Num dos países mais biodiversos do mundo, quando falamos de espécies ornamentais para aquário, não nos referimos apenas a uma família ou a um conjunto razoável de espécies, mas sim de algo muito maior que isso. Temos, como candidatos aos aquários, representantes das famílias Cichlidae, Characidae, Loricariidae, Poecilidae e por aí vai… e não é pouca coisa não, são centenas de espécies entre peixes de cardume (neons), peixes elétricos (ituí-cavalo), peixes que grudam nos vidros (limpa-vidros e cascudos), em forma de disco (acará-disco), fusiforme (rodóstomo) ou meia lua (acará-bandeira)… Sim temos um mundo de opções que vão desde killifishes, passando por tetras, apistos e pequenos peixes de cardume e chegando aos ciclídeos jumbo. Ou seja, todos os universos imagináveis e desejáveis.

Daí dá para perceber que tudo o que podemos imaginar sobre aquarismo temos como refletir num aquário brazuca, digamos assim. Isso mesmo que você ouviu e eu tô falando tanto de peixes como da questão dos ambientes em que esses peixes vivem. Pode ficar tranquilo que eu vou dar uns exemplos.

A primeira pergunta seria: o que eu preciso ter para montar um aquário brazuca? Só para não parecer uma pergunta óbvia, eu estou me referindo a pensar exatamente em quais as espécies de plantas e de peixes, e porque não rochas e outros ornamentos naturais, que eu preciso comprar ou adquirir (não estou falando de coleta não hein, porque para isso você precisa de autorização dos órgãos ambientais; estou falando de oportunidades tipo a de um colega que pode te dar um peixe ou uma planta). Já dá para perceber que mesmo falando no sentido amplo “aquário brazuca” já precisamos ter um certo conhecimento sobre a origem dos seres vivos que colocaremos nesse aquário, então, deixe sua curiosidade fluir em busca das espécies certas (claro que vou citar umas ou você achou que te deixaria na mão?).

Ok, vamos lá, mas vamos começar por tópicos que contemplem vários tipos de aquário e não somente um. Vamos começar pela parte que provavelmente não seria por onde você começaria a pensar: rochas. Já vou adiantar que essa dica aqui serve para todos os tipos de aquário que você pode pensar em montar. Bom se você não conhece já de cara as rochas, o melhor dos cenários é não se surpreender colocando uma rocha qualquer no aqua, certo? Pensando assim, o que seria considerar uma “rocha adequada”? Claro, pois colocar uma rocha no aquário não se resume apenas em achá-la bonita, jogar uma aguinha de torneira para tirar o pó e está tudo certo. Existem rochas que alteram os parâmetros da água, tanto acidificando-a quanto alcalinizando-a, assim como as que não interferem.

Por isso, para os efeitos deste podcast, que trata de uma temática abrangente, sempre serão preferíveis as rochas ditas “neutras”, ou seja, aquelas que não interagem com a água. De antemão já dá para citar tipos de rochas desse tipo, como a ardósia ou o granito. Ademais, a preferência recai sobre rochas constituídas de quartzo e você pode encontrá-las sob a forma de quartzo puro ou até madeira petrificada (uma variedade que se encontra em lojas de aquário de vez em quando e se trata do resultado de um processo geológico que cristalizou a madeira, substituindo a matéria orgânica por quartzo).

Essa dica serve para evitar colocar rochas que possam soltar elementos como magnésio ou cálcio e assim promover alteração de pH e dureza, algo prejudicial para alguns tipos de montagem. Você deve estar se perguntando: “como sei que uma rocha é neutra?” Pois bem, para saber se ela vai mexer nos parâmetros da água apanhe vinagre, ou mesmo o acidificante de aquário, e pingue algumas gotas sobre a rocha, se espumar não serve para a maioria dos aquários…pois elas seriam do tipo “calcárias” e serviriam apenas se o aquário montado foste algum tipo que exige se água alcalina e dura.

Já que estamos falando de dicas, três coisinhas para considerar quando se usam pedras maiores no aquário: 1) use um anteparo entre a rocha e o vidro do fundo, para não criar alguma pressão diferencial; 2) quartzo é mais duro que o vidro e pode riscá-lo, cuidado ao manuseá-lo quando ajeitando a rocha no aquário; 3) quanto mais rochas, mais zonas mortas (sem circulação de água) serão formadas, pense num método de fazer a água circular adequadamente, seja com o uso de alguma bomba submersa a mais, seja com um sistema UGJ (Under Gravel Jet). Fica a dica!

