Saudações aquarísticas a você que me ouve neste novo Sarlocast. Para você que ainda não me conhece, me chamo João Luís, também conhecido como Johnny Bravo, sou autor de alguns textos sobre o tema do aquarismo, tanto em fóruns como em revistas especializadas, e hoje trago para seus ouvidos um dos hits eternos do aquarismo, mais do que uma música… um disco

Na esperança de você não ter desistido depois do trocadilho, seguimos no script. Quem acompanha o que escrevo no blog, ou agora o que eu gravo com esta voz sedutora, já percebeu o quão tendencioso sou em relação aos ciclídeos, pois vira e mexe estou aqui trazendo algum tema envolvendo-os… e hoje não é diferente! E é assim que chegamos ao astro de hoje… o Acará-Disco ou, simplesmente, Disco.

Ele é aquele peixe interessante, de formato circular e um baita achatamento lateral, tipo um CD. Independentemente da espécie adquirida, falamos de um peixe amazônico, o que de cara já nos dá dicas sobre a água que ele deve ficar: água quente (28 a 30 ºC) e ácida (veremos à frente que nem sempre).

Se você reparou, deixei a entender que há mais de uma espécie de Disco… e tem mesmo. O nome genérico Disco (Discus) engloba três espécies: Symphysodon discus, S. aequifasciatus e S. tarzoo.

“Três espécies… sei, o Johnny deveria ter pesquisado melhor, aqui na loja da esquina tem trocentos tipos de Discus…”. Tipo assim, você estaria certo ao falar de tipos, mas tipos não são espécies, tipos seriam variedades… tipo assim, vou explicar.

Antes de chegarmos ao que encontramos nas lojas, que vendem nada mais nada menos que dezenas de indivíduos que possuem nomes para efeitos de distinção comercial, seria interessante sabermos que há uma discussão sobre quais são as ESPÉCIES reconhecidas pela ciência. A escolha que fiz para este podcast se baseou no Fishbase.org, que é onde gosto de consultar, mas, além dessa fonte, há outras e pode ser que você ache discussões diferentes, como no caso do Symphysodon tarzoo, que pode vir com a designação de Symphysodon haraldi, como a terceira espécie; ou ainda artigos com divisões de espécies e subespécies. Óbvio que os taxonomistas não param por aí e outras possibilidades estão postas na mesa. Além de DNA para saber quem é quem, os caras comparam as comunidades que se dividem nas regiões leste, oeste e central da (imensa) bacia amazônica e suas cores selvagens (basicamente: marrom, azul, verde, heckel e abacaxi – você deve ter estranhado essas novas cores, na verdade, estas duas últimas classificações são melhor entendidas se usarmos a palavra fenótipo, que é tipo a “roupa que vestem”, ou seja, padrões de cores característicos); muito parecido com o que é feito para os CAs do lago Malawi, na África. Considerando, então, tais “cores”, eles seriam assim: 1) Symphysodon discus, que tem origem nos rios Negro, abacaxi (ambos de águas negras), heckel e abacaxi, 2) S. aequifasciatus, das zonas central e leste da bacia amazônica, com cores azul e marrom e 3) S. tarzoo, do oeste, com a cor verde.

“E por que interessa saber de onde eles vêm? O meu vem da loja e vai para o aquário.” Se fosse só isso estava fácil. Você lembra das distinções de águas que vimos no podcast de Apistos? Caso não, deixe-me lembrar: são três principais tipos de água dos rios amazônicos: “black water” (água negra), “white water” (água branca) e “clear water” (água clara).

Black water é a água com aquele aspecto de chá mate. Caracteriza-se por possuir ácidos húmicos e fúlvicos e um composto chamado tanino, oriundos da decomposição vegetal; fatores que fazem o pH despencar para a acidez. Cursos d’água com esta denominação são, normalmente, pobres em nutrientes (minerais dissolvidos), com boa transparência e possuem fluxo lento. Nosso Rio Negro é o maior black water do mundo; são também classificados assim o Tefé, Arapiuns (afluente do Tapajós), Vaupés (afluente do Negro) etc.

White water, por sua vez, indica água rica em nutrientes, com grandes concentrações de matéria dissolvida e em suspensão, tendendo a ser túrbida; pH mais alto, próximo ao neutro. Os rios Purus, Juruá, Japurá e Madeira são exemplos. Mesmo chamando-se “branca”, ela apresenta a cor dos sedimentos/materiais predominantes que estiverem em suspensão. Rios com esta água são responsáveis por até 80% do montante de pesca para consumo humano.

Já a clear water é uma água que tem características mais próximas às negras, com exceção da cor, pois advém de regiões de drenagem donde não têm muito o que carrear (zonas de baixa erosão).

