Saudações, aquamigos! Sou João Luís, também conhecido como Johnny Bravo, autor de alguns textos sobre o aquarismo em fóruns e revistas especializadas. Hoje estamos de volta aqui no Sarlocast para falar sobre nosso hobby e hoje o tema escolhido para nossa conversa é: “Como Limpar um Aquário”.

Há muito tempo, quando o homem das cavernas utilizava apenas o Filtro Biológico de Fundo (FBF) em seus aquários, era comum o desmonte completo de todo sistema, removendo água, peixes, plantas e até mesmo o substrato. Isso porque toda sujeira captada era acondicionada sob a placa do filtro, que ficava oculta abaixo do substrato e a única forma de limpar era retirando o que havia no aquário para executar a manutenção. Tudo era levado para a torneira, escovado e lavado até não haver mais resquícios de sujeira.
Porém os tempos mudaram. Como pensar hoje em desmontar um “aqua” plantado para fazer uma manutenção dessas a cada 15 dias ou mensalmente? E um marinho? Não dá, né? As últimas décadas do aquarismo trouxeram inúmeras inovações e facilidades, associadas à eficiência e qualidade, sendo que hoje os métodos de manutenção daquele tipo já se tornaram obsoletos.

O que há de ruim em se lavar o aquário completamente?
Os curiosos que fuçaram nos artigos deste blog, certamente viram algo sobre “bactérias do bem”; mas acredito que a maioria já saiba a resposta. O fato é que quando se pega tudo que existe no aquário e lava (ex.: as pedrinhas do fundo), a luz, a fricção, a água nova e, especialmente, o cloro contido nela acabam com as colônias que amadureceram no aquário e que realizavam a ciclagem de compostos nitrogenados, tornando-os não tóxicos.
Uma vez que o aquário receba esta forma de esterilização microbiana, há um “boot” no ciclo, ou seja, tudo começa de novo e os subprodutos da decomposição da matéria orgânicas (excretas dos peixes, ração, folhas mortas etc.) irão ameaçar a vida dos habitantes. É praticamente a mesma coisa de se começar com um aquário novo, recém-comprado, um momento também conhecido como “a síndrome do aquário novo”, que para os leigos é um momento místico em que a vida dos peixes é ceifada por Netuno e que, para nós aquaristas, é certeza da ausência de uma colônia madura dessas bactérias boas.

“Ok, mas existem regras para se limpar um aquário?” Sim. Bem, se você preferir, pode chamar de dicas, e essa é a ideia do podcast: trazer algumas dicas e lembretes para aumentar as chances de tudo dar certo na hora da manutenção.

Eu separaria a limpeza do aquário em quatro fases principais:

1º passo: separar o material
“Pegue o balde que é sempre usado para limpar a casa, onde se usa todo tipo de produto químico de limpeza.” Parece correto para você? Não, né? Recomenda-se o uso de material próprio para o aquário, desde a escovinha que é usada para limpar troncos e pedras (normalmente novos ou com excesso de algas), até o(s) balde(s) que traz(em) a água nova. Identifique o material, ponha cerca elétrica ou o que for; é importante que haja garantia que você é o único a manusear esse material e que ele esteja isento de contaminantes químicos impróprios.
Dos itens de limpeza importantes para se ter, eu diria que o essencial é: balde (no singular ou no plural), canecão/jarra plástica, limpador de vidro magnético (pode parecer supérfluo, mas ao longo de sua vida aquarística você irá reconsiderar), sifão, escovão, escova de dente macia e bucha/espuma.

2º passo: salvaguarda do que é importante
Imaginando que você esteja fazendo uma manutenção periódica, este 2º passo é crucial: manter a mídia biológica (cerâmica, bioball etc.) a salvo. Se fôssemos comparar a uma cirurgia delicada, como transplante de coração, a mídia a ser retirada do aquário “sujo” precisaria de um local adequado para aguardar até estar apta a ser colocada no aqua “limpo”.
Tal qual a maleta térmica mantém o coração, o uso de um recipiente com a própria água do aquário é o desejável. É bom reforçar que o tempo de permanência da mídia não deve ser por demais longo. Assim, já planeje onde ela ficará. Com o sifão, tire água do aquário suficiente para que a mídia a ser preservada possa permanecer completamente submersa.