Acabou? Na na nina não… é importante também pensar em substrato. Não se iluda pensando que é tudo a mesma coisa. Tal como as rochas, a “areinha ou pedrinha” do fundo (pode chamar como quiser) também pode influenciar nos parâmetros da água e além de possuir outros detalhes a serem observados. Tanto é verdade que um tipo de substrato muito procurado é a areia de filtro de piscina, pois são grãos uniformes de quartzo inertes quando em contato com a água. Agora, quando falamos em aquário amazônico, por exemplo, já pula em nossa mente a imagem de plantas aquáticas e para que cresçam será necessário um substrato fértil; na maioria das vezes tal substrato existe por debaixo do substrato inerte (esse que eu falei agora, a areia de filtro de piscina). Quer dicas para cá também? Dica número 1: se houver no seu aquário essa distinção entre substrato fértil e inerte procure evitar peixes que façam escavações no substrato do aquário. Dica número 2: sempre é melhor ter no aquário um substrato que tenha os grãos uniformes, isso ajuda tanto os peixes a coletar o alimento que afundou e parou ali, quanto favorecer a limpeza na hora que você está sifonando.

Ainda em assuntos gerais, para escolher troncos e raízes deve-se optar por aqueles exemplares mais retorcidos (efeitos estéticos e também funcionais) e que estiveram submersos – para facilitar sua vida. Dentre os utilizados, um dos mais procurados é o de aroeira, pois se decompõe com mais dificuldade e “preserva” a água nesse quesito facilitando a manutenção a ser dada pelo aquarista (preserva entre aspas mesmo, porque itens vegetais submersos ocasionam acidificação da água, visto que se decompõem cedo ou tarde). CUIDADO: jamais pegue um item na natureza ou numa loja e ponha-o diretamente no aquário…a quantidade de parasitas e seres indesejados que se espalhará pelo aqua o assustará; trate-o devidamente antes de sua inserção, ou seja, ferva e esfrie algumas vezes, sempre trocando a água.

Agora que você já sabe como escolher itens para decorar e criar um layout adequado para o seu aquário, me utilizarei dos termos mais conhecidos dos ambientes aquarísticos para dar ideias de aquários que se pode criar a partir de temáticas nacionais.

Acho que nem poderia ser diferente o meu começo:
Aquário amazônico: um dos mais comumente citados, este aquário talvez misture os mais aceitos tipos de ornamento: me refiro à troncos, raízes, plantas de folha larga, plantas diminutas, rochas, assim como os peixes das mais variadas formas cores e comportamentos… ou seja, aqui você tem do bom e do melhor. Para saber que peixes e plantas colocar, deixei nos quadros ao fim do texto que está escrito no blog alguns nomes para nortear suas escolhas, mas como nem todos lerão posso mencionar peixes como os néons, o acará-bandeira, o acará-disco, uma infinidade de apistogramas, borboletas, zepelins e plantas como vários tipos de Echinodorus.

Aproveitando que citei os apistos, ainda vou puxar outra linha de especificidades, que é o tipo de água. O seu aquário amazônico pode ainda possuir uma caracterização a partir das qualidades da água a ser utilizada. São elas: água negra (black water) que é a água com aquele aspecto de chá mate, caracterizada por ser pobre em nutrientes (minerais dissolvidos), ácida e possuir tanino, devido a decomposição vegetal; água branca (white water), que ao contrário da água negra é rica em nutrientes, matéria dissolvida e em suspensão e normalmente túrbida, com o pH mais alto, tendendo ao neutro; e, por fim, água clara (clear water), que seriam águas mais próximas às negras com exceção da cor. Caso você tenha interesse em saber mais sobre isso, consulte o nosso podcast sobre apistos, acho que foi o segundo.
Galhada: outro tipo de aquário que de certa forma também pode ser considerado um aquário amazônico, pois os entendidos em Acará disco já conhecem muito bem esse tipo de aquário. Grosso modo, ele é formado apenas por um emaranhado de raízes submersas, mas obviamente você não está restrito a não ter plantas para fazer companhia aos peixes, lembre-se que existem muitas plantas epífitas que podem ficar aderidas aos galhos.

