectos, independentemente se o hobby tenderá para o lado artificial ou natural “da força”, mas sempre tendendo a fornecer o melhor para os nossos amigos aquáticos.

Decoração artificial
Bem, aproveitando que citei alguns itens, e para não parecer que condeno o uso daquilo que é artificial, preferi começar falando da DECORAÇÃO ARTIFICIAL. Em primeiro lugar, acredito que devo frisar que “claro que ela é importante”, pois você pode ser um aquarista que pretende montar um aquário divertido para que seu filho veja, ou que não tem tempo para cuidar de plantas naturais ou, simplesmente, queira um aquário assim.
Um dos casos mais comuns de uso de decoração artificial, e que ganha espaço cada vez maior no mundo aquarístico, é a utilização de painéis decorativos de fundo, posicionados na parede posterior, eles são feitos de resina e apresentam relevo imitando os fundos rochosos de forma realística. Alguns são realmente magníficos e promovem aquele visual impecável de rocha, sem aumentar o peso do aquário, como fazem as rochas naturais; cabe ao aquarista apenas colocar uma ou outra rocha, para fazer tocas e melhorar o layout.
E, por falar em real, algumas marcas produzem plantas que, após algum tempo imersas, com algas cobrindo a superfície das folhas, parecem extremamente fidedignas. Plantas artificiais provavelmente são os itens artificiais mais utilizados e são muito úteis para pessoas sem tempo para cuidar delas (podas, fertilização, CO2 etc.) ou para aqueles aquários onde os peixes sejam malcomportados (cavam o substrato, mordem as folhas etc.).
Como dica para a escolha de artigos de decoração artificial, recomendaria usar o mesmo método que costumo abordar para vários outros assuntos: eu começaria me perguntando “que peixe terei em meu aquário?” Por exemplo, se a resposta incluir corydoras, cascudos ou botias, ou seja, peixes que gostam de esconderijos, você deve adquirir objetos que contenham cavidades. Esta é a deixa para aquele tronco de resina, ou até mesmo o Titanic naufragado, ou um desses iglus de esquimó. Se o seu projeto, no entanto, mira as crianças da casa, num caso assim, a parte lúdica certamente prevalecerá, sendo então o famoso baú de tesouro, o Nemo ou um tubarão serão bem-recebidos nesse contexto.
Ainda assim, para nenhum dos casos acima está implícito o descuido com o bem-estar dos peixes. A única regra que eu diria que existe, pensando exclusivamente nos peixes, é: adquira produtos com origem reconhecida. Você pode se perguntar ‘Por que’? Porque as empresas especializadas farão os itens de forma que não soltem tinta (ou outras toxinas), nem tenham bordas e arestas cortantes, primando pela integridade e saúde dos animais.

Layout natural
Deixando um pouquinho esse lado artificial, chegamos ao tipo de aquário que, na minha opinião, e quando bem montado, cativa a atenção de quem passa os olhos sobre ele. Decora salas, quartos, escritórios e por aí vai… É caracterizado quando o aquarista utiliza, na montagem, itens de decoração não artificiais, como rochas, plantas e troncos naturais. Me restrinjo aqui a falar somente de aquarismo de água-doce, que é onde me sinto mais confortável. É óbvio que não são todos os aquaristas que são capazes de dizer com certeza quando uma planta é natural ou artificial, coberta pelas algas da idade. Acredito eu que parte da graça esteja em ver as coisas crescerem, responderem ao toque de midas da dedicação que colocamos sobre o aquário… acompanhar a florada, realizar a poda… sei lá, é tanta maravilha junto que prefiro nem comparar… são tipos de aquarismo diferentes, só isso.
Neste universo natural, não basta apenas pegar uma coisa qualquer achada no chão e mandar pra dentro do aquário. Bora ver uns detalhes?

