A recriação dos ambientes aquáticos naturais em nossas casas

Correria do dia a dia, buzina na rua, tristeza na TV, filho esperneando porque não quer espinafre, chefe cumprindo seu papel de emissário dos deuses (recolhedor de karma, inspirado para fazer você pagar por todas as vidas que você nem sabe se encarnou mesmo). Aí você para e pensa: “Corro pra onde, meu Deus?” Claro que Ele não vai responder porque você está devendo, lembra? Você vai se entregar? Não, iremos até o fim fazendo de nossa vida algo que valha a pena! Você até pensa em sair pra um refúgio na natureza, mas o dia a dia não permite. Assim, vamos falar de aquários, pois eles são capazes de nos fazer transcender para outras dimensões a apaziguar nossos corações. Por falar em transcender…

Como é o seu aquário aí? Olhe pra ele e pense sobre o propósito dele estar na sua casa. É do tipo “Taishishuan Multicolor Oxigenado”? Com aquele kinguio gordo e lento, arrastando aquele filete de “restos de ração” pelo aqua, cheio de pedrinhas coloridas e enfeites que soltam milhares de bolhinhas? Ou seria do tipo “Times Square”? Com espada, paulistinha, tricogaster, colisa, plati e molinésia, todas as espécies que você conseguiu comprar na loja e agora estão vivendo e passeando na mesma rua, numa confusa relação entre espécies, num carrossel de cores? A ideia aqui não é falar com desprezo de aquários que comumente encontramos por aí, mas sim trazer a ideia de “up grade” do hobby visando aumentar o seu próprio deleite ao olhar para o seu aqua. Uma nova experiência no aquarismo.

Se eu mencionar “biótopo”, o que vem à sua mente? Chato? Difícil? Caro? São palavras desse naipe? Se forem estas, podemos tentar desfazer o efeito, pois, provavelmente, você não teve a oportunidade ou curiosidade de pensar sobre e transformar o seu aquário num biótopo. Agora se a resposta é do tipo “não me interesso”, ok, é perfeitamente humano querermos apenas ter cores e formas flutuando no “cubinho” de vidro em nossas casas – não há culpa desde que você trate seus bichinhos com respeito e carinho.

O prazer diante de um biótopo: algumas sugestões de temas pra você
Tema: Rio Amazonas-Brasil. Imagine-se diante de um grande vidro, através do qual são revelados segredos submersos do imenso rio de nosso país. Nele contrastam pequenos neons, calmos e coloridos, com agitados rodóstomos com suas cabeças vermelhas como sangue; no alto, nuvens de machadinhas vagam pela superfície, enquanto, abaixo, reinando absolutos, estão as alegrias de seus olhos, os majestosos acarás-bandeiras, nadando em pequenos cardumes alinhados e sincronizados. Ao fundo, a exuberância do verde de plantas aquáticas, bailando ao sabor das lentas correntes fluviais, sendo entremeadas por troncos e raízes marrons, onde você vê um cascudo que estava escondido até então. Como aquarista, você soma à poesia de sua visão a certeza de que a água é cálida e está levemente amarelada pela decomposição de troncos e folhas, deixando o pH levemente ácido. O que te deixa ainda mais feliz, por saber que seus peixes também estão se sentindo bem.

Tema: Lago Tanganyika-Região Leste da África. Tal como mergulhar fundo no azul do lago, você põe sua seleção preferida de músicas e lança seu olhar no acinzentado das rochas. Você encontra, nesse mergulho, poucas plantas, mas, ao fazer uma pausa na submersão, vira a cabeça para o lado e se depara com um banco de areia que deixa as pedras e corre em direção a um berço de conchas amontoadas. Acostumados com sua presença, os peixes começam a sair. Sua visão é atiçada por um ponto alaranjado, forte como a cor de um peixe marinho, e você vê um leleupi deixando a fenda inferior de uma rocha. Ele observa uma julie listrada, com misturas de marrom e amarelo, mas ela está encantada com o cardume de leptosomas que passa sobre sua cabeça, como se fossem ondas da superfície, azuis, com os reflexos de sol em suas caudas amarelas. Quando você se dá conta, do berço de conchas emergiram dezenas de pequenas criaturas a observar tudo a volta, extremamente alertas. Naturalmente seus lábios se distanciam suavemente, num sorriso sereno. Aqui você vai lembrar do preparo da água que você fez com sais especializados e o layout tecnicamente pensado para abranger todas essas espécies com o menor nível de conflitos possível. Você se orgulha do trabalho bem executado.

É disso que se trata o aquarismo: o contato profundo do que há dentro de você, com os relances da vida natural lá fora, aquela que não temos como ir ver todos os dias, pelos mais diversos motivos, mas que nos faz falta. Concordo que não é o mais nobre dos mundos colocar peixes num aquário para o seu bel-prazer, todavia, pensando na importância que é essa busca humana por se reconectar com a natureza e, também, com os ambientes desse mundo sendo devastados, acredito que o aquarismo possa vir a ser algo importante; seja por fazer melhores humanos, seja por criar entusiastas com conhecimento suficiente para manter espécies em risco de extinção, caso isso seja possível um dia.

A Montagem
Não podemos esquecer que o princípio de todos os temas gira em torno da água em si. E como eu abordaria isso falando de biótopos? Não é difícil responder. Certas escolhas que alguns aquaristas farão os levará a desafios para o preparo da água, em muitos casos, especialmente para nós que vivemos em cidades, com seus apartamentos e casas, onde talvez não consigamos condicioná-la como queremos.