Corredeiras: sempre que posso cito este aquário, pois é um dos que quero montar um dia. Serve muito bem para tipos de cascudos que vivem nesses ambientes de água rápida (ressalto que nem todos vivem em ambientes assim) e para você montar um desses sugeriria uma exposição de rochas em desnível bem acentuado com bombas possantes e submersas, que sejam capazes de trazer a água de um nível mais baixo para um nível mais alto, donde água começa a correr imitando o fluxo turbulento de um ambiente desses. como adiantei, nunca projetei algo assim, mas imagino que deveria haver um sistema de canos ou mangueiras te pudessem captar a água no nível mais baixo – seria bem interessante que essa água de retorno passasse por algum filtro para evitar a redistribuição de sujeira.

Fundo de Rio: para essa temática pensava que comigo um fundo de Areia, rochas esparsas, alguns troncos e por ser o rio um local com movimentação de água, é bem possível que nem todas as plantas possam se adaptar e também que algas filamentosas possam se formar. Para a movimentação da água é fácil, usamos bombas submersas; para evitar muitas algas filamentosas, as dicas mais preciosas seriam: poucos peixes, ótimos filtros e peixes que possam ajudar no consumo dessas águas, como cascudos e limpa-vidros.

Fundo de folhas: tipo de aquário muito comum para quem conhece os apistogrammas, ou somente apistos. Será praticamente impossível você fugir da água “cor de chá”, justamente devido ao fundo arenoso ser coberto de folhas. Normalmente a densidade populacional de peixes é baixa, assim como também o é a movimentação de água. dessa forma, procure um filtro capaz de fazer um bom serviço sem, no entanto, ficar revirando as folhas depositadas no substrato.

Comunitário: relutei bastante, mas percebi que era impossível fugir dessa temática, pois nem todo mundo tem tempo, paciência ou mesmo oportunidade de comprar peixes de um bioma apenas, então, por que não tentar selecionar peixes nacionais que consigam conviver? Nesse caso vou deixar o trabalho para você mesmo. Sugiro a você procurar dentro dos quadros que fiz nomes de peixes que te interessam e buscar por informação apropriada em outras fontes. As dicas são: prefira peixes que não cresçam muito, que não sejam violentos, que não destruam decoração, que tenham um pH similar, assim como a alimentação e temperatura de água.
Os tipos de aquários não param por aqui não, mas eu já tenho que pensar em como terminar este podcast, pois a sua paciência eu sei que acaba. E é por isso que já vou tentar migrar para os “finalmentes”.

Espécies Brazucas
Não poderia terminar este podcast sem antes exemplificar que espécies podemos encontrar em lojas de aquário e que são portadoras de RG nacional. Nos quadros abaixo tive o cuidado de separar peixes e plantas, colocar os nomes comuns e científicos, além de alguns comentários. Mas isso não descarta a tarefa que estou lhe dando para ir mais a fundo na pesquisa, identificando para as espécies os seus ideais em termos de pH, temperatura, alimentação, entre outros parâmetros. Na verdade, a graça do aquarismo está em se aprofundar, mergulhar e desvendar os segredos e maravilhas, distribuídos nos mais inusitados lugares – pode acreditar que estou sendo seu amigo.

Para você que está ouvindo, e não lendo o blog, e deve estar aí na academia, malhando e suando, ou passeando no parque, ou só fazendo uma pausinha para o almoço, assim que puder volte aqui no blog e dê uma olhada nesses quadros que criei, eles podem te dar um rumo. Confere lá!

Agora, você perceberá que tem muito mais peixes do que plantas, isso tem explicação: humildemente assumo que não conheço tão bem plantas como conheço peixes; triste realidade, mas vamos em frente, não é mesmo? Melhor do que ficar inventando coisas e fingindo que sei, isso estaria distante das ideias que trago para os podcasts. Outro detalhe: boa parte das plantas que poderia citar não fazem parte do elenco nacional.
Aos Quadros!