Quanto às rochas. O que seria, por exemplo, considerada uma “rocha adequada”? Colocar uma rocha no aquário não se resume apenas em achá-la bonita, jogar uma aguinha de torneira para tirar o pó e está tudo certo. Existem rochas que alteram os parâmetros da água, tanto acidificando-a quanto alcalinizando-a, assim como as que não interferem.
São sempre preferíveis as rochas ditas “neutras”, ou seja, aquelas que não interagem com a água. De antemão, já dá para citar tipos de rochas que são amigas, como a ardósia ou o granito. Ademais, a preferência recai sobre rochas constituídas de quartzo e você pode encontrá-las sob a forma de quartzo puro, madeira petrificada (uma variedade que se encontra em lojas de aquário de vez em quando e se trata do resultado de um processo geológico que cristalizou a madeira, substituindo a matéria orgânica por quartzo) ou, às vezes, geodos, sendo que às vezes estas rochas carregam um fator questionável, que é a composição daquela capa ao redor, que pode conter minerais que se solubilizam na água.
“Mas e aí, como sei se vai afetar minha água num caso assim?” Bem, para entender esse “medo” todo sobre a pedra a ser colocada, saiba que o maior deles reside no fato da rocha poder soltar elementos como potássio, magnésio ou cálcio. No caso destes dois últimos (normalmente existentes na forma de carbonatos), poderá haver alteração de pH e dureza, algo prejudicial para alguns tipos de aquário. Pois bem, para saber se ela vai mexer nos parâmetros da água, apanhe vinagre, ou mesmo o acidificante de aquário, e pingue algumas gotas sobre a rocha, se espumar não serve para a maioria dos aquários… pois elas seriam do tipo “calcárias”.
“Jogo fora as pedras calcárias?” Não, elas têm uso. Certos tipos de aquário, como os de Ciclídeos Africanos dos grandes lagos, aceitam elas “de boas”, inclusive, por certo tempo, você poderá economizar no uso de sais para aquário de CAs. O fato é que, em alguns meses, elas param de atuar a contento e, como os parâmetros dos CAs precisam ser altos, você necessitará recorrer a alguma ajuda, nem que seja um buffer no começo, antes de comprar os sais.
Três coisinhas para considerar quando se usam pedras maiores no aquário: 1) use um anteparo entre a rocha e o vidro do fundo, para não criar alguma pressão diferencial; 2) quartzo é mais duro que o vidro e pode riscá-lo, então cuidado ao manuseá-lo ao ajeitar a rocha no aquário; 3) quanto mais rochas, mais zonas mortas (sem circulação de água) serão formadas, pense num método de fazer a água circular adequadamente, seja com o uso de alguma bomba submersa a mais, seja com um sistema UGJ (Under Gravel Jet).

Substrato.
Não se iluda pensando que substrato é tudo a mesma coisa. Tal como as rochas, a “areinha ou pedrinha” (pode chamar como quiser) do fundo também pode influenciar nos parâmetros da água e segue-se os mesmos princípios. Tanto é verdade que um tipo de substrato muito procurado é a areia de filtro de piscina, pois são grãos uniformes de quartzo, ou seja, inerte quando em contato com a água.
A mesma linha de pensamento se estende para aquários de tipos específicos, como o de Ciclídeos Africanos, o qual possui substratos próprios, capazes de auxiliar na manutenção de parâmetros próprios para tais aquários, ou para aquários plantados, com elementos pertinentes para fertilização do solo e respectiva absorção pelas raízes das plantas.
Aqui fica a dica, além dos grãos uniformes, apenas no sentido de buscar manter a altura da parte posterior maior que a da frente, para que a sujeira que por ventura venha se acumular, aconteça num ponto em que o aquarista possa visualizar, facilitando, assim, a limpeza.