Julgo importante saber a procedência, pois, caso você adquira ou já mantenha discos selvagens, saber sua origem pode ajudá-lo a providenciar um ambiente tendendo para o ideal e melhorar a qualidade de vida dos peixes. Agora, por outro lado, se você adquire uma variedade X de Disco, seria interessante proporcionar um ambiente de água lenta, com quase nenhum material em suspensão, preocupando-se com o pH e a temperatura. Resumindo: água sem fluxo forte de água, ph e temperatura adequadas ao peixe.
Falei tanto em “variedades de Discus”, que muitos devem estar se perguntando, “mas quantas variedades tem?” E é aí que o bicho pega.
Quando você vê um Acará-Disco numa loja, normalmente verá junto ao nome denominações como “Pigeon”, “Red Marlboro”, “Blue Diamont”, “Snakeskin” ou “Red Turquesa”, dentre dezenas de outros. Nesse momento, saiba que você está diante de seleções ou misturas de espécies. São tantas nuances e detalhes que eu sequer saberia explicar com exatidão como cada variedade é nomeada, pois, além de certos padrões conceituados entre os criadores, existem, nos nomes, peculiaridades dadas pelo criador ou por novas convenções surgidas em grupos menores de hobbystas. De toda forma, não se tratam de regras fixas como a taxonomia científica, mas sim de descobertas advindas da criação, as quais aguçam o desejo do público. O melhor mesmo, para uma pessoa que não é entendida sobre Acarás-Disco, é decorar o nome do peixe que você comprou.

Por outro lado, e de forma geral, alguma coisa você pode sair daqui sabendo… um norte para tentar entender sobre nomenclatura. Se o disco possui o corpo fechado num azul iridescente, ele é um “Cobalt Blue” ou “Blue Diamont”, uma manifestação genética recessiva; Pigeon é quando o disco possui aquelas salpicadas de “pimenta do reino” (pontos negros) no corpo; “Red Turquesa”, um dos mais comuns, possui faixas azuis e vermelhas que serpenteiam o corpo; e “Snakeskin” é quando o padrão de manchas lembra a disposição das escamas de uma cobra. Fácil? Não é não, pois cada uma dessas nomenclaturas pode vir com mais adendos no nome. Exemplos? Pigeon Blood Marlboro, Pigeon Blue Panda… e que tal Red Spotted Golden Leopard Snakeskin? Por isso repito a dica: guarde o nome do peixe que você comprou (e compre somente de lojistas que possuem selo de confiança, para não ter surpresas no futuro).
“Beleza, já escolhi meu Disco e quero dicas de como ornamentar um aquário para ele.” As you wish my dear… as melhores são sempre as baseadas numa análise do habitat natural. Embora bem distribuídos ao longo da bacia amazônica, como vimos, os Discos frequentam as margens dos rios e também as áreas alagadas. E, falando de tal bioma, dá pra deduzir que se trata de um ambiente constituído por variações sazonais, no que se refere aos parâmetros d’água, disponibilidade de comida, oxigênio dissolvido na água e até no quesito de predadores e parasitas. Na natureza isso teria dois grandes momentos: cheia e seca. Mas vamos direto às dicas…

Dica 1: Eles têm comportamento gregário, especialmente quando é época de seca, que é quando se aglomeram em grandes cardumes, reunidos por entre raízes, galhos e vegetação que tomba das margens para a água. Por isso que a Dica 2 envolve a construção de um bom layout, cujo mais recomendado é a galhada, que se baseia num cenário de diversos galhos/raízes entremeados; pedras e folhas são condizentes com o arranjo. Não é incomum vermos os Discos em aquários com plantas; eles são coloridos e maravilhosos, contrastam com o fundo e não são de arrancar a vegetação. Essa arrumação pode ajudar o peixe, que muitas vezes se mostra deveras tímido. A Dica 3 seria relativa ao porte do aquário; por chegar a uns 15 cm, pois como preferir viver em grupos e locais espaçosos, são aconselháveis aquários grandes.
No aquário, acredito eu, não é necessário que você faça a variação “enchente-seca”, mas a Dica 4 é sobre os parâmetros da água. Salvo no caso de seus peixes serem selvagens, com condições mais específicas a serem seguidas, proponho que você mantenha os parâmetros mais confortáveis: água mole, com pH em torno de 6 e temperatura entre 28 º e 30 ºC. Já falei isso, mas vale reforçar.
É louvável ressalvar que o Acará-Disco não é um peixe para iniciantes, pois ele requer atenção em muitos aspectos. Dessa forma, adentramos os domínios da Dica 5…ou 4.1, se você preferir, pois é um desdobramento dos quesitos de qualidade de água. A despeito do que já foi dito, é certo afirmar que nitritos e amônia precisam estar zerados, assim, os testes são imprescindíveis. Os Discos são muito ativos, gostam de comer, e podem influenciar nas condições da água. O que a grande maioria dos mantenedores recomenda são constantes trocas parciais de água (TPAs) de 20% a cada dois dias. O número de teorias a respeito dessa periodicidade é imenso, entretanto, para você entender, basta controlar os parâmetros acima e fazer, ao menos, uma TPA semanal.