Nessas horas, é que recorremos a alternativas que nos ajudem a atingir os objetivos sonhados. Sabe-se, por exemplo, que nem todos que montam um aquário de ciclídeos africanos compram os sais prontos e, muitas vezes, procuram por sais como o comum bicarbonato de sódio para o pH e, para subir o GH, tentam o carbonato de cálcio. O detalhe de sais de cálcio é a dissolução, que é complicada. E a medida de cada um, como é? É seguro? Faço direto no aquário? Por que não usar aquilo que já tem resultados e testes em aquários? Estamos falando aqui de praticidade, lembra? Existem tamponadores de pH e corretores de dureza (Ca+2 e Mg+2) para casos assim. E tais produtos não estão limitados ao aquário de CAs, podem ser também utilizados em aquas plantados para auxiliar a fotossíntese das plantas e evitar as quedas bruscas de pH devido ao uso de CO2. São produtos versáteis e de fácil uso, ou seja, não precisa quebrar a cabeça para encontrar condicionadores para deixar sua água mais parecida com a do ambiente. E eles não se resumem apenas a estes citados aqui.

O Estudo
Para saber qual água você precisará condicionar, você já deve ter tido sua ideia e desenhado (mesmo que mentalmente) seu projeto, onde você sabe o que vai precisar, desde a água até os habitantes. Nessa sequência que estamos seguindo, de cabeça pra baixo, você pode ainda não ter se atentado, mas você precisa estudar os detalhes. Quais? Vamos a alguns exemplos.

Peixe é um nome genérico para milhares e milhares de espécies e é simples imaginar que peixes marinhos e de água-doce são diferentes. Nenhum deles vive bem comendo migalhas de pão, isso garantimos a você. Eles lutaram tanto em sua jornada evolutiva, se especializaram a comer, a respirar, a ver, a nadar e sua individualização deu origem às espécies. Cada peixe é diferente do outro. As espécies têm hábitos, algo que ao mesmo tempo pode ser bom e ruim. Como? Ok. Imagine que você ponha duas espécies de peixe que vivam no mesmo tipo de ambiente, comam a mesma coisa e até se pareçam. Facilita um bocado né? Já pensou que essa “igualdade” toda pode refletir na disputa pela mesma toca e pela comida? Nossos estudos andam por aí também, pois saber misturar espécies é tal como uma arte.

Livros, revistas especializadas, sites e fóruns confiáveis, encontros de aquaristas, há tanta informação disponível. Não pare na primeira coisa que você ler, continue, duvide, pergunte, veja as experiências de outros aquaristas. Isso poupa trabalho, dinheiro e vidas e você ganha na paz, satisfação e conhecimento.

O Conceito “Biótopo”
Por falar em tempo, você não precisa criar um conceito próprio sobre biótopo que você optou. Não pretendemos transformar ninguém em cientista, apenas incentivar o surgimento de entusiastas que se interessem pela reprodução de ambientes naturais. Assim, o “conceito” de biótopos para aquários pode se resumir em “transformar o aquário num ambiente que siga os preceitos naturais que encontramos no local de onde os peixes vêm”. Em resumo, o aquarista estuda – e estudar como um entusiasta, sem obrigação de estar fazendo aquilo, é uma experiência inexplicável – sobre o ambiente e sua ecologia (tipo de água, dieta, temperatura, layout e espécies) e tenta reproduzir aquilo em seu aquário. Certamente nunca, ou pelo menos na maioria dos casos, será a mesma coisa que na natureza, a começar pelo espaço, mas o aprimoramento da galera que curte isso impressiona às vezes.

A Escolha
Não há como ser diferente: você deve escolher algo que lhe dê prazer, que você goste de ver. Não importa se você quer ter um lago e nele queira botar bombas potentes para recriar locais de corredeiras para cascudos; um ambiente como o de um mangue, com peixes-arqueiros; um aquário de água mais fria, onde os filtros sejam capazes de cuidar de toda a sujeira de seus orandas deixando a água cristalina; recriar o ambiente para discos, como uma galhada numa água escura e pouco movimentada; os rochosos lagos do Malawi ou Tanganyika; ou quem sabe, um ambiente de água marrom para certos apistogramas; ou ainda o leito de um rio arenoso para barbos.

O limite para as ideias não é o céu, porque estamos falando de água, mas o oceano ou os grandes rios e lagos. Tenha todas as ideias possíveis. Saia para a rua para ver outros aquários, leias revistas com fotos, troque ideias, sonhe… esse é o caminho para você idealizar seu projeto. Terei prazer com que tipo de aquário? Peixes coloridos? Peixes com comportamentos interessantes? Plantas ou rochas ao fundo? Cada detalhe se soma ao final.

Regras para se ter um biótopo em casa
Anota aí o que você precisa: 1) um saco de milho para pipoca. 2) refrigerante ou a bebida do seu gosto. 3) seleção de músicas. 4) sofá ou cadeira confortável.
Come on! Não temos regras restritas, temos aqui é dedicação e vontade de reproduzir para os peixes algo que se assemelhe à realidade que ele encontraria se estivesse na natureza. E não há porque quebrar a cabeça achando que você nunca conseguirá obter os parâmetros adequados para condicionar sua água conforme o ambiente escolhido.

Ok. Agora ponha a pipoca pra estourar, pegue a bebida da sua escolha e vá para a frente do aquário apreciar. Chame amigos se quiser, junte a família, se apresente ao vizinho que você nunca conversou e chama ele. Esqueça da vida cotidiana um pouco, faça diferente!
Agradeço a audiência!

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