Para troncos e raízes, deve-se optar por aqueles exemplares mais retorcidos (para efeitos estéticos) e que estiveram submersos para facilitar sua vida. Dentre os utilizados, um dos mais procurados é o de aroeira, pois se decompõe com mais dificuldade e preservando a água, o=e isso facilita a manutenção a ser dada pelo aquarista. CUIDADO: jamais pegue um item na natureza ou numa loja e ponha-o diretamente no aquário… a quantidade de parasitas e seres indesejados que se espalhará pelo aqua o assustará; trate-o devidamente antes de sua inserção, ou seja, ferva e esfrie algumas vezes, sempre trocando a água.
O item “plantas” seria o de maior especificidade neste contexto decorativo, uma vez que, entre as plantas, existem diferentes exigências quanto à nutrição (raiz ou folha), iluminação (temperatura de cor, horas de incidência luminosa etc.), pH, CO2, tipo de solo e nos limita, inclusive, na escolha de espécies e número de peixes.
Como esperado, num aquário onde impera o crescimento de plantas, a atenção volta-se aos fatores que as farão ficar exuberantes para a devida apresentação. Todavia, não adianta nada você escolher todas as plantas de um só tipo e plantá-las de qualquer jeito, pois tudo que você conseguiria de elogio seria um sonoro “Nossa que legal, esse aquário está super… verde!”. Certamente ninguém que se dedique a cultivar um aqua plantado quer isso como comentário.
Por isso, ao escolher plantas, você deve optar por diferentes estilos, tal como: 1) distintas cores e formas (ex: a vermelha Rotala macrandra e a verde Rotala mexicana); 2) feitios de propagação (moitas, aderência em pedras ou troncos, tapete sobre o substrato, crescimento vertical ou propagação pela superfície); 3) velocidade de crescimento (ao pensar no layout, procure colocar as de crescimento rápido atrás da formação).
Assim, você coordena o efeito desejado, tampando o vidro traseiro com as plantas ao fundo, que cresceram rápido, o musgo tomando um dos troncos que você colocou, o carpete de Marsilea preenchendo o substrato à frente, algumas Cryptocoryne salpicadas pelo aquário, Blyxas formando moitas aos pés das plantas cumpridas no fundo e algumas Nymphaea lotus destacando-se em pontos estratégicos, com seu vermelho vívido. “Mas existe estratégia para se decorar um aquário?” Sim, matematicamente falando.

A Proporção de Ouro… pra não perder o trocadilho: a dica de ouro!
A estratégia (como diria a galera do filme tropa de elite, do grego, strateegia, ou latim strategi, ou francês stratégie ou do português manha) se baseia em alguns elementos e um cálculo. Estão inclusos na harmonia do layout a escolha de pedras, plantas e troncos que proporcionem contrastes de formas e cores. Pode ser que um granito avermelhado não ganhe muito destaque ao lado de troncos com nuances de cores similares, algo que uma pedra cinza poderia conquistar. Sacou?
Já no ato de alocar os objetos de decoração, quando você for pensar em como dispor as rochas pelo aquário, por exemplo, escolha usar mais de uma rocha e que elas possuam tamanhos distintos. Meça o centro do aquário e posicione a rocha principal – normalmente a maior, mais bonita e intrincada – ligeiramente para a esquerda (ou direita). Ao seu redor, triangulando a formação, posicione pedras menores (acima peguei o exemplo de rochas, mas pode ser o seu tronco favorito). Estas dicas tentam resumir a chave-mestra para aqueles que trabalham com aquapaisagismo, a partir do que se chama “proporção de ouro”.
Em termos exatos, você deve dividir o comprimento do aquário pelo valor “1,618” para definir onde colocar o objeto principal. Por exemplo, se seu aquário tem 1 metro (100 cm), a rocha escolhida deverá ficar mais ou menos entre 61 e 62 cm (o resultado da divisão é 61,80 cm). Tal proporção é reconhecidamente o “local ideal” para se colocar o objeto principal de admiração do layout (se for um tronco com projeção longa e pontiaguda, deixe com que a parte de maior destaque fique dentro dessa medida). É por isso que quem trabalha com aquapaisagismo é tanto matemático quanto artista.

O aquarismo em si é uma galeria de arte e também uma academia, um hobby que considero completo, pois passa pelos macetes, pelo conhecimento, pelo cultivo de faculdades humanas importantíssimas nos dias de hoje, como a paciência e a amizade (tenho grandes amigos de anos, só por causa do hobby), culminando na beleza, não só do aquário, mas na vida em movimento e na vida em volta. É um “passatempo” que, quanto mais você aprende (de um potencial quase infinito), mais legal fica.
Espero que estas poucas palavras auxiliem a você a dar um “tapa no visual” do seu aquário, lendo mais e buscando informações completas sobre como melhorar a harmonia desse sistema aí. No mais, obrigado pela audiência! Até a próxima! “May the force be with you.” (que a força esteja com você).

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