Por falar em comida, muitos gostam de pensar que ele é um predador nato, porém não é bem assim. O Acará-Disco requer uma boa base vegetal em sua dieta e existem alertas contra a inclusão de carne vermelha como fonte de proteína. Em termos aquarísticos, a Spirulina viria como ótimo suplemento vegetal, e pequenos invertebrados, como larvas de inseto e crustáceos se adequariam às necessidades proteicas. Anota aí, porque esta foi a 6ª Dica.

Ainda no refeitório, encontramos a Dica 7: escolha bem os habitantes do aquário. Por ser um peixe tímido, os companheiros de aquário não podem ser demasiadamente agressivos ou efusivos. Existem muitos casos em que o Disco perde o apetite apenas por não querer competir com peixes muito ativos. Pequenos peixes de cardume como neons, borboletas/ machadinhas (Carnegiella spp.) ou lápis (Nannostomus spp.), corydoras, Ramiresi e alguns apistos são sugestões para compor um aquário comunitário que contenha Acará-Disco.
Ainda vou estender esse assunto alimentar, pois cabe apontar – como a 8ª Dica – para a necessidade de observação quanto ao apetite do Acará-Disco, uma vez que são suscetíveis à parasitas internos; uma das melhores formas de prevenção se dá com a utilização de aditivos na comida, os quais acentuam o sabor e contêm componentes que inibem ou eliminam parasitas… muitos destes possuem alho na composição.

Chega de dica porque não posso terminar este podcast sem falar da reprodução. No ambiente natural, a reprodução ocorre no início do período das cheias – a sensação dessa sazonalidade pode ser induzida com aumento da periodicidade e do percentual das TPAs. (Vixe, acabou sendo mais uma dica). O Acará-Disco alcança a maturidade em cerca de um ano, quando ele procura um único parceiro para aquele período. O casal formado escolhe, limpa e protege um território, normalmente contendo alguma superfície plana, como uma folha larga, uma pedra ou um tronco. Não são fáceis de se visualizar as características de macho e fêmea, por se tratar de uma espécie monomórfica, porém, logo após a desova o oviduto da fêmea fica mais aparente e facilita a identificação. A desova não é posta de uma só vez, ela pode ocorrer em mais de uma etapa.

O mais legal vem agora. Os Discos são conhecidos como um dos poucos ciclídeos (o gênero Uaru também) que produzem um muco nutritivo que serve de alimento para a cria recém-nascida. Muitos chamam isso de “Discus Milk” (leite de disco) e se trata de uma substância crucial para a sobrevivência dos alevinos nos primeiros estágios de vida. Por isso, se você vir os peixinhos beliscando os pais no aquário (parece um enxame ao redor do adulto), saiba que eles estão se alimentando.
Nem tudo são flores na manutenção de Discos. Os Discos estão suscetíveis a todas as doenças que afligem os peixes de aquário. A maioria está associada à qualidade de água, que como eu adiantei é mais significativa para o Acará-Disco, por ser ele mais sensível que a média. Dentre as tantas que podem infestar nossos sonhos eu destacaria duas enfermidades:

1) buraco na cabeça: gerada por um protozoário flagelado do gênero Hexamita que atua no sistema digestivo. Começa com desnutrição do peixe, perda de peso e a primeira grande marca, que é a que dá nome à doença: uma mancha escura na cabeça. Com a evolução, há o escurecimento do peixe, ele nada com a cabeça baixa e também adquire o hábito de nadar para trás; notam-se orifícios nos locais afetados e o peixe parece murchar. Especialmente na cabeça, será observado algo parecido com pus, dentro do buraco.

2) parasitas internos: é impressionante o número de casos que afetam os discos. Normalmente os sintomas se dão com a perda de apetite, enegrecimento das cores e emagrecimento. Sua origem pode advir até mesmo de outros peixes colocados no aquário. O tratamento é feito com medicamento próprio para parasitas.

Mas você não vai deixar seu peixe adoecer, não é mesmo? Caso aconteça, procure identificar direitinho os sintomas para buscar a melhor remediação.

Bem…this is the end… As ideias chegam, mas o tempo passa…O conteúdo sobre o Acará-Disco é vasto e minucioso, pois ele é conhecido e adorado mundialmente por sua graça, comportamento e cores…este é realmente um peixe que enche os olhos do aquarista e, caso você opte por ter um, não deixe de pesquisar a fundo sobre como mantê-lo. Espero que os Discos tenham conquistado mais um admirador.

Agradeço demais a audiência e, sinceramente, espero que continuemos nos encontrando por aqui. Trarei sempre novos temas para mostrar esse mundo aquarístico a todos que quiserem conhecer. Um forte abraço e até o próximo podcast!

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