Filtros, o que eles fazem além de filtrar meu dinheiro para o lojista? A boa notícia é que temos muitos lojistas afim de fazer clientes felizes, que sabem oferecer as melhores marcas e produtos adequados a seus bolsos e interesses. Mas a melhor notícia é que investir em sistemas de filtragem eficientes e confiáveis é o mesmo que investir na qualidade da água do aquário, mantendo os peixes saudáveis, coloridos e com possibilidade de viver por longos anos. Águas cristalinas, sem “cheiro de peixe” no ambiente, mantendo em desenvolvimento apenas as bactérias do bem e removendo os dejetos, é isso que os aquaristas buscam, e isso só é possível se você entender e executar a filtragem de forma eficiente, o que significa dizer que, em seu aquário, seria recomendável que houvesse, ao mesmo tempo, as filtragens biológica, química e física.

Filtragem Biológica

Sou aquarista das antigas, mas não é por isso que eu diria pra vocês usarem os antigos Filtros Biológicos de Fundo (FBF), aquelas placas que enterrávamos sob o substrato e que puxava toda sujeira pra lá e por ali criava as colônias de bactérias do bem, que um dia fatalmente seriam destruídas completamente pela lavagem do aquário. A biologia (do aquário) hoje é melhor entendida como “manter colônias de microrganismos amigos trabalhando a sujeira, transformando compostos químicos mais agressivos para formas que podem coexistir com o resto do ambiente (plantas, peixes, crustáceos etc.)”. Tais “microrganismos amigos” são bactérias. E onde as mantemos? Principalmente nos filtros, colonizando toda e qualquer superfície, especialmente no que chamamos de “mídias filtrantes” (aquilo que colocamos dentro dos filtros: dentre os diversos tipos disponíveis encontramos bio-balls e rolos/anéis de cerâmica, os quais cito apenas como exemplo por serem realmente diversos em tamanhos, qualidades e marcas; e mesmo a função). O que tais mídias têm de especial? Poros. Sim, poros, como sua pele. O fato de ter poros aumenta significativamente a área superficial ou, de maneira simples, a quantidade de espaço onde as bactérias podem se estabelecer. Uma vez ali, elas começam trabalhar por nós. Dentre as bactérias desejáveis estão aquelas que agem sobre a amônia (NH3) e o amônio (NH4+), que, em altas concentrações, podem matar os seres no aquário (lembrando que existem espécies de peixes mais e menos sensíveis aos níveis desses compostos). As “bacs” nada mais fazem que transformar tais substâncias em outros compostos químicos, como os nitratos, que são formas que as plantas adoram (inclusive algas).

Por isso não seria estranho se você ouvisse algum aquarista dizer que os lugares onde estão essas mídias são como o coração ou pulmão do aquário. Nós não mexemos ali toda hora, nem lavamos com água da torneira sem piedade, tampouco deixamos expostos ao ar enquanto fazemos uma manutenção do aquário. Tal como um coração (e nós os cirurgiões), fazemos uma limpeza cuidadosa, com a própria água do aquário que iremos descartar em breve, removendo apenas o excesso de resíduos se ali houver. Devolvemos as mídias para o filtro e logo para o aquário.

Um filtro que muito usei e que adoro, mas que muitos não gostam, é o Filtro Biológico Modular ou FBM – aquele em formato de ¼ de círculo, que encostamos no fundo do aquário e colocamos uma Sarlo Better pra rodar. Vantagens que ele tem é que você pode dimensioná-lo de muitas formas, pois, uma vez que os módulos são removíveis, você decide a altura, além de poder ocupar os módulos com as mídias desejadas. O dimensionamento do poder de filtragem, também é fácil: calcule a vazão por hora em 4 ou 6 vezes o volume real do aquário. Para tal, se seu aquário tem 100 litros de volume real (desconsiderando o volume ocupado por rochas, substrato etc.) eu uso 3 bombinhas de 180 litros/hora em 3 distintos FBMs, ou seja, tenho 3 filtros (3×180) que em 1 hora filtram 540 litros de água. E isso initerruptamente, pois não devem ser deligados para preservar as preciosas colônias de bactérias.

Filtragem Física

Essa aqui qualquer pessoa que fez ou viu alguém fazer café pode entender. Filtragem física nada mais é do que você remover a sujeira grosseira do aquário, como folhas, dejetos, restos de comida etc. Essas coisas aqui não devem ficar nas mídias de filtragem biológica não, viu? Elas devem ser retidas pelas mídias de “filtragem física”, sendo a mais comum o perlon (aquela lãzinha branca). Esse perlon podemos até lavar algumas poucas vezes, mas normalmente trocamos por um novo. Só pra exemplificar e mostrar que não é só perlon que faz filtragem física, lembro que usei num aqua de ciclídeos do Malawi (que têm naturalmente uma fisiologia muito ativa = muita sujeira), de 250 litros, um FBM de 5 andares, onde mantinha perlon no superior e cascalho (de granulometria média e uniforme) no segundo, ambos para realizar filtragem física. Alguém arrisca qual bomba eu usava? Façam suas apostas! A resposta está apenas no podcast! Provavelmente vão errar, mas como dica daria duas: 1) havia dois outros filtros externos hang on para filtragem física e 2) a tal bomba misteriosa tocava junto do FBM um sistema caseiro de circulação de água chamado UGJ (Under Gravel Jat) – um circuito de canos de PVC que corre sob o substrato e dele saem pequena “torres” ao longo do caminho, as quais eu furo ao redor para criar os “jatos” de água. A boca da bomba estava acoplada nesse sistema de canos enterrados. De certa forma pode vir a parecer exagero, mas era justificável devido à quantidade maior de peixes, assim como seus tamanhos e sua própria atividade fisiológica.

Filtragem Química

Esse tipo de filtragem utiliza-se de propriedades do material ou de reações químicas para remover substâncias não quistas em nossas águas, sendo que algumas até já citei. É comum encontrarmos removedores de amônia, de nitrito, de silicato etc. que são adicionados diretamente na água ou mesmo sob a forma de mídias filtrantes, como as resinas. Porém, o produto mais comum e que possivelmente todos já ouviram falar é o carvão ativado. Sua efetividade e larga aplicabilidade são devidos a um processo chamado “adsorção”. Adsorção é relacionada a uma superfície porosa interna, capaz de reagir ou se combinar com substâncias dissolvidas na água, sejam elas gasosas ou líquidas, retendo-as. É justamente parte do processo, amplamente utilizado, para remoção odores ou gosto no tratamento de água. É tão eficiente que normalmente essa mídia é removida ou o filtro que a contém é desligado quando usamos remédios ou fertilizantes no aquário, tamanha é a capacidade de adsorver substâncias que ele tem. Ele é bem “ativo” sobre substâncias como cloro, cloramina, alguns compostos orgânicos como os que dão o “cheiro de peixe” na água, mas é pouco reagente com elementos como ferro ou manganês e substâncias como a amônia, nitritos e nitratos. Lembro que é pertinente você entender que uma vez que os espaços (poros) são preenchidos convém substituir o elemento, visto que ele passa a não mais colaborar.

Mais um detalhe sobre o carvão, na maioria das vezes os aquaristas buscam por carvões com baixa quantidade de fosfato ou ausência dele, pois tal substância é um nutriente, podendo facilmente desequilibrar as condições da água. É bom você conhecer boas marcas e muitas vezes isso está associado a empresas com tradição no mercado, já que para zelar pelo nome conquistado elas produzem com mais responsabilidade. Agora, se mesmo assim você não gostar do carvão ativado no seu aquário, não precisa jogar fora, você pode usar ele na sua geladeira pra remover aqueles cheiros ruins.

E por fim, é importante ressaltar que por melhor que seja seu filtro, por mais cuidadoso que você seja na limpeza dele, por mais sorte que você tenha, além das manutenções periódicas você deve primar pelas salvadoras TPAs, as quais, feitas na medida e da forma correta, concluirão o processo iniciado pelos filtros.

No mais, agradeço aos bravos ouvintes que permaneceram até aqui. Espero reencontrá-los nos próximos podcasts, onde continuaremos a falar sobre as centenas de temas dentro do aquarismo.

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