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Um dos mais conhecidos e montados aquários temáticos é o de peixes ornamentais chamados “jumbo” e nesse tema se destacam os ciclídeos centro-americanos, justamente porque, normalmente, são eles que possuem as cores e os hábitos mais atraentes nesse universo.
O termo “jumbo” se refere a peixes maiores que a média no aquarismo ornamental, normalmente iniciando nos 20 cm e indo até uns 50 cm – uma faixa onde estão inclusos os grandes peixes ornamentais de aquário.
Infelizmente esse também é um dos tipos de aquários que mais se enquadram na categoria MD (Mistureba Danada), pois são colocados neles todos os tipos de ciclídeos e peixes que as pessoas acham que são ciclídeos, além de bagres e cascudos, ou qualquer coisa que cresça muito. Só para lembrar algo que falei há tempos atrás, acentuo que esse tipo de mistura não-planejada não é apenas uma questão de chatice ou preciosismo de alguém, mas sim uma questão que considera parâmetros de água, dieta, comportamento e também tamanho dos peixes, “detalhes” que podem interferir demasiadamente no dia a dia e nos resultados do hobby.
No intuito de diminuir as confusões sobre o aquário de ciclídeos jumbo centro-americanos, começaremos falando sobre espécies que a população do aquário poderia esperar.
VENHO DA AMÉRICA CENTRAL
Dessa zona do continente americano derivam peixes cobiçadíssimos pelos aquaristas de todo mundo e certamente você já ouviu sobre alguns deles, ou mesmo viu fotos pensando “uau, que peixe lindo!”.
Foram reunidos aqui peixes de uma mesma região, que engloba a costa atlântica dos seguintes países: do sudeste do México (este é norte americano), Belize, Guatemala, Honduras, Nicarágua e Costa Rica…mas, por favor, notem a peculiares diferenças…
Mas o que realmente importa nessa mistura é combinar peixes que compartilhem condições de água e dietas similares, e nesse tipo de aquário, também conta o fator “aguentar o tranco”. As espécies possíveis ainda vão muito além das citadas aqui, mas não dá para evoluir mais devido à quantidade de astros. Dentre a constelação de estrelas, abro com uma das mais brilhantes estrelas:
Trichromis SALVINI
Começo de propósito com este peixe não só pela beleza e singularidade, mas pra puxar um outro assunto sobre a nomenclatura – sempre insisto no uso dos nomes científicos porque facilita a vida de todos, isso porque nomes vulgares acabam muitas vezes se repetindo em diferentes regiões, incluindo diferentes espécies sob o mesmo nome. Exemplo? Lambari. Saiba que dentro desse nome inocente estão englobadas muitas dezenas de peixes sob os gêneros Astyanax e Moenkhausia, ambos da família Characidae. Para nós aqui interessa o gênero Cichlasoma, que está em eterna revisão, por gerar insegurança aos taxonomistas, e é quase o Astyanax dos ciclídeos.
Por causa disso você poderá encontrar o Salvini sob o gênero Cichlasoma ou Nandopsis, e se seu texto for muito antigo, sob o gênero Heros. A despeito disso tudo, embora saibamos que a nomenclatura esteja sendo revista, lembro que quando escrevi o artigo em 2016, o nome válido para nosso amigo aqui ainda era Cichlasoma, segundo o Fishbase.org, nome que os outros peixes daqui perderam muito mais cedo na reclassificação, porém, chegou também a vez deste aqui…agora o gênero correto é Trichromis.
Sem perder o rumo, falávamos do Salvini, um dos menores ciclídeos que encontraremos aqui nessa terra de gigantes, sendo que o macho alcança 22 cm e a fêmea 15 cm. São onívoros, preferem águas correntes de rios e exibem um destacado amarelo no corpo, cortado por faixa escura longitudinal. Alimentam-se preferencialmente sobre macro-invertebrados e pequenos peixes.
ROCIO OCTOFASCIATA
Antes Cichlasoma hedricki, é um dos mais famosos para nós brasileiros: você o conhece como Jack Dempsey. Ilustre, mas também nanico (25 cm) e onívoro. Suas escamas têm iridescência verde e algumas amarelas, porém, existe uma variedade com belíssimas luminescências azuis, que contrastariam muito bem com o amarelo de nosso amigo de cima. As águas de seu habitat tendem a ser turva e pantanosa, em regiões com muita vegetação e de fundo lamoso. Alimenta-se sobre vermes, crustáceos, insetos e peixes.
THORICHTHYS MEEKI
Boca de Fogo. É assim que é chamado, um daqueles lambaris dos ciclídeos que antes de trocar o RG era chamado de Cichlasoma meeki. É o menor da turma, com apenas 17 cm, e também é o menos agressivo. Este é um clássico dos ciclídeos e chama atenção pelo contraste de sua “papada” vermelha incandescente, em contraste com seu corpo acinzentado. Ele foge de nossa definição de jumbo, mas tem povoado os aquários centro-americanos desde sempre. Peixe onívoro, mas que tem a maior base de sua dieta em itens vegetais. Prefere fundos arenosos ou de lama, com fluxo de água lento, resguardando-se próximo a zonas vegetadas.
PARACHROMIS MANAGUENSIS
Outrora denominado Cichlasoma managuensis, é conhecido pelo seu poderoso codinome “Jaguar”, devido ao seu padrão de coloração. Este fica bem grande, atingindo uns 55 cm e é um predador ativo que ocorre tanto em cursos de água turbulentos como em águas lacustres com elevada eutrofização (água turva e rica em nutrientes – nitratos, fosfatos e tudo mais que sempre se pede pra você se livrar). O hábito predador exacerbado talvez seja incentivado pelo grande porte, sendo voraz predador de peixes e de macro-invertebrados.
vieja melanura
Antigo Cichlasoma synspilum e também Paraneetroplus synspilus, conhecido lá fora como Redhead Cichlid (Ciclídeo de Cabeça Vermelha), também é dos grandes com 35 cm. Habita lagos e rios de fundo arenoso, que podem ter alguma influência marinha, ou seja, tem uma leve tolerância à salinidade. Fuçam o substrato à procura do seu alimento: tudo aquilo que se desenvolva nessa superfície, como pequenos crustáceos, detritos e grande quantidade de material vegetal – os aquaristas que o mantém dizem que não apresenta problemas com o fornecimento de ração para ciclídeos jumbo.
AMPHILOPHUS CITRINELLUS
Você o conhecia como Cichlasoma citrinellum, ou simplesmente Citrinelo ou ainda Ciclídeo Midas. O amigo aqui é onívoro e atinge os 25cm, enquanto sua coloração natural gira em torno do cinza, marrom e preto, as cores no hobby estão entre o laranja, dourado, vermelho e branco. Tem uma peculiar identificação nos peixes machos, cuja cabeça adquire um enorme calo, que é uma característica sexual secundária. Seu ambiente é de lago, o qual possui muitas rochas com cavidades, onde definem seus sítios de reprodução. São onívoros, dedicando-se a revolver o fundo atrás do que encontrar, especialmente moluscos, vermes, larvas de inseto e algas, embora também curtam uns peixinhos de vez em quando.
Outros ciclídeos são vistos nesses aquários de peixes jumbo que falei até aqui, mas esses não pertencem ao ambiente centro-americano. Casos típicos são a presença do Oscar (Astronotus ocellatus), do Uaru (Uaru amphiacanthoides) ou do Severo (Heros severus), que são peixes da bacia amazônica – que possui parâmetros de água diferentes e não seria conveniente começar um aquário de centro-americanos fazendo uma MD, não é mesmo?
VOU PEGAR TODOS OS PEIXES CITADOS E COLOCAR NO AQUÁRIO!
Não seria bem assim. Se você reparou bem no que falei, mesmo sendo eles dos mesmos países ou regiões contíguas, dá pra notar diferenças como alimentação, salinidade, tipo de substrato e por aí vai…são justamente esses os “detalhes” que falava no começo e que podem fazer a diferença. Temos, porém, pontos positivos que já permitem uma mesclagem: os parâmetros de água como o pH, a dureza e a temperatura podem ser postos num meio termo que engloba todos eles.
Além disso, considerando “Ciclídeos” e o “tamanho grande” dos jumbos, é importante atentar pra duas coisinhas: agressividade e cuidado com a qualidade da água. Diz-se que com aumento do tamanho dos peixes, a agressividade também sobe; para ser honesto, sobem ainda a periodicidade de trocas parciais de água, o tamanho dos aquários e a potência das bombas. Por motivos assim é que esses aquários são indicados para pessoas com um pouco mais de conhecimento e tempo no hobby, por exigir mais atenção e esforços.
Antes de você encher seu aquário com água, deixe-me perguntar algo: qual o tamanho dele? Se você já ouviu por aí “tamanho não importa”, saiba que para nosso assunto jumbo, sim, importa! Trata-se de um fator essencial, uma vez que atua diretamente no controle da agressividade, e por isso firmamos um mínimo: aquário de 120x50x60 cm – são necessários pelo menos 360 litros (300 litros úteis). E é mínimo mesmo, pois não comporta, por exemplo, um casal de cada espécie que citei, é espaço para 4 ou 5 indivíduos, dependendo da espécie.
Rochas e troncos são altamente recomendados, pois aqui lidamos com espécies de alto potencial agressivo, que atinge seus ápices de “maldade” quando estão em reprodução – com ciclídeos isso facilmente acontece. Há quem use resina epóxi (atóxica) para prender os troncos e rochas, pois com peixes desse tamanho mexendo nas coisas a chance de desmoronamentos aumenta.
Para o aquário de centro-americanos, embora os peixes sejam resistentes e robustos, recomenda-se água tropical entre 23 e 30ºC, pH entre neutro e ligeiramente alcalino (7 a 8), sendo que a dureza pode variar bastante (incluindo águas bem duras), mas um valor de 10 abarcaria quase todas as espécies citadas, com exceção do Boca de Fogo, que frequenta ambientes de água mole ou de dureza mediana.
Por se tratar de peixes grandes, cuja fisiologia corresponde ao seu tamanho, trocas parciais semanais de 30% são indicadas para manter a saúde da água e, claro, dos peixes que nela nadam. Se você tiver como montar um sump, faça-o, pois aumentar o volume e a filtragem desse tipo de aquário tem suas vantagens. Em aquários de grande porte, para dar uma vazão adequada, utilize uma bomba com poder na ordem de 2 mil litros/hora. Adicione também um filtro de UV para diminuir as algas verdes, que provavelmente virão.
Se houver espaço em sua residência para um aquário desses, apenas felicidade o aguarda. Magníficos em formas, hábitos e cores, os ciclídeos centro-americanos preenchem nossa expectativa “hobbística”. Não são peixes de difícil trato, mas sua agressividade e tamanho os tornam passíveis de atenção. E por falar em atenção, agradeço a sua. Obrigado pela audiência!
Com Bravo de Bravura, e não de Braveza, Johnny Bravo (João Luís), escreve para revistas especializadas e para o blog da Sarlo há um cadim de tempo. Nessa jornada Julioverniana, após 20 Mil Léguas de textos, agora ele também desenvolve os roteiros para os vídeos de chamada do Sarlocast, onde você pode ouvir a sensual voz desse aquaman (tradução: homem de aquários).
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