3º passo: a limpeza
Se eu fosse subdividir este passo de limpar… tá bom, já criei (sou metódico sim), faria assim:

Desligar equipamentos elétricos
Não há o que dizer além de “eletricidade e água não combinam”. Para evitar qualquer trapalhada ou esquecimento, antes de mais nada, desligue tudo que fica submerso no lugar que você vai meter a mão.

Limpeza do vidro
Nada de esponja verde-amarela (ou de qualquer outra cor), especialmente se estiver tentado a usar a parte verde e ainda mais especialmente se seu aquário não for de vidro e sim de acrílico. Você pode até não se importar com um ou dois arranhões (eu me importo muito), mas ao longo do tempo será possível observar o efeito abrasivo, que deixará o vidro/acrílico muito menos transparente, com aquele aspecto de embaçado – na verdade, uma nuvem de arranhões.
Não invente muito aqui. Espátulas plásticas para remoção de certas qualidades de alga, ou o uso rotineiro de um limpador magnético PRÓPRIO para aquário e para o tipo de superfície (acrílico ou vidro) manterão a clareza necessária para que você continue a ver o interior do aqua.
A sugestão é limpar sempre de baixo para cima, trazendo tudo para a superfície até sair da água, retirando o item usado e limpando-o sob água corrente – você que pensava o porquê da escova de dentes, que eu elenquei ali em cima, agora já percebe um dos usos para ela.

Limpeza do fundo/substrato
Alguns minutos após ter limpado o vidro, alguma poeirinha daquela limpeza já assentou. Pegue o sifão de novo. Esta é a hora em que faz diferença aquela escolha que você fez ao montar o aquário, deixando uma inclinação na disposição do substrato: maior atrás e mais baixo na frente. Durante todos os dias desde a última manutenção a grande maioria da sujeira, não coletada pelos filtros, agremiou-se na frente. Agora ficou mole!
O sifão ajuda, inclusive, se no seu caso tiver um carpete de plantas rasteiras cobrindo o fundo (já perfeitamente enraizado). Delicadamente posicionado sobre certa região, o instrumento retirará o acúmulo de matéria orgânica que fica retido pela folhagem. Este é um dos motivos porque muitos que têm aquário plantado (stritu sensu) não possuem muitos peixes; realmente não é fácil fazer limpeza em zonas densamente plantadas. A outra, e preponderante, questão é o descontrole de nutrientes (advindo da alimentação e excreção dos animais – obviamente há meios de otimizar tudo, porém este artigo é sobre limpeza).

Limpeza do filtro
Ligue os holofotes, ponha música de suspense e vamos à cirurgia! Comece pelos filtros que não tenham mídias biológicas, como um filtro que contenha somente perlon, por exemplo (o perlon sim vai para debaixo da torneira ou mesmo para o lixo, pois ele precisa ser substituído constantemente).
Para os filtros que contenham mídias filtrantes, seja ela canister, hang on ou interno, retire as mídias biológicas, enxague-as com água do próprio aquário até perceber que não há nada de sujeira acumulada nelas. Acomode-as naquele recipiente que você já preparou antes para recebê-las e cubra-as com água do aquário.
Agora vai outra utilidade para a escova de dente: as bombas submersas, seus rotores, o cano do hang on ou canister, podem ser limpos, retirando as algas que se acumulam neles (o uso de buchas macias para esses canos também está ok).

4º passo: reposição da água
Eu poderia ter iniciado com esse passo, pois o certo seria você ter tudo pronto antes de começar a mexer.
Se seu aquário é do Malawi, por exemplo, você já deve ter adicionado os sais próprios para CAs e feito todas as medidas de parâmetros antes de começar a limpeza propriamente dita. Eu sempre mantive baldões de 70-80 litros com água descansada, já prontinha para uso. Nestes recipientes eu já cuidava de todos os parâmetros – até porque sou contra a adição do sal diretamente no aquário – e também da desclorificação.
Se seu aquário é de apistos, black water por exemplo, você já deveria ter prontinha a água deionizada, ter feito o chá de folhas mortas, além de ter iniciado o aquecimento da água no local onde ela se encontra. Isso porque a chegada da água nova deve ser o menos impactante possível, o que significa dizer que os parâmetros químicos (sais, pH e tudo mais) e a temperatura já devem ser iguais ou estar próximos ao do aqua. A reposição deve ser lenta, sendo que, caso você não tenha nenhum sistema automático, o uso de uma jarra ou, melhor, de uma mangueira (o mesmo sifão que você usou para tirar a água) ajudaria nessa tentativa de diminuir o impacto da água nova.

“Deu Ruim”
Claro que precisamos abordar isso aqui, pois pode acontecer de tudo dar errado. Não se trata de um 5º passo de limpeza, mas sim de um destaque tratando de quando as coisas não dão certo e algo urgente precisa ser feito. O pote de ração virou? Uma doença nos peixes acabou com todo o significado de aquarismo pra você? Seu Van Gogh desprendeu da parede e caiu no aquário, soltando tinta? (Era falso!)
Se a situação não é remediável, o Plano B precisa ser posto em prática. Aqui precisaríamos ampliar o sentido de “salvaguardar o que é importante”, pensando onde deixaríamos os peixes (e outros organismos) e plantas, além de resguardar a mídia biológica.
A acomodação de peixes deveria ser em aquários, baldes ou recipientes que não tiveram contato com produtos de limpeza. Detalhe importante: visto que agora, nessa nova condição, não há mais layout com cavernas e moitas de plantas, misturar peixes maiores e menores, assim como peixes e pequenos camarões, pode não ser uma boa. Organize de forma segura, deixando os mais “parecidos” no mesmo recipiente. Isso é para que o “ruim” não se torne “ruim2”.
Ah, dois lembretes: 1) sempre utilize tampa, seja para balde, seja para qualquer outro recipiente e 2) se vir que o procedimento vai ser longo, providencie aeração para os baldes/recipientes, os peixes estarão estressados, consumindo mais oxigênio que o normal, e se eles forem grandes, o consumo é ainda mais acelerado.
Como este tipo de limpeza, traduzida como uma limpeza “esterilizadora”, sua preocupação se dará com a ação da amônia e com a recuperação da colônia de “bactérias do bem”. “E o que fazer agora? Todos meus peixes morrerão?” Se você não agir rápido, há essa possibilidade sim. Para evitar o pânico, cabe dizer que esta válida apreensão pode ser assistida por produtos disponíveis no mercado; produtos estes que fornecem diretamente ao aquário misturas apropriadas (em tipos e quantidades) de bactérias que auxiliam na estabilização, sem sofrer com as condições adversas de temperatura ou pH. Elas lhe darão o tempo que você precisa para a comunidade bacteriana se recompor – observação: não esquece de desligar filtros do tipo UV ou de ozônio neste momento, para evitar que eles eliminem tais ajudantes.
Aliado a isso, para receber as novas bactérias, tenha à disposição (ou adquira) produtos para remover o cloro e a cloramina, assim como um que converta a amônia numa forma não-tóxica. Não é porque você está com pressa e em apuros que a água da torneira virá com menos cloro e se tornará menos agressiva aos peixes.

Bem, deixo vocês aqui com bastante trabalho a fazer. Como vimos, limpar o aquário não é uma arte destinada aos mestres, mas sim apenas uma sequência de observações e procedimentos, os quais, caso você reúna os instrumentos certos, serão tirados de letra.

Muito obrigado pela audiência! Espero que o conteúdo tenha sido útil! Encontro vocês no próximo Sarlocast.

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