Peixes ornamentais brasileiros

Peixe Nome científico Família Distribuição Natural no Brasil Tipo de ambiente e Observações
Guppy Poecilia reticulata Poecilidae Norte do Brasil Rios e riachos com fluxo constante de água, canais vegetados, lagos, de água cristalina ou com certa turbidez, todavia, sempre com água aquecida. Não misturar com outras espécies. 
Acará-Bandeira Pterophyllum scalare Cichlidae Bacia do Rio Amazonas. Rios, riachos e terrenos alagados repletos de vegetação, com água clara ou com material em suspensão. Gostam de viver em pequenos cardumes.
Cacatuóide Apistogramma cacatuoides Cichlidae Bacia do Rio Amazonas. Originalmente de água negra, com pH: 6 a 8 e temperatura: 24 a 25°C
Borelli Apistogramma borellii Cichlidae Bacia do Rio Paraguai (Pantanal) Um dos mais lindos e pacíficos apistos; pH: 6 a 8; temperatura: 24 a 25°C
Loricária Loricaria simillima Loricariidae Bacias Amazônica e Prata. Criar um layout que considere cavidades e cavernas 
Coridora leopardo Corydoras julii Callichthyidae Bacia Amazônica e rios costeiros da região Nordeste. Lagos, rios e riachos. Zonas plantadas e zonas mais abertas são desejáveis no aquário. 
Ituí-Cavalo Apteronotus albifrons Apteronotidae Bacia do rio Paraná. Peixe elétrico e de hábitos noturnos. Vive em rios e riachos com fluxo constante de água e de fundo arenoso. Fica bem grande!
Lápis Nannostomus eques Lebiasinidae Bacia Amazônica. Peixe pacífico e de cardume que ocorre em áreas tanto de rio como de água lenta, mas sempre bem vegetada. 
Limpa-vidro Otocinclus affinis Loricariidae Rio de Janeiro. A existência de algas sobre pedras e troncos é importante.
Machadinha Carnegiella marthae Gasteropelecidae Rio Negro (Bacia Amazônica). De aspecto singular, gosta de frequentar a superfície da água, pois isso aquário com tampa, viu?!
Mato-grosso Hyphessobrycon eques Characidae Bacias dos rios Guaporé, Amazonas e Paraguai. Aglomeram-se em zonas de calmaria de rios, ficando ao redor das hastes de plantas emersas ou de moitas de vegetação submersa.
Neon Cardinal Paracheirodon axelroldi Characidae Rio Negro (Bacia Amazônica). Gosta de nadar em cardumes pelo meio d’água.
Oscar Astronotus ocellatus Cichlidae Bacia Amazônica. Águas calmas e rasas, com fundos lamacentos ou arenosos, assim como lagoas. Come qualquer coisa que caiba em sua boca: cuidado ao misturar peixes menores que ele!
Rodóstomo Hemigrammus rhodostomus Characidae Bacia Amazônica. Muito ativos. É recomendável que haja espaço para eles nadarem pelo aquário – sempre em cardumes.
Acará-Disco Symphysodon discus Cichlidae Bacia Amazônica, destacando os rios Negro, Abacaxis e Trombetas. São tímidos na maioria das vezes e, por isso, deve-se pensar bem que peixes podem fazer companhia a eles. Adoram o ambiente de galhada.
Tetra Negro Gymnocorymbus ternetzi Characidae Bacias dos rios Guaporé e Paraguai. Nadando entre a superfície e o meio d’água. Apreciam cardumes.
Planta Nome científico Família Origem / Distribuição  Tipo de ambiente e Observações
Ludivídia Ludwigia inclinata Onagraceae *** Planta de crescimento rápido e ela é avermelhada, linda! Iluminação intensa. pH 5 a 7. Temperatura 22 a 30ºC
amazonense Echinodorus spp. Alismataceae *** Como são espécies diferentes, aqui vão dicas gerais que devem ser melhor estudadas: Iluminação moderada a intensa. pH 6 a 9. Temperatura 20 a 30ºC
cabomba Cabomba caroliniana Cabombaceae América do Sul Cresce pra caramba! Iluminação intensa. pH 5 a 7. Temperatura 18 a 26ºC
elodea Egeria densa Hydrocharitaceae Cosmopolita Cresce bastante, precisando de podas frequentes. Iluminação moderada a intensa. pH 5 a 10. Temperatura 10 a 26ºC

E assim agradeço uma vez mais sua audiência, esperando te encontrar no próximo podcast! Até lá.